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Após Covid-19, paciente fica com parte da boca necrosada devido à doença rara

Após ter a imunidade baixa devido à Covid-19, um iraniano de 37 anos apresentou mucormicose — uma doença rara causada por fungos — e ficou com excesso de pus na região bucal, chegando a ter seu osso maxilar necrosado, que precisou ser removido em cirurgia. O relato médico foi publicado no Journal of Medical Case Reports na última sexta-feira (3).

Segundo os autores, a Covid-19 “torna os pacientes mais suscetíveis à superinfecção de doenças fúngicas como consequência do comprometimento do sistema imunológico”. No caso da mucormicose, ela tem alta taxa de mortalidade e afeta principalmente pacientes com diabetes mellitus mal controlada ou em uso de corticoides. Para um melhor resultado na recuperação, os cientistas apontam que o diagnóstico precoce e o encaminhamento imediato a especialistas são fundamentais.

A mucormicose é uma infecção fúngica oportunista rara associada a uma alta taxa de mortalidade e morbidade. A taxa de incidência de mucormicose varia de 0,005 a 1,7 por milhão. No entanto, com o surgimento de estágios avançados de Covid-19, há um número substancial e crescente de relatos de mucormicose em pacientes com formas graves de Covid-19.

No caso do paciente iraniano, uma análise microscópica em amostras de tecido identificou uma série de problemas numa porção da cavidade nasal, afligida por uma intensa inflamação aguda-crônica. O laudo do exame indicou a formação de tecido com células que ajudam na cicatrização, presença de líquidos causados por danos aos vasos sanguíneos e infiltração de algumas células gigantes multinucleadas, além de pequenas porções de osso mortas e vivas. Por fim, a confirmação da presença de fungos resultou no diagnóstico de mucormicose. Chamou atenção ainda que parte da mucosa respiratória estava necrosada.

Os médicos então iniciaram um tratamento para combater os fungos com anfotericina B endovenosa (5 mg/kg/dia) por seis semanas, além de levofloxacina 500 mg e spray nasal para sinusite.

O paciente foi submetido a endoscopia na cavidade nasal para avaliar a evolução do tratamento. A cicatrização transcorreu sem intercorrências, e ele recebeu alta em boas condições.

“Acompanhamos a paciente por seis meses e não houve sinais de reinfecção. O segundo molar superior direito foi extraído devido à mobilidade severa”, acrescentaram os autores, explicando que fariam a reconstrução do defeito residual com implantes específicos.

A doença pode evoluir em quatro estágios, passando pela mucosa nasal, seios paranasais, órbita e sistema nervoso central.

Os sintomas podem ser febre, sinusite aguda, congestão nasal e cefaleia (forte dor de cabeça). Todos os seios paranasais podem estar envolvidos e a infecção pode se espalhar para estruturas próximas, como órbita, palato e cérebro. Outros sinais comuns incluem olho inchado, paralisia muscular do olho, perda de visão e déficits neurológicos (perda de de alguma função nervosa).

De acordo com o relatório, após formas graves de Covid-19, infecções ao redor dos dentes devem ser tratadas com cautela. Por isso, os dentistas têm um papel crucial no diagnóstico precoce da mucormicose rinomaxilar e no encaminhamento imediato para avaliação de cirurgiões.

“Dado que a recente pandemia é um problema significativo de saúde pública em todo o mundo, é necessário aumentar a conscientização sobre a mucormicose entre os pacientes com Covid-19. Além disso, ambas as condições em combinação podem levar a morbidade e mortalidade significativas. Assim, o diagnóstico precoce e o tratamento imediato são fundamentais para reduzir a morbidade”, ressaltaram os autores da publicação.

Embora existam vários estudos relatando casos de mucormicose após Covid-19, existem poucos relatos sobre pacientes que apresentaram múltiplos abscessos periodontais e mobilidade dentária.

Um estudo nos EUA mostrou que cerca de 70% dos pacientes com mucormicose tinham história de diabetes mellitus. Esta infecção leva à destruição dos vasos sanguíneos por hifas fúngicas, causando infarto e necrose de uma variedade de tecidos hospedeiros de órgãos-alvo. A infecção rino-orbital cerebral é um dos sinais clínicos mais comuns da mucormicose. Presume-se que seja um resultado secundário da inalação de esporos nos seios paranasais em um hospedeiro suscetível.

Outros estudos concluíram que o histórico de diabetes somado à extensa terapia com corticoides em um paciente com Covid-19 pode ter aumentado a incidência de mucormicose.

“Extremo cuidado deve ser exercido para manter a glicose no nível ideal, e apenas o uso cauteloso de corticoides deve ser recomendado”, frisaram os cientistas.

Segundo a pesquisa, foi observado que também é preciso cautela mesmo em pacientes não diabéticos sem histórico de internação em unidade de terapia intensiva (UTI), como ocorreu num caso avaliado em 2021 de uma pessoa sem histórico de diabetes ou comorbidades que apresentou mucormicose e foi tratada com medicamentos contra fungos e remoção do tecido morto em cirurgia.

Os corticoides são imunossupressores comumente usados em pacientes com uma forma grave de Covid-19 para reduzir os danos causados pelo sistema imunológico do corpo durante a infecção pela síndrome respiratória aguda grave (Sars-CoV-2). Mesmo em pacientes sem diabetes, esses medicamentos podem aumentar os níveis de açúcar no sangue. Ambos os fatores podem contribuir para outras infecções. Além disso, o uso prolongado de antibióticos em pacientes com Covid-19 também pode contribuir para tal.

Segundo relatórios da Organização Mundial da Saúde (OMS), até outubro de 2021, havia causado 4.550.000 mortes em todo o mundo. Com o surgimento de novas variantes, parece que a pandemia levará um tempo significativo para ser resolvida. Embora a maioria dos pacientes apresente formas leves a moderadas de problemas respiratórios e/ou gastrointestinais, que se resolvem sem medicamentos especiais, vários pacientes desenvolvem formas graves de Covid-19 que requerem atenção médica.

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Fonte: Folha PE

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