Foto: Claudia Vitorino/ Arquivo pessoal
Até agora o sinistro envolvendo o avião da Voepass caído em Vinhedo que matou 62 pessoas continua envolto em mistério. Peritos em acidentes aéreos inicialmente convergiram para a tese do acúmulo de gelo sobre as asas da aeronave prejudicando-lhe a dirigibilidade no plano horizontal e ocasionando-lhe o mergulho rotativo ou em parafuso.
Um dos expertos afirmou que se houvesse acúmulo de gelo bastava reduzir a altitude, saindo das nuvens e voando abaixo delas que o gelo derreteria. O piloto não conseguiu realizar essa manobra inobstante a caixa preta haja registrado grande aceleração dos motores certamente para direcionar o avião ao voo na horizontalidade.
A caixa preta que grava conversação na cabine do piloto e do copiloto não registrou referencia entre eles sobre a emergência. Tudo foi muito rápido entre a perda de sustentação e o choque no solo, um minuto apenas. As vítimas do infortúnio tiveram pouco tempo para manifestar o temor ao fim de que estavam próximas, gravando-se seu alarido instantâneo, seguido pelo breve silêncio e o estrondo do espatifamento e da explosão com fumaça negra e labaredas de fogo ardendo sobre os destroços e adjacências.
Descobrir as causas do acidente é absolutamente necessário. Não restitui a vida aos que pereceram, mas previne novas tragédias em casos semelhantes, punindo-se a Voepass é seus dirigentes se provado descaso com a manutenção da aeronave sinistrada imputando-se responsabilidade aos que avaliaram displicentimente as condições de voo do referido transporte de passageiros.
É crime colocar sucata no ar em risco de morte das pessoas conduzidas e das que ficam no chão. Note-se que o avião foi várias vezes recolhido às oficinas este ano para reparos, quase morou nelas, e um dia antes do voo fatídico apresentou defeito na refrigeração e vazamento de óleo. A TV Globo exibiu vídeo de um passageiro sem camisa e outros abanando-se por conta do calor. A sociedade tem o direito de saber sobre se as autorizações de voo da aeronave acidentada coincidem com as condições de segurança realmente existentes.
Dez pessoas escaparam de embarcar por circunstâncias que só o destino explica. Quase todas salvas por atraso no embarque, uma delas por apenas 2 minutos, e teve a colorada discussão com o funcionário do aeroporto. A raiva momentânea, a indignação, cederam lugar às lágrimas e agradecimento a Deus que pusera tais pessoas em seu caminho. Uma jovem teve como anjo da guarda o pai que telefonou pedindo-lhe que adiasse a viagem para data posterior ao dia dos pais. Ela não viajou e continua viva.
A morte é caprichosa e chega de surpresa. Preparemo-nos para Deus e estejamos prontos para desencarnar a qualquer hora, do contrário ficaremos abalados até por não haver morrido como sucedeu às várias pessoas que escaparam à inclusão nesse voo.
José de Siqueira Silva é Coronel da reserva da PMPE
Mestre em Direito pela UFPE e Professor de Direito Penal
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23/08/2024 às 15:14