Depois de quase dois anos de ataques racistas contra o jogador brasileiro Vinícius Junior, a polícia espanhola realizou as primeiras prisões contra suspeitos — todas no mesmo dia.
Nesta terça-feira (23/5), a polícia prendeu sete torcedores — três em Valência e quatro em Madri.
Em Valência, foram presos três torcedores com idades entre 18 e 21 anos. Em mensagem no Twitter, a Polícia Nacional afirma que eles foram presos por suspeita de “delitos de ódio”.
A polícia publicou um vídeo de três indivíduos diferentes sendo levados a um veículo policial. O rosto e a identidade dos suspeitos não foram divulgados.
No domingo (21/5), Vinícius Junior foi alvo de ataques racistas por parte de torcedores do Valencia. Antes do jogo, um vídeo mostra torcedores chamando Vini Jr. de “macaco”.
Durante a partida, o brasileiro confrontou torcedores que o xingavam das arquibancadas. Câmeras de televisão flagraram um homem imitando um macaco.
O jogo foi interrompido por alguns minutos enquanto o árbitro tentava lidar com a situação. O alto-falante do estádio transmitiu uma mensagem pedindo que os torcedores evitassem manifestações racistas.
Após a partida, o caso teve imensa repercussão internacional.
Vini publicou em seu Twitter uma mensagem na qual afirma que a LaLiga (o campeonato espanhol) “pertence aos racistas” e criticou os organizadores do campeonato de não agirem contra o racismo.
O presidente da LaLiga, Javier Tebas, respondeu às críticas dizendo que Vini deveria “se informar” sobre as ações que a entidade vem tentando tomar contra o racismo.
O caso foi notícia nos principais jornais do mundo e desencadeou uma onda de manifestações de apoio a Vini. O governo brasileiro também se manifestou em nota, pedindo providências das autoridades governamentais e esportivas da Espanha.
Prisões em Madri
Em Madri, a polícia prendeu quatro torcedores do Atlético de Madrid, rival tradicional do Real Madrid de Vinícius Junior.
Eles são suspeitos de pendurar um boneco com a camisa de Vini em uma ponte, com uma mensagem de ódio ao Real Madrid. O incidente aconteceu em janeiro deste ano, na véspera de um clássico entre as equipes.
A Polícia Nacional disse que três são integrantes da torcida Frente Atlético e um deles é simpatizante. Eles têm 19, 21, 23 e 24 anos. Fontes policiais disseram ao jornal El País que um dos torcedores tinha antecedentes criminais, por delito com lesão.
As imagens da polícia — também sem identificação ou rosto — mostram os indivíduos sendo presos e fichados.
Punições
Até esta semana, ninguém havia sido preso ainda pelos incidentes contra Vinícius, apesar de a LaLiga ter encaminhado oito casos de racismo contra o brasileiro para as autoridades espanholas.
Multas de 3 mil a 4 mil euros estavam sendo estudadas pelas autoridades para torcedores do Mallorca e Valladolid, em incidentes diferentes. Também houve a recomendação para banimento de torcedores até o final da temporada.
Alguns clubes tomaram atitudes próprias. O Valladolid baniu 11 torcedores de entrarem no estádio até o final da temporada. Na segunda-feira, o Valencia prometeu expulsar do estádio “para toda a vida” os torcedores que proferiram gestos racistas.
Desde outubro de 2021, quando o primeiro xingamento racista contra Vinícius foi noticiado, os incidentes vinham se intensificando: um em 2021, três em 2022 e seis neste ano.
“O discurso sempre cai em ‘casos isolados’, ‘um torcedor’. Não, não são casos isolados. São episódios contínuos espalhados por várias cidades da Espanha (e até em um programa de televisão)”, escreveu Vinícius no Twitter antes das prisões serem anunciadas.
Na mensagem, ele publicou uma compilação em vídeo dos diversos abusos racistas que recebeu — torcedores o xingando de macaco e o hostilizando.
Segundo o presidente do Conselho para Eliminação da Discriminação Racial ou Étnica (Cedre) do Ministério da Igualdade espanhol, Antumi Toasijé, a Espanha tem uma longa tradição de racismo e a legislação em vigor atualmente não dá conta de fiscalizar e punir agressores de forma compatível.
Em entrevista para a BBC News Brasil, Toasijé disse que as legislações existentes hoje na Espanha são dispersas e pouco efetivas e a normativa sobre discriminação no esporte é fraca e negligenciada pelas autoridades.
“Há uma lei contra o racismo no esporte, mas ela não oferece mecanismos imediatos de ação e se tornou totalmente obsoleta”, afirma o presidente do Cedre.
“Em um caso como o do Vinícius Júnior, está estabelecido que se deve paralisar por completo a competição, mas isso não está acontecendo. As punições aos indivíduos que cometem esse tipo de agressão também são muito escassas.”
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