- Laura Bicker e Suchada Phoisaat
- Da BBC News em Nong Bua Lamphu, Tailândia
Emmy, de três anos, estava tirando uma soneca ao lado da melhor amiga na creche que frequenta, no nordeste da Tailândia, quando um atirador invadiu o local com uma espingarda, uma pistola e uma faca.
A classe, de 11 crianças de idades parecidas às de Emmy, havia passado as horas anteriores desenhando e pintando. Por volta das 10h (hora local), os professores mandaram fotos das crianças para seus pais – elas estavam felizes e sorridentes.
Duas horas depois, no momento da soneca, o ex-policial Panya Kamrab invadiu o local. Testemunhas dizem que ele primeiro disparou contra funcionários da creche, incluindo uma professora grávida de oito meses, antes de entrar em três salas de pré-escola.
Ele assassinou todos os colegas de classe de Emmy enquanto dormiam.
Não está claro como ela conseguiu sobreviver. Mas Emmy foi encontrada acordada, ao lado dos corpos dos amiguinhos.
“Ela não tinha ideia do que estava acontecendo quando acordou”, diz seu avô, Somsak Srithong, em entrevista à BBC na casa da família.
“Ela achava que seus amigos ainda estavam dormindo. Um policial cobriu o rosto dela com um pano e a carregou para longe de todo o sangue.”
As equipes de resgate levaram Emmy para o segundo andar da escola para preservá-la da cena de terror. Daí vasculharam as duas outras salas, na esperança de encontrar mais sobreviventes.
Emmy, porém, é a única das três salas invadidas pelo atirador na cidade de Nong Bua Lamphu, na última quinta-feira (6/10). No total, 37 pessoas morreram, incluindo a mulher e enteado do agressor. Vinte e quatro desses mortos são crianças. O agressor cometeu suicídio.
“Me sinto muito grato por ela ter sobrevivido. Abracei ela tão forte quando a vi”, diz Somsak sobre Emmy.
A mãe de Emmy, Panompai Srithong, trabalha em Bangkok durante a semana. Ao saber que todas as crianças da creche haviam morrido, precisou ser convencida de que a filha estava viva.
“Quando finalmente fiz uma chamada de vídeo com Emmy, me senti abençoada com o alívio”, conta.
Mas a pequena cidade agora está repleta de famílias devastadas. Os avós de Emmy têm tido dificuldade em explicar o ocorrido à garotinha.
Enquanto seus parentes conversam com a BBC, ela brinca no quintal usando suas botas da Hello Kitty. Ela pergunta com frequência sobre sua melhor amiga, Pattarawut, cujo apelido era Taching. A menina também tinha três anos.
As duas sempre tiravam sonecas juntas, com os pés encostados uma na outra.
Emmy também guarda boas memórias da creche e sonhava em ser como seus professores.
“A avó dela acabou contando a ela que seus amigos da creche haviam morrido, junto com os professores, e que a creche está fechada”, diz a mãe.
“Ela gosta de ir para a escola todos os dias. Temos de repetir a ela que a creche fechou. Ela é muito pequena para entender o conceito de morte.”
Ritos fúnebres e orações budistas pelas vítimas estão ocorrendo em diversos templos da cidade, para marcar o início de um luto de três dias.
O motivo do ataque ainda é desconhecido. A polícia informa que Kamrab foi despedido de seu emprego nas forças de segurança em junho, em decorrência do uso de drogas.
No mesmo dia do ataque, ele havia comparecido a uma audiência judicial, por acusação de comércio de metanfetamina. O veredito do seu caso era previsto para o dia seguinte.
A pequena comunidade rural do nordeste da Tailândia está tentando dar apoio às famílias enlutadas. Mas muitos também têm questionado a ampla disponibilidade de armas no país – há cerca de uma arma de fogo para cada sete cidadãos tailandeses, segundo a Reuters, e 40% desses armamentos são ilegais -, bem como o crescente problema relacionado ao uso de drogas.
“Os pais se perguntam: ‘qual é o lugar seguro para as crianças?’ Estou tão triste, e imploro às autoridades que reforcem nossa segurança”, diz Veerachai Srithong, tio de Emmy.
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