- Author, Hugo Bachega
- Role, Da BBC News no sul do Líbano
Não muito longe da fronteira do lado libanês, na cidade de Bein Jbeil, no sul, havia silêncio nas ruas. A maioria das lojas estavam fechadas.
Meia dúzia de homens, entre as poucas pessoas vistas do lado de fora, estavam sentados ao redor de uma mesa de plástico. Alguns comiam pizza; outros estavam fumando. Eles não pareciam preocupados.
“Não vou partir a menos que [a situação] fique fora de controle, o que duvido”, disse Mohammed Baidoun, de 52 anos, sob o olhar atento de vigilantes do Hezbollah, que vieram de várias direções assim que chegamos. “Tenho fé na resistência que temos aqui… Acredito no fundo que [o Hezbollah] nos protegerá.”
A questão sobre o que o Hezbollah fará paira sobre todo o país.
O grupo, tal como o Hamas, é considerado uma organização terrorista pelo Reino Unido, pelos EUA e outros países. O seu líder, Hassan Nasrallah, permaneceu em silêncio desde o início da guerra Israel-Hamas.
Naim Qassem, o número dois do Hezbollah, descreveu o grupo como “totalmente pronto”, dizendo que não se deixaria intimidar por apelos dos EUA e de outros para se manterem afastados. Mas a sua natureza secreta significa que é difícil saber quais os preparativos que poderiam estar fazendo.
Há muito tempo que Israel vê o Hezbollah, que também é um movimento social e político criado na década de 1980, como uma força muito mais poderosa que o Hamas: o grupo tem um vasto arsenal de armas, incluindo mísseis guiados de precisão que podem atingir profundamente o território israelense, bem como dezenas de milhares de combatentes bem treinados e experientes em batalha.
As ações do Hezbollah limitaram-se a ataques transfronteiriços, ao longo da Linha Azul definida pela ONU, a fronteira não oficial entre o Líbano e Israel.
O grupo trocou mísseis e tiros de artilharia com os militares israelenses várias vezes por dia, enquanto as suas facções palestinas aliadas também realizaram ataques, incluindo várias tentativas de incursões em Israel a partir do sul do Líbano.
Os confrontos resultaram em mortes de ambos os lados, incluindo civis.
E residentes também estão fugindo do lado israelense.
Na semana passada, os militares israelenses disseram que estavam evacuando pessoas da cidade de Kiryat Shmona, no norte, que tem cerca de 20 mil residentes. O local foi atingido por foguetes nos últimos dias.
Dias antes, anunciou a evacuação de 28 comunidades e criou uma zona proibida a 2 km da fronteira.
As tensões no Líbano aumentaram ainda mais após a explosão em um hospital em Gaza.
Israel foi imediatamente responsabilizado pelo Hamas, mas os militares israelenses disseram que a explosão foi causada por um foguete militante palestino que falhou.
O Hezbollah, no entanto, descreveu a ação como um “massacre” perpetrado por Israel e, em Beirute, centenas dos seus seguidores protestaram, entoando slogans antiamericanos e anti-israelenses. Mas foi uma pequena demonstração daquilo que o grupo descreveu como um “dia de raiva sem precedentes”.
Uma fonte familiarizada com o pensamento do Hezbollah, que falou sob condição de anonimato, disse que as ações do grupo seriam determinadas pelo que acontecer em Gaza. “Se os israelenses invadirem [o território]”, disse a fonte, “isso levará a uma catástrofe regional”.
Alguns acreditam que a decisão sobre o que fazer a seguir provavelmente virá do principal apoiador do Hezbollah, o Irã.
Israel acusou Teerã de ordenar ao Hezbollah que realizasse uma série de ataques em seu território no fim de semana passado. Teerã, entretanto, disse que a “frente de resistência”, a sua aliança de forças na região com grupos na Síria, no Iraque e no Iêmen poderia levar a uma “ação preventiva”.
Antes do último surto de violência, o consenso entre os observadores era que nem Israel nem o Hezbollah estavam interessados numa outra guerra, já que muitos ainda se lembram do conflito devastador que durou um mês em 2006.
O Líbano ofre uma crise econômica que remonta a anos atrás, e as lutas políticas internas deixaram o país sem um governo ou presidente funcionais, enquanto as divisões sectárias foram exacerbadas.
A oeste de Bein Jbeil, na aldeia fronteiriça de Dhayra, ataques retaliatórios israelenses atingiram a mesquita local e algumas casas na semana passada.
Sabrina Fanash, uma residente de 36 anos que se mudou para Beirute depois do início da guerra, foi veemente nas suas críticas aos militantes que, segundo ela, usavam a sua aldeia de maioria sunita para os seus ataques.
“Não é justo que as nossas casas fiquem assim. Quem as reconstruirá?” ela disse, caminhando pelos escombros da casa parcialmente destruída de seu primo.
“Estamos todos tristes… Dependemos de Deus, Deus nos protegerá”.
Fonte: BBC
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