Em relatório, a empresa diz que o bloqueio do X no Brasil tem impacto limitado no panorama das redes sociais, já que a plataforma possui cerca de 22 milhões de usuários, contra mais de 100 milhões de YouTube, Instagram e Facebook.
“Os conservadores brasileiros (assim como em outras partes do mundo) aplaudem Musk como alguém que não tem medo de enfrentar as autoridades para defender a liberdade de expressão e impedir a censura. Nesse contexto, a proibição ajudaria a reforçar a narrativa de que os tribunais estão exagerando e que uma mobilização do campo da direita seria necessária para impedir esse movimento”, escreve o relatório.
“O potencial de mobilizar os conservadores seria particularmente benéfico para Bolsonaro. O ex-presidente teve algumas semanas difíceis depois que o prefeito Ricardo Nunes, o candidato que ele apoia na corrida para a prefeitura de São Paulo, perdeu terreno nas pesquisas para um outsider da direita radical [Pablo Marçal].”
“A principal preocupação de Bolsonaro no curto prazo são os tradicionais comícios de 7 de setembro, que ele usa para mobilizar apoiadores e mostrar sua influência política. Um possível fiasco nas manifestações deste ano pode sugerir que ele está perdendo a capacidade de liderar seus eleitores. O caso X pode ajudar a reduzir esse risco.”
Antes da decisão do STF, Bolsonaro já vinha fazendo convocações nas redes sociais para atos de protesto em 7 de setembro. Bolsonaro disse que os atos são um recado “para o Brasil e para o mundo do que estamos sofrendo aqui”. Ele diz que o objetivo é pedir anistia para “presos políticos” — em referência às pessoas que foram presas por depredação de Brasília nos atos de 8 de janeiro de 2023.
A consultoria alerta que forças progressistas também são afetadas pela decisão de Elon Musk de descumprir a ordem do STF, e o consequente bloqueio da plataforma no país.
Segundo a Eurasia, “os progressistas veem sua decisão de desafiar ordens da Suprema Corte como interferência estrangeira e um ataque à democracia e às instituições brasileiras. Lula e seus apoiadores provavelmente usarão o episódio para reacender os pedidos de regulamentação das redes sociais no Brasil”.
A Eurasia considera pouco provável que o Congresso brasileiro aprove alguma legislação de regulamentação das redes sociais nos próximos meses. Mas acredita que o episódio pode ter influência em processos envolvendo redes sociais no STF.
E pode influenciar mais amplamente no debate político brasileiro atual.
“Esse cenário, em que ambos os lados do espectro político veem o outro lado como uma ameaça à democracia, é uma tendência em muitos países. Este será um contexto importante para as eleições dos EUA deste ano e para a disputa presidencial do Brasil em 2026.”
A rede social X, o antigo Twitter, saiu do ar no Brasil após decisão tomada por Moraes no Supremo Tribunal Federal (STF) na sexta-feira (30/08).
Na quarta-feira (28/8), Moraes havia intimado Elon Musk a indicar um representante legal no Brasil no prazo de 24 horas. No caso de descumprimento, a rede social seria suspensa no país.
Na decisão desta sexta, Moraes argumentou que Musk e sua rede social estariam incentivando, com sua postura, discursos extremistas e antidemocráticos. Além disso, estariam obstruindo a Justiça ao não seguir determinações judiciais como bloqueio de contas e ao deixar de apontar um representante legal no país.
O ministro do STF determinou que a Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) tomasse providências para o bloqueio da rede. O texto fixa ainda um prazo de até cinco dias para que todos os envolvidos na operação, incluindo empresas de telefonia e servidores, cumpram com o bloqueio da plataforma.
Logo após a decisão, Elon Musk reagiu em sua conta no X. Disse que “a liberdade de expressão é a base da democracia e um pseudo-juiz não eleito no Brasil está destruindo-a para fins políticos”.
Fonte: BBC
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