- Zoe Kleinman
- Repórter de Tecnologia da BBC News
A primeira regra para quem escreve sobre bitcoin é: não escreva sobre bitcoin.
A criptomoeda flutua rápido demais e os fanáticos por bitcoin logo reclamam que você não entende nada sobre o assunto.
Mas é preciso escrever sobre bitcoins. As últimas 24 horas foram catastróficas para essa criptomoeda — até mesmo para seus padrões.
Vou falar aqui apenas de bitcoin — mas se você conhece criptomoedas sabe que todo o mercado está com problemas.
O que está acontecendo?
Enquanto escrevo, o bitcoin está sendo negociado a US$ 21.974 (cerca de R$ 113 mil). A cotação caiu 25% apenas nos últimos cinco dias, para seu valor mais baixo em 18 meses. Seu pico de quase US$ 70 mil, atingido em novembro, parece fazer parte de um passado longínquo.
Tudo está no vermelho e a tendência é clara: para baixo.
Por quê?
Especialistas dizem que isso se deve ao clima econômico global. Não é apenas no mundo das criptomoedas que há problemas.
Em diversos países, existe um risco crescente de recessão, a inflação e os juros estão subindo e o custo de vida está piorando. Os mercados de ações também oscilam, com o S&P 500 dos EUA (um dos principais índices da bolsa americana) em baixa (20% abaixo de sua alta recente).
Como resultado, há menos opções para investidores aplicarem seu dinheiro. Além disso, muitos investidores comuns — não só os ricos donos de fundos de hedge, mas também pessoas comuns — têm menos dinheiro para investir em qualquer coisa.
Para muitos, um investimento em algo tão volátil e imprevisível quanto a criptomoeda parece um risco grande demais nestes tempos.
As criptomoedas não são regulamentadas pelas autoridades financeiras. Se você estiver usando suas economias para investir em criptomoedas e a cotação cair ou se você perder acesso à sua carteira de criptomoedas, seu dinheiro se foi.
Porque agora?
No mês passado, duas moedas menos conhecidas, mas ainda assim importantes, entraram em colapso — e isso derrubou muita confiança no mercado em geral.
Como resultado, muitos estão agora vendendo suas criptomoedas.
Quanto mais pessoas vendem, menos o bitcoin vale, porque é assim que funciona — seu valor está atrelado à sua demanda.
Ao contrário de outros ativos mais tradicionais, o bitcoin não tem valor intrínseco para sustentá-lo — não há nenhum ativo físico, fluxo de receita ou negócios subjacentes por trás da moeda, diz a editora de mercados do jornal britânico Financial Times, Katie Martin.
“O preço é apenas e puramente o que as pessoas estão dispostas a pagar”, ela diz. “É isso que assusta, porque se um número suficiente de pessoas abandonar a moeda, não há limite para a queda. Não há nada que impeça que a moeda caia a US$ 10 mil amanhã, se um número suficiente de pessoas desistir da moeda ou for forçado a vender.”
As perspectivas do bitcoin já não eram boas. E nas últimas horas, surgiram notícias ainda piores:
- A Binance, a maior bolsa global de criptomoedas (basicamente uma plataforma para negociação de criptomoedas), pausou todas as retiradas de bitcoin por algumas horas. A bolsa disse que isso aconteceu por causa de uma “transação emperrada” — embora nem todos acreditem nessa versão.
- O credor de criptomoedas Celsius fez o mesmo — mas citou “condições extremas de mercado” em vez de dificuldades técnicas. A exchange Coinbase acaba de anunciar que está demitindo 18% de sua força de trabalho, culpando, em parte, o que muitos tem chamado de “inverno cripto” — a grande crise no setor.
- Investidores assustados estão vendendo ainda mais bitcoin
Os dois primeiros causaram pânico. Imagine se de repente você não pudesse sacar dinheiro do seu banco, ou ouvisse que outras pessoas não podem. Você estaria no caixa eletrônico mais próximo, junto com todo mundo, em tempo recorde, e isso por si só criaria ainda mais agitação e pânico.
O que pode reverter a crise?
Para estabilizar a moeda, as pessoas que ainda têm bitcoin precisam mantê-lo e outras precisariam começar a comprá-lo. Isso já aconteceu no passado.
Os fanáticos por criptomoedas dirão que agora é um ótimo momento para comprar, porque tudo está barato — e que é preciso ficar parado e assistir à maré virar.
As histórias sedutoras sobre pessoas que “ficaram ricas rapidamente” e os endossos de celebridades atraem dinheiro para esse mercado.
Elon Musk tuitou bastante sobre seu amor por criptomoedas — e sua empresa de carros elétricos Tesla investiu US$ 1,5 bilhão em bitcoin no ano passado.
Mas os consultores de investimentos pedem cautela tremenda.
“Honestamente, é um lugar onde apenas os corajosos devem entrar”, diz o diretor administrativo da State Street Advisors, Altaff Kassam, ao programa Wake Up To Money, da BBC Radio 5 Live.
E por falar em corajoso, o astro de Hollywood Matt Damon apareceu em uma propaganda de criptomoeda com o slogan “A sorte favorece os corajosos”, em outubro de 2021. O vídeo foi exibido no Super Bowl, a final da NFL (National Football League), a principal liga do futebol americano, e visto 28 milhões de vezes no Twitter e no YouTube.
No entanto, os “corajosos” que compraram bitcoin quando o anúncio foi lançado provavelmente discordam dele — o bitcoin valia na época cerca de três vezes mais do que hoje.
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