- Giulia Granchi
- Da BBC News Brasil em São Paulo
Após mais de meio século de carreira, o cartunista Angeli, de 65 anos, anunciou que não exercerá mais a profissão devido ao avanço de sua doença, a afasia progressiva primária.
A informação foi divulgada pelo jornal Folha de S.Paulo, onde Angeli era colaborador, nesta quarta-feira (20/4).
Também conhecida pela sigla APP, a afasia progressiva primária é uma síndrome neurodegenerativa rara que faz parte do grupo das doenças chamadas de demências e acomete a parte frontotemporal do cérebro. O quadro é considerado mais agressivo que o Alzheimer e causa sintomas
A condição é diferente do quadro de afasia – nome dado a qualquer alteração cerebral que cause dificuldade de linguagem – com o qual o ator Bruce Willis foi diagnosticado, que pode aparecer em decorrência de outros problemas, como AVC (acidente vascular cerebral), tumor no cérebro ou queda.
Há três subtipos de afasias progressivas primárias diferentes, a Afasia Progressiva Primária Agramática (APPA), marcada pela repetição da fala de terceiros e dificuldade de compreensão, Afasia Progressiva Primária Semântica (APPS), que faz com que o paciente se torne incapaz de encontrar palavras específicas para o que quer dizer, e Afasia Progressiva Primária Logopênica (APPL), considerada mais parecida com o Alzheimer e caracterizada por longas pausas e hesitações durante o discurso. Em resumo, todos os quadros afetam a capacidade de compreensão e expressão da linguagem.
Geralmente, a APP ocorre em pessoas que têm entre 45 e 65 anos. “O tempo de progressão da doença é de cinco a dez anos, mas pode variar de acordo com cada paciente”, explica José Marcos Vieira de Albuquerque Filho, neurologista do Hospital Japonês Santa Cruz (SP).
Principais sintomas das afasias progressivas primárias
“O paciente consegue, inicialmente, preservar a compreensão, mas a depender do suptipo da doença, demonstra dificuldade de elaborar frases, comete erros de concordância nominal e verbal, e passa a alterar os sons de sílabas, o que chama bastante a atenção da família”, explica Albuquerque Filho.
Outros sintomas, de acordo com o médico, é a falta de sintaxe. “A pessoa erra a ordem das palavras é também é comum ocorrer disgrafia [alteração na qualidade da caligrafia] e dislexia [dificuldade de leitura]. O paciente que antes escrevia e lia corretamente começa a ter esses déficits de maneira progressiva.”
Não há um exame específico que aponte o diagnóstico de APP. “Para termos a confirmação da doença é feita uma avaliação cognitiva, para checar domínios foram comprometidos, e avalia o histórico clínico do paciente. Exames de imagem podem ser pedidos, mas nem sempre mostram alterações” diz, a médica neurologista Thaís Augusta Martins, do Hospital Santa Lúcia, em Brasília.
Com o passar do tempo, complementa Martins, os pacientes também podem sofrer alterações de memória em geral.
“A afasia progressiva primária se assemelha muito à doença de Alzheimer, que também tem como suas primeiras manifestações as alterações de linguagem. A diferença é que não é tão desproporcional aos outros aspectos cognitivos – na APP, esses sintomas tendem a ser bem mais marcantes.”
Tratamento
Não há cura e nenhum medicamento específico para os tipos de afasia progressiva primária. Os remédios utilizados servem para controlar os sintomas, além das atividades de reabilitação, como fisioterapia e fonoaudiologia.
Mesmo com esses tratamentos que visam melhorar o bem-estar e a qualidade de vida do paciente, por ser uma condição neurodegenerativa, a doença ainda assim irá progredir com o tempo.
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