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Queda de barreira bloqueia pista no sentido Painel – Lages, em Santa Catarina

  • Author, Giulia Granchi
  • Role, Da BBC News Brasil em São Paulo
  • Twitter, @GranchiGiulia

A passagem de um ciclone extratropical causou mortes e estragos em cidades do Sul e do Sudeste brasileiro desde a noite de quarta-feira (12), quando o fenômeno — acompanhado de fortes ventos e queda da temperatura — começou a se intensificar.

Nesta quinta-feira (13), ao menos três mortes relacionadas ao ciclone foram confirmadas por órgãos estaduais.

No Rio Grande do Sul, um idoso de 68 anos morreu na cidade de Rio Grande depois que sua casa foi atingida pela queda de uma árvore. No Estado de São Paulo, na cidade de Itanhaém, a queda de um galho sobre a fiação fez uma idosa de 80 anos levar um choque elétrico e morrer; e na cidade de São José dos Campos, uma mulher de 24 anos faleceu depois que o carro de autoescola em que ela estava foi atingido por uma árvore.

Na noite de quinta-feira, o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) considerava em situação de “perigo” por eventos metereológicos (declínio de temperatura, ventos costeiros e/ou vendavais) todo o território dos Estados de Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná, São Paulo, Rio de Janeiro e Mato Grosso do Sul.

Também foram consideradas em perigo partes de Minas Gerais, Espírito Santo, Goiás, Mato Grosso, Rondônia, Acre e Amazonas.

Na noite anterior, de quarta-feira, o instituto havia emitido um alerta vermelho, considerado de “grande perigo”, para as faixas próximas à costa do Rio Grande do Sul e de Santa Catarina. Contudo, já era esperado que outros Estados pudessem sentir também os impactos do ciclone.

Além das mortes, os Estados registraram diversas ocorrências:

  • Rio Grande do Sul: 23 feridos, 234 desabrigados e 331 desalojados; 52 municípios atingidos por chuvas volumosas; queda de granizo; mais de 825 mil pessoas enfrentaram falta de energia elétrica na quinta-feira.
  • Santa Catarina: Rajadas de vento chegaram a 157,4 km/h na cidade de Siderópolis; houve destelhamentos e estradas bloqueadas, como a BR 282.
  • Paraná: Casas danificadas e quedas de árvores.
  • São Paulo: 179 chamados para queda de árvores na quinta-feira.

Os ciclones extratropicais são centros de baixa pressão atmosférica que se formam fora dos trópicos, em médias e altas latitudes, segundo explica Estael Sias, meteorologista do MetSul Meteorologia.

“Ele é formado pelo contraste de massas de ar quente e frio. Parte da sua ação é sugar toda a umidade pra essa região do centro de baixa pressão e jogar para a atmosfera, resfriando e transformando a umidade em nuvens. É nesse processo que o fenômeno espalha chuva e vento”, diz Sias.

De acordo com o Inmet, a configuração do novo ciclone extratropical se deu entre terça-feira (11) e quarta (12/7), por meio de área de baixa pressão continental posicionada entre o norte da Argentina e o Paraguai, que ganha força e deve avançar sobre o Sul do Brasil.

Em relação às chuvas, há possibilidade de acumulados entre 70 a 100 milímetros no Rio Grande do Sul e Santa Catarina.

“É importante ressaltar, para comparação, que o esperado para todo o mês de julho em alguns municípios gaúchos era o total de 150 milímetros. Depois de um fim de semana que já foi chuvoso, ter esse volume alto pode prejudicar áreas urbanas, aumentando o risco de alagamento, além de impactar nível de arroios e rios importantes”, afirma a meteorologista.

Como se proteger

Em áreas mais afetadas, as recomendações pedem maior cautela. Abaixo, como exemplo, estão os conselhos da Defesa Civil de Santa Catarina:

Alagamentos

  • Evite contato com as águas;
  • Não dirija em áreas alagadas;
  • Evite pontes submersas e pontilhões;
  • Redobre a atenção com as crianças.

Deslizamentos

Fique atento:

  • A postes e árvores com inclinação;
  • Qualquer movimento de terra ou encostas próximo à sua residência;
  • Aparecimento de rachaduras em muros ou paredes.

Ventos fortes

  • Busque um local abrigado, longe de árvores, placas, postes e outros objetos que possam ser arremessados;
  • No local abrigado, fique longe de janelas.

Comuns na história climática brasileira, os ciclones extratropicais costumam se formar no extremo sul do país, entre o Rio Grande do Sul e Argentina e Uruguai, países vizinhos.

Seus ventos são mais fracos e seus efeitos têm duração menor em comparação com os ciclones tropicais.

“Ciclones extratropicais no Oceano Atlântico se formam toda semana, dezenas deles às vezes. Mas é comum que se formem perto do polo sul, muito distante. Por isso não mencionamos na previsão do tempo – um ciclone extratropical a mil quilômetros da costa não vai causar nenhum efeito para a população”, aponta Sias.

A diferença do fenômeno que vemos agora é que, assim como os que ocorreram no mês de junho e no ano passado, sua área de formação fica mais proxima à costa atlântica, fazendo com que a população sinta os efeitos.

“A formação não é tão rápida quanto a de um tornado, por exemplo, que acontece em minutos”, aponta Ana Avila, meteorologista e pesquisadora da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas).

De acordo com Sias, o aquecimento global tem contribuído para o surgimento de ciclones extratropicais atípicos, que podem se formar com mais rapidez e causar impacto maior.

Elementos como o fenômeno El Niño, que aumentam a umidade, acabam potencializando ainda mais a força das chuvas.

Crédito, Getty Images

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Cidades litorâneas também devem sentir maiores impactos

Há risco de alagamentos, deslizamentos e enxurradas, assim como destelhamentos, danos nas redes elétricas e quedas de árvores e galhos.

Os riscos variam de acordo com a região e a intensidade com a qual o ciclone deve atuar. Por isso é importante sempre estar alerta às recomendações da Defesa Civil e outros órgãos competentes na sua cidade e Estado.

Em cidades ao sul do país, com maior risco de alagamentos, as recomendações dos órgãos competentes vão desde procurar abrigo seguro a não entrar em contato com águas.

Cidades litorâneas também devem sentir maiores impactos.

“Os ventos ficam mais fortes próximos ao mar, assim como as ondas, que podem chegar a quatro metros de altura. Por isso, é essencial que toda atividade marítima, como a pesca, seja cancelada”, explica Avila.