- Author, Norberto Paredes
- Role, BBC News Mundo
- Twitter, @norbertparedes
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Quantos amigos temos? Quão bons ou próximos eles são? Como escolhemos os homens e mulheres que serão nossos amigos? O que privilegiamos? Quão duradouras são essas amizades?
O famoso psicólogo, antropólogo e biólogo evolucionista britânico Robin Dunbar, professor emérito da Universidade de Oxford, passou anos estudando a amizade.
Especialista em comportamento de primatas, ele é mais conhecido por ter sido o primeiro a formular o chamado número de Dunbar, com valor correspondente a 150 em humanos, número que representa uma medida do “limite cognitivo de indivíduos com os quais se pode manter uma relação estável.”
Autor de mais de vinte livros, entre eles “Amizade”, “A Ciência do Amor” e “A Odisséia da Humanidade”, ele foi entrevistado pela BBC News Mundo (serviço em espanhol da BBC) sobre as diferenças entre as amizades masculina e feminina e o que há de verdade nos estereótipos que geralmente são atribuídos a elas.
BBC News Mundo – Você diz que as amizades entre homens e mulheres são diferentes. Quais são essas diferenças?
Robin Dunbar – Elas se diferenciam principalmente pela intensidade de suas relações.
Amizades entre mulheres tendem a ser muito mais intensas emocionalmente, tornando-as mais diádicas (duas pessoas que acabam vinculadas muito estreitamente).
Seus círculos de amizade são baseados mais em amizades duplas do que em grupos, enquanto os homens tendem a formar clubes de amigos.
Em geral, as amizades das mulheres são semelhantes a um modelo de centro e raios, em que cada amiga tem uma amizade particular com a amiga do centro, mas não necessariamente com as outras amigas de um pequeno grupo.
Enquanto os círculos masculinos são muito mais integrados.
Todos são amigos de todos, mas a qualidade e a intensidade das relações são menores.
BBC News Mundo – O que mulheres e homens procuram em uma amizade? O que é o mais importante?
Dunbar – Para as mulheres, é mais importante quem você é como pessoa, e não o que você é.
Enquanto os homens se preocupam muito mais com o que você é, a que clube você pertence.
Eles se importam menos com quem você é.
As amizades entre homens são um pouco mais anônimas nesse sentido.
BBC News Mundo – Como diria que são esses clubes de amigos?
Dunbar – Neles, o fato de pertencer ao clube parece ser o mais importante. É o que define a amizade.
Muitos homens sabem muito pouco sobre seus amigos, mas os aceitam porque fazem parte do mesmo clube.
Os clubes de amigos tendem a ser muito informais e isso reflete a natureza muito mais casual das amizades masculinas.
A associação ao clube também costuma ser casual.
São os amigos que jogam futebol juntos ou os caras que vão beber toda sexta à noite.
A elegibilidade para ser membro de um clube não é muito exigente.
Você pode tomar uma cerveja sem derramar na mesa? Se você pode fazer isso, então você faz parte do nosso clube.
BBC News Mundo – Dizem que as mulheres tendem a falar mais sobre suas emoções e sentimentos. O que os homens falam?
Dunbar – De nada (risos).
Os homens não falam tanto sobre emoções, tendem a se relacionar em torno de atividades, ao contrário das mulheres, que expressam sentimentos. É por isso que as mulheres tendem a ter amizades de maior qualidade.
As atividades nos grupos de amigos são o que dão o caráter do clube.
Nesse contexto, os homens criam laços de amizade por meio do riso, enquanto as mulheres o fazem por meio de conversas e emoções.
É por isso que as mulheres podem contar exatamente sobre o que conversaram ontem, com detalhes e antecedentes, enquanto os homens que estavam sentados na mesma mesa não conseguem se lembrar de nada.
BBC News Mundo – Então, você diria que os homens precisam mais de uma presença física, de um amigo fisicamente presente?
Dunbar – Sim, os homens precisam poder fazer coisas com seus amigos. Eles têm que vê-los. Se eles não os veem, o relacionamento evapora. Nem sempre, claro, mas acontece com frequência.
As amizades entre mulheres tendem a durar com o tempo, mesmo quando não podem se ver regularmente, porque se esforçam para conversar ou manter contato.
Essas coisas são menos frequentes entre os homens.
Isso não quer dizer que as amizades masculinas não durem; alguns podem durar mais do que as amizades entre as mulheres.
Mas se a amiga de uma mulher se muda para outro país para sempre e elas não podem se ver, elas tentam manter a amizade pelas redes sociais ou por telefone.
BBC News Mundo – E os homens perdem um amigo que se muda…
Dunbar – Os homens muitas vezes não mantêm contato regular com o amigo que se foi, mas simplesmente o substituem.
Por exemplo, Jimmy é um membro do grupo de amigos que vai ao bar para beber todas as sextas-feiras à noite, mas se mudou para a Tailândia.
Em vez de tentar manter contato com Jimmy, os outros amigos dizem uns aos outros: “Bem, Jimmy era ótimo, mas ele se foi. Eu sei que Peter seria uma ótima opção, podemos adicioná-lo ao grupo agora que Jimmy se foi.”
Isso está mudando ao longo dos anos.
Depois de uma certa idade, alguns homens preferem sair do clube e ficar com um único amigo com quem vão beber no bar com muita calma.
Eles se tornam melhores amigos.
BBC News Mundo – A comunicação continua sendo ruim?
Dunbar – Provavelmente muitos ainda não estão tendo muitas conversas profundas.
Há uma fotografia maravilhosa, muito vista em jornais e revistas, de dois velhos gregos do lado de fora de uma taverna, sentados um de cada lado de uma mesa enquanto o sol brilha.
Eles se sentam em silêncio e ocasionalmente levantam seu ouzo (licor grego) ou seu café para tomar um pequeno gole.
Eu sempre digo: essa é a imagem de dois homens se comunicando.
BBC News Mundo -Você diria que os homens são socialmente mais preguiçosos?
Dunbar – Com certeza. Muitos homens mais velhos acabam pertencendo ao clube dos maridos das amigas de suas esposas, ou de suas parceiras, e isso porque as mulheres são muito mais ativas socialmente.
Elas são mais propensas do que nós a organizar eventos sociais, seja um jantar ou qualquer outra coisa.
Às vezes, os homens que assistem (aos eventos das esposas) formam seu próprio clube, mas a única coisa que o mantém unido é o fato de serem maridos ou parceiros das mulheres.
É completamente circunstancial.
BBC News Mundo – O quanto é importante ter amigos quando envelhecemos?
Dunbar – Aqui podemos ir para as razões pelas quais temos amigos.
Uma delas é ter apoio moral e social, e ajuda, se precisarmos.
Bons amigos acabam se tornando uma espécie de proteção e podem até ser um amortecedor econômico.
Além disso, as amizades proporcionam benefícios de saúde realmente consideráveis.
A melhor maneira de medir sua saúde física e psicológica é ver o número e a qualidade dos bons amigos que você tem.
O número ideal é você e mais quatro amigos, de acordo com vários estudos.
BBC News Mundo – Esse número é de amigos íntimos ou amigos em geral?
Dunbar – Amigos próximos, mas inclui a família também.
À medida que envelhecemos, tendemos a priorizar a família.
BBC News Mundo – Dizem também que isso melhora a saúde mental.
Dunbar – No lado psicológico, reduz muito o risco de cair em depressão.
As atividades que fazemos com os amigos, conversar, rir, contar histórias tristes, cantar, dançar, comer… todas essas coisas ativam o sistema de endorfina, que é ativado na parte do cérebro que controla a dor.
Eles dão a você uma euforia emocional que faz você se sentir bem, em paz com o mundo, confiante.
Quando você cai em depressão, seu sistema imunológico fica deprimido e você fica muito mais suscetível a doenças, principalmente vírus e bactérias, porque seu corpo é incapaz de atacá-los com eficácia.
No fim, quando você tem poucos ou nenhum amigo, a sua expectativa de vida é afetada.
Fonte: BBC
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