- Jonathan Amos
- Repórter de ciência da BBC
Um fóssil do mais antigo predador conhecido foi identificado por cientistas do Reino Unido.
O espécime de 560 milhões de anos, encontrado na floresta de Charnwood, em Leicestershire, é provavelmente um precursor dos cnidários — o grupo de animais que hoje inclui as águas-vivas.
Os pesquisadores deram o nome de Auroralumina attenboroughii ao fóssil. É uma homenagem ao naturalista David Attenborough, histórico apresentador da BBC.
A primeira parte do nome é uma referência a uma expressão do latim que significa “lanterna do amanhecer”.
“Acho que ele parece uma tocha olímpica, com seus tentáculos sendo as chamas”, afirma Frankie Dunn, da Universidade de Oxford, que escreveu um artigo sobre a descoberta na revista Nature Ecology and Evolution.
O fóssil não apenas situa as evidências de predação no reino animal em cerca de 20 milhões de anos antes do que se pensava como também é provavelmente o primeiro exemplo de um organismo do tipo com um esqueleto verdadeiro.
O contorno da criatura de 20 centímetros de altura ficou em uma laje longa e inclinada de uma pedreira, cercado por outros fósseis.
Acredita-se que todos foram enterrados por um fluxo de sedimentos e cinzas que desceu pelo flanco submarino de um antigo vulcão.
A área onde estava o fóssil foi originalmente descoberta em 2007, quando os pesquisadores limparam a face rochosa de Charnwood com mangueiras de alta pressão.
Levou 15 anos para que eles entendessem o local — só então encontraram a posição exata onde estava o Auroralumina.
A região de Leicestershire é famosa pelo que nos diz sobre o período conhecido como Ediacarano (635 a 538 a milhões de anos atrás).
Este é o período da história geológica que imediatamente precede o Cambriano, que testemunhou uma grande explosão em número e diversidade de formas de vida na Terra.
Foi no Cambriano (entre 538 e 485 milhões de anos atrás) que o “modelo” para muitos grupos de animais modernos foi fixado.
Mas o Auroralumina prova que o seu agrupamento, os cnidários, tem uma herança que se estende a um passado mais remoto, até ao Ediacarano.
“É um forte indício de que existiam organismos de aparência mais moderna no Pré-Cambriano. Isso significa que o ‘pavio’ para a explosão cambriana foi provavelmente bastante longo”, explica Phil Wilby, líder de paleontologia do Serviço Geológico Britânico.
Embora o nome “cnidaria” possa não ser tão familiar, os animais que fazem parte dessa categoria são bastante conhecidos: corais, águas-vivas e anêmonas. Uma de suas características são as células urticantes que eles usavam para capturar suas presas.
A análise de Dunn das características de Auroralumina liga o animal ao subgrupo medusozoa dentro dos cnidários.
Os medusozoários passam por vários estágios ao longo de seus complexos ciclos de vida. Em um deles, parecem uma massa ancorada no fundo do mar. Mais tarde, eles se transformam em criaturas flutuantes no período de reprodução.
Durante esse estágio de flutuação, eles tomam uma forma de guarda-chuva com tentáculos urticantes. Eles se tornam uma espécie de água-viva.
A Auroralumina, portanto, se assemelha mais a um medusozoário em seu estágio imóvel e enraizado.
Descoberta incompleta
“O que é realmente interessante é que o animal se bifurcava. Então você tem esses dois ‘cálices’ presos perto de sua base, e havia um pedaço contínuo de esqueleto descendo até o fundo do mar, mas esse pedaço nós não encontramos. Infelizmente, o fóssil está incompleto”, disse Dunn.
A bifurcação — a divisão em dois ramos ou partes — é outra novidade no fóssil recém-descoberto.
Os paleontólogos de todo o mundo visitam a Floresta Charnwood.
Sua principal atração é o fóssil conhecido como Charnia masoni.
Este foi encontrado na década de 1950 por dois estudantes — Roger Mason e Tina Negus — e foi o primeiro fóssil pré-cambriano a vir à luz.
A Charnia também foi posteriormente encontrada nas rochas que compõem as colinas de Ediacara, na Austrália, que dão nome ao período ediacarano.
Ela tem uma forma de vida de aparência estranha, semelhante a uma folha de samambaia, mas os cientistas estão convencidos de que ela de fato era algum tipo de animal.
Há também um exemplo da Auroralumina de apenas 40 centímetros na mesma localidade.
O nome de David Attenborough foi usado para batizar o animal porque ele cresceu nessa região central da Inglaterra.
“Quando eu estava na escola em Leicester, eu era um ávido caçador de fósseis”, lembrou ele.
“As rochas nas quais a Auroralumina foi descoberta eram consideradas tão antigas que datavam de muito antes do início da vida no planeta. Então, nunca procurei fósseis por lá”, afirmou.
“Alguns anos depois, um menino da minha antiga escola encontrou um fóssil e provou que os especialistas estavam errados. Ele foi recompensado: seu nome foi usado para batizar a descoberta. Agora eu quase o alcancei e estou realmente encantado”, diz Attenborough.
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