Artigo: O OLHAR DO PSICOPATA por Cristiano Carrilho

Os olhos realmente são realmente “janelas da alma”? É arriscado interpretar o olhar de outras pessoas e tirar conclusões errôneas sobre seu caráter, intenções e confiabilidade, mas também acreditar em qualquer outra coisa é extremamente arriscado.

Muitas pessoas acreditam que os olhos são janelas da alma. Embora sejam indicadores do mundo interior os olhos não são inteiramente desprovidos de informações, em particular quando a mensagem que transmitem parece inconsistente com as expressões faciais e o comportamento verbal do indivíduo.

A psicopatia é classificada pelos psicólogos como um transtorno de personalidade definido por uma combinação de carisma, emoções superficiais, ausência de arrependimento ou remorso, impulsividade e criminalidade, No livro “Sem Consciência: o mundo perturbador dos psicopatas que vivem entre nós” (Porto Alegre : Artmed, 2013.), o Dr. Robert Hare faz uma profunda reflexão sobre o olhar dos psicopatas.
Segundo Robert Hare, “Quando os olhos dizem uma coisa e a língua, outra, o homem experiente confia na língua em primeiro lugar” é apenas uma das várias máximas que podemos citar. Uma mulher revelou suas experiências com um “amante-matador”, que roubou o seu afeto e depois o usou para manter o controle sobre ela e abatê-la emocionalmente. “Eu acho difícil olhar para os olhos dele porque eles me deixam confusa. Eu não sei o que há por trás deles, e eles não me dizem o que está pensando nem quais são as suas intenções”, afirmou ela.

Hare observa que existem inúmeros relatos clínicos sobre os chamados olhos “vazios” dos psicopatas, mas são os livros sobre crimes reais que oferecem as descrições mais vívidas do grau de perturbação que esse olhar pode causar.
Por sua vez, James Clarke, autor do livro Last Rampage, analisou o psicopata Gary Tison, um assassino condenado que manipulou com maestria o sistema prisional, escapou da prisão com a ajuda dos filhos e prosseguiu matando. O aspecto mais surpreendente de Gary – aquilo que as pessoas mais notavam e de que nunca se esqueciam – eram seus olhos (sem emoção, profundamente encravados nas órbitas). Independentemente de seu estado de espírito (bravo, animado ou mais ou menos) seus olhos permaneciam vazios, penetrantes e malignos. Por seu olhar, era impossível dizer o que Gary estava sentindo… Segundo relatos, o que as pessoas mais lembravam eram os olhos frios e duros do psicopata.

No livro Echoes In The Darkness, de Joseph Wambaugh, temos o caso de William Bradfield e Jay Smith, dois professores do ensino médio, condenados (o primeiro em 1983, o segundo em 1986) por matar um colega e seus dois filhos. O livro contém diferentes descrições aos olhos azuis desses dois psicopatas: “poéticos”, “gelados” ou “hipnóticos”. Os olhos do psicopata podem intimidar ou ser fantasmagórico. No julgamento, Bradfield lançou seu famoso olhar a Rick Guida (o promotor), a quem um agente do FBI havia dito que aquele olhar o fizera dar dois passos para trás. Quando o olhar de Bradfield tentou intimidar o policial Jack Holtz, este observou que o olhar do transgressor só funcionava com “pessoas inteligentes”.


Apesar de todos os relatos sobre o olhar dos psicopatas, por mais interessantes que sejam, não devem nos induzir à falsa crença de que podemos identificar o psicopata com segurança apenas pelo olhar. A identificação de um psicopata precisa de uma avaliação interdisciplinar e uma perícia mais detalhada.


Cristiano Carrilho – Mestre em Direito, Psicanalista, Presidente da Academia Brasileira de Ciências Criminais, Diretor Jurídico do Instituto Freudiano de Pernambuco

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