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Alta dos juros para conter a inflação ameaça crescimento econômico

Foto: Montieur Monteiro Petrolina News




A trajetória que levou a taxa básica de juros ao maior patamar dos últimos seis anos para segurar o avanço da inflação pode ter um efeito perverso no desempenho da economia brasileira. O movimento ocorre com o menor estímulo para as famílias consumirem e já reflete nas expectativas de crescimento para 2023.

Desde março do ano passado, a taxa Selic disparou 11,75 pontos percentuais, de 2% para 13,75% ao ano. O ciclo pode ainda não ter chegado ao fim e parte dos analistas do mercado financeiro e o próprio Copom (Comitê de Política Monetária) já admitem um novo ajuste dos juros em 0,25 ponto percentual na reunião de setembro.

“O Comitê avaliará a necessidade de um ajuste residual, de menor magnitude, em sua próxima reunião. O Copom enfatiza que seguirá vigilante e que os passos futuros da política monetária poderão ser ajustados para assegurar a convergência da inflação para suas metas”, ressalta o documento que comunicou a nova alta dos juros.

Para Vitor Nery, analista de renda fixa da Blue3 Investimentos, um novo ajuste da taxa básica de juros para o patamar de 14% ao ano terá um efeito pequeno perto do impacto já causado pela política monetária contracionista desde março do ano passado.

Nery explica que existe agora a necessidade de observar o período de manutenção dos juros em alta, o que representa um “freio forte” para o desenvolvimento da atividade econômica. “Embora consiga reduzir a inflação, uma taxa Selic elevada, se prolongada por muito tempo, causa um atraso econômico e impactar fortemente o PIB”, afirma.

Com o possível cenário de manutenção da Selic em um nível elevado por um período prolongado, o mercado financeiro começou a derrubar a expectativa de alta do PIB (Produto Interno Bruto) — soma de todos os bens e serviços produzidos no país. Somente nas últimas quatro semanas, a expectativa de crescimento para o ano que vem caiu de 0,5% para 0,4%.

As avaliações levam em conta que os juros maiores tornam o dinheiro mais caro, encarecem o crédito, reduzem a disposição para consumir e estimulam novas alternativas de investimento pelas famílias. “As pessoas que desejam movimentar a roda da economia vão pensar duas vezes antes de tomar um empréstimo mais caro”, ressalta Nery.

Ricardo Jorge, especialista em renda fixa e sócio da Quantzed, observa que somente o fim da trajetória de elevação da taxa Selic é aguardado na expectativa de reaquecimento da economia nos próximos anos.

“Como o mercado financeiro tenta antecipar os movimentos, a leitura é de que o ciclo de alta dos juros se aproxima do fim e, se a inflação arrefecer, o BC vai poder reduzir a Selic. […] Com o movimento de corte, existe a expectativa de um reaquecimento da economia, porque todo crédito fica facilitado para consumidores e empresários”, prevê Jorge.

O movimento de alta dos juros já reflete no desempenho do setor industrial, único dos grande segmentos a figurar ainda abaixo do patamar de fevereiro de 2020, último mês sem medidas restritivas para conter o avanço da pandemia no Brasil.

“Novas altas da Selic, além de 13,75% ao ano, podem desestimular ainda mais uma retomada de crescimento econômico. O setor industrial ainda sofre com o desarranjo da cadeia produtiva, principalmente insumos básicos”, observa Fábio Astrauskas, economista e professor do Insper.

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