- Série “Woman’s Hour”
- BBC Radio 4
Quantas vezes você se sentou com um amigo para conversar sobre um relacionamento, seja dele, seu ou até mesmo de outro casal?
Ou talvez você se interesse por reality shows onde o objetivo é supostamente encontrar o amor.
Para muitos de nós, a dinâmica dos relacionamentos românticos é absolutamente fascinante.
Mas por quê? Foi o que o programa da Woman’s Hour, da BBC Radio 4, no Reino Unido, perguntou a Susanna Abse, presidente do Conselho Psicanalítico Britânico (BPC, na sigla em inglês).
Seu livro Tell Me the Truth About Love: 13 Tales from the Therapist’s Couch (Diga-me a verdade sobre o amor: 13 contos do sofá do terapeuta, em tradução livre) é baseado em seus mais de 30 anos de experiência em terapia para casais que enfrentam obstáculos em suas vidas amorosas.
“Os relacionamentos são centrais em nossas vidas. Eles nos dão mais alegria e nos causam mais dor quando as coisas dão errado”, diz Abse.
“Cada relacionamento é diferente e estabelecer regras sobre como as pessoas conduzem suas vidas amorosas geralmente não ajuda muito. No entanto, muitas vezes vale a pena ser curioso e questionar nossos relacionamentos com outras pessoas.”
“Dito isso, é compreensível que queiramos ler e assistir a conteúdos que reflitam nossas próprias vidas e talvez nos ajudem a entender coisas que às vezes parecem muito difíceis de entender”, diz.
Segundo Abse, existem certos mitos ultrapassados que se repetem e raramente contribuem de forma favorável para o desenvolvimento de nossa vida amorosa.
1. ‘Existe apenas uma pessoa para cada um de nós: sua alma gêmea’
“A crença de que existe apenas uma pessoa para você não é comprovada empiricamente e foi refutada pela experiência da maioria das pessoas”, diz a especialista.
“No entanto, a ideia de uma ‘alma gêmea’ talvez carregue alguma verdade.”
“Não se trata de destino ou misticidade, mas sim de pessoas que nutrem fortes sentimentos por estarem de alguma forma poderosamente entrelaçadas com outras.”
“Talvez seja porque ambos os parceiros sofreram uma perda precoce ou ambos têm preocupações semelhantes sobre o que realmente significa estar perto de alguém”, diz Abse.
“Esse sentimento de ‘alma gêmea’ está frequentemente presente no processo de se apaixonar, e talvez ajude você a dar seu coração a alguém sem ficar muito assustado.”
“As pessoas desenvolvem seus relacionamentos de maneiras diferentes”, afirma a autora.
“Em alguns casos, há quem veja a outra pessoa e se apaixone imediatamente por ela, de forma muito romântica.”
“Outras pessoas, talvez por serem mais cautelosas, desenvolvem um relacionamento ou uma amizade por um longo período de tempo. Elas podem se conhecer e não se apressar para criar um relacionamento amoroso.”
“Mas acho que para a maioria das pessoas, esse sentimento de se apaixonar é uma experiência de ligação muito importante. Pode ajudar a superar a hesitação em entrar em um relacionamento, tornar-se íntimo ou se comprometer com alguém, o que pode ser assustador”, afirma.
“Essa faísca é como um bônus contra algumas das preocupações que todos nós temos sobre nos apaixonarmos.”
“No entanto, é preciso se lembrar que não apenas cada pessoa, mas também cada relacionamento é diferente. Só porque você não se apaixonou magicamente não significa que o relacionamento não vai se desenvolver e crescer.”
3. ‘Você pode mudar algo de que não gosta em seu parceiro’
“Normalmente, essa ideia está fadada ao fracasso”, diz Susanna Abse.
“Você provavelmente encontrará uma resistência considerável ao tentar ativamente mudar seu parceiro, que pode ser manifestada de forma passiva em vez de aberta.”
“No entanto, relacionamentos próximos nos mudam e há muitas coisas que cada parte pode aprender com a outra na esfera emocional, bem como nos aspectos práticos da vida cotidiana.”
4. ‘Um bom relacionamento deve ser fácil’
“Que sorte você tem se for esse o seu caso!”, diz a especialista.
“A maioria das pessoas acha os relacionamentos alegres e desafiadores”.
“Quase todos os relacionamentos de longo prazo passam por momentos difíceis, e fazer o que você pode para superá-los juntos muitas vezes aprofunda o vínculo de um casal”, comenta.
“Agora, se você costuma acabar em relacionamentos nos quais se sente desconfortável ou sente que tudo foi rápido demais e quer mudar de ideia, lembre-se de que você é alguém que precisa de tempo.”
“Talvez você tenha uma tendência a aceitar coisas que provavelmente não quer, então aprenda sobre você e as coisas com as quais você se sente confortável.”
“Eu não acho que existam regras rígidas e rápidas, mas definitivamente não se permita se sentir pressionado a fazer coisas que você não quer fazer.”
5. ‘Um bom relacionamento deve ser sempre emocionante’
“Emoção também implica perigo, não é?”
“Se você está realmente empolgado e se apressa demais para entrar em um relacionamento, também é possível que vá se apressar para sair dele.”
“É ótimo quando sentimos que podemos nos recuperar rapidamente. Mas com o passar dos anos, as pessoas podem se sentir menos capazes de lidar com esses altos e baixos efusivos em relacionamentos que começam e terminam.”
“Se você teve muitos relacionamentos emocionantes, mas um pouco decepcionantes, pode se tornar um pouco mais cauteloso e levar as coisas mais devagar”, diz.
“É bom lembrar que empolgação é ótimo, mas o prazer também é muito importante. E à medida que se envelhece, alguns desses prazeres podem ser um pouco mais tranquilos e planejados.”
6. ‘Casamento ou bebês podem salvar um relacionamento’
“Infelizmente, isso não acontece com frequência”, diz Abse.
“Planejar um casamento pode aproximar alguns casais, mas também pode ser uma fonte de grande tensão. Casar não salvará um relacionamento que está em apuros.”
“E o mesmo vale para ter filhos.”
“É muito gratificante para muitas pessoas, mas todas as evidências indicam que não ajuda muito na satisfação do relacionamento. Passar de dois para três apresenta muitas complicações e as necessidades dos bebês muitas vezes têm precedência sobre as necessidades do parceiro.”
“Se o relacionamento é forte e o casal sabe lidar com decepções e diferenças, os anos de paternidade podem ser maravilhosos.”
“E eles também podem esperar mais prazeres quando as crianças saírem de casa”.
7. ‘Um ultimato é a chave para um casamento ou para ter filhos’
“É uma aposta de alto risco, especialmente se você não está falando sério sobre terminar”, diz a especialista.
“Mas às vezes você pode chegar a um ponto em um relacionamento em que precisa dizer: ‘Há coisas que eu quero e se você não as quer, talvez agora seja a hora de nos separarmos’.”
“Se você é uma mulher na casa dos trinta e realmente quer ter filhos e tem um parceiro que está enrolando para isso, pode ser obrigada a enfrentar a realidade, por mais dolorosa que seja.”
“Mas não acho que você deva constantemente dar ultimatos em um relacionamento. Eles envolvem uma ameaça de abandono, e a ameaça de abandono tende a prejudicar muito o relacionamento.”
*Para ouvir o episódio completo do Woman’s Hour da BBC Radio 4, clique aqui.
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