- Author, Rebecca Morelle e Alison Francis*
- Role, BBC News Science
Houve uma imagem que tornou o naufrágio do Titanic reconhecível de cara — a proa do navio pairando na escuridão das profundezas do Oceano Atlântico.
Mas uma nova expedição revelou os efeitos da sua lenta deterioração, com grande parte da sua grade de proteção agora no fundo do mar.
A perda da grade — imortalizada pelos personagens Jack e Rose na famosa cena do filme — foi descoberta durante uma série de mergulhos realizados por robôs subaquáticos neste ano.
As imagens que eles capturaram mostram como o naufrágio está mudando depois de mais de 100 anos submerso.
“A proa do Titanic é icônica e é nela que você pensa quando pensa no naufrágio. E não é mais assim”, afirmou Tomasina Ray, diretora de acervo da RMS Titanic Inc, a empresa que realizou a expedição.
“É apenas mais um lembrete da deterioração que está acontecendo diariamente. As pessoas perguntam o tempo todo: ‘Quanto tempo o Titanic vai ficar lá?’ Nós simplesmente não sabemos, mas estamos assistindo a isso acontecer em tempo real.”
A equipe acredita que esta parte da grade, que tem cerca de 4,5 metros de comprimento, caiu em algum momento nos últimos dois anos.
Imagens e uma varredura digital de uma expedição de 2022, realizada pela empresa de mapeamento de águas profundas Magellan e documentaristas da Atlantic Productions, mostram que a grade ainda estava no lugar — embora estivesse começando a ceder.
“Em algum momento, o metal cedeu, e ela caiu”, afirmou Tomasina Ray.
Catalogando as descobertas
Esta não é a única parte do navio, localizado a 3.800 m de profundidade, que está sendo perdida para o oceano. A estrutura metálica está sendo corroída por micróbios, criando estalactites de ferrugem.
Expedições anteriores descobriram que partes do Titanic estão desmoronando. Mergulhos liderados pelo explorador Victor Vescovo mostraram, em 2019, que os aposentos dos oficiais a estibordo estavam desmoronando, destruindo salões nobres e tapando a vista do banheiro do capitão.
A expedição da empresa RMS Titanic Inc ocorreu em julho e agosto deste ano.
Dois veículos operados remotamente (ROV, na sigla em inglês) capturaram mais de dois milhões de imagens e 24 horas de filmagens de alta definição tanto do naufrágio — que se dividiu ao afundar, deixando a proa e a popa a cerca de 800 metros de distância —, quanto do campo de destroços ao redor.
A empresa agora está revisando cuidadosamente as imagens para catalogar as descobertas e, por fim, vai gerar uma varredura digital em 3D altamente detalhada de todo o local do naufrágio.
Mais imagens dos mergulhos vão ser reveladas nos próximos meses.
A equipe também anunciou a descoberta de um artefato que esperava encontrar, apesar da baixíssima probabilidade.
Mas sua localização não era conhecida, e a estátua de 60 cm de altura não havia sido documentada novamente. Agora, no entanto, ela foi descoberta deitada de barriga para cima em meio aos sedimentos no campo de destroços.
“Foi como encontrar uma agulha no palheiro, e redescobrir este ano foi significativo”, afirmou James Penca, pesquisador do Titanic e apresentador do podcast Witness Titanic.
A estátua havia sido exibida para os passageiros da primeira classe do Titanic.
“O salão da primeira classe era o cômodo mais bonito e incrivelmente detalhado do navio. E a peça central daquele cômodo era a Diana de Versalhes”, explica.
“Mas infelizmente, quando o Titanic se partiu em dois durante o naufrágio, o salão se abriu. E no caos e na destruição, Diana foi arrancada de seu manto, e caiu na escuridão do campo de destroços.”
A RMS Titanic Inc tem os direitos de resgate do Titanic — e é a única companhia legalmente autorizada a remover itens do local do naufrágio.
Ao longo dos anos, a empresa recuperou milhares de itens do campo de destroços, e uma seleção deles está em exposição ao redor do mundo.
Eles planejam retornar no ano que vem para recuperar mais — e a estátua de Diana é um dos itens que eles gostariam de trazer de volta à superfície.
Mas alguns acreditam que o naufrágio é um túmulo que deve permanecer intocado.
“Esta redescoberta da estátua de Diana é o argumento perfeito contra deixar o Titanic em paz”, afirmou Penca em resposta.
“Esta era uma obra de arte que deveria ser vista e apreciada. E agora essa bela obra de arte está no fundo do oceano… na escuridão total, há 112 anos.”
“Trazer Diana de volta para que as pessoas possam vê-la com seus próprios olhos —o valor disso, despertar o amor pela história, pelo mergulho, pela conservação, pelos naufrágios, pela escultura, eu nunca poderia deixar isso no fundo do oceano.”
*Com reportagem adicional de Kevin Church.
Fonte: BBC
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