O tempo na contagem do calendário é sempre igual. Varia, relativiza-se, na percepção das pessoas. Pode ser estimado para o futuro e quantificado para o passado, mas só é disponível no presente. Existe apenas quando o espírito se materializa em corpo humano. Fora do corpo, o agora, o antes e o depois são impensáveis, como referências no indivisível infinito da eternidade. O eterno é atemporal. Seria absurdo estipular, por exemplo, a idade de Deus, porque Ele sempre existiu, existe e existirá, transcende à dimensão da temporalidade, excede os limites da compreensão humana. O espírito, e Deus é espírito, descabe nos espaços da existência terrena que perde o sentido como grandeza, como noção de medida. No campo da espiritualidade, ninguém é novo ou idoso, conta-se a evolução e a luminosidade.
Entre os homens, sentir o tempo varia de pessoa para pessoa. Uns o acham curto, mesmo que hajam vivido cinquenta, oitenta ou cem anos. E quanto mais se vive, menos resta a viver. Outros acham um tédio existir, e se suicidam ou se entregam a práticas perigosas, nada longevas, como a violência da criminalidade, a velocidade excessiva no trânsito de veículos automotores, o vício das drogas, a inércia da indolência. Tanto o furor da pressa, quanto a imobilidade da preguiça, matam.
Os pentaplégicos, os portadores de enfermidades dolorosas e de cura improvável, sofrem a existência como um fardo que parece insuportável, o tempo arrasta-se lento, quase parando, e às vezes esses enfermos imploram pela eutanásia. Outros dizem que a pior vida do mundo é melhor do que a morte. Para estes a velocidade do tempo aflige, sua fugacidade aterroriza, enlouquece. Quanto mais rápido vai, mais cedo acaba, menos tem a seguir. Para os que cumprem pena encarcerados, anos duram séculos, os dias que faltam para a liberdade são vividos como intermináveis. Um verdadeiro suplício.
Os jovens, em suas folganças e orgias às vezes, não sentem o envelhecer. Surpreendem-se ao se contemplarem no espelho após tempos sem mirar-se atentamente. Estranham inicialmente quando os pedintes de rua os chamam de pai ou de tio e as crianças desconhecidas preferem tratá-los como vovô. Aí cai a ficha, descobre-se a vida longa em curto tempo e começa o esforço para rejuvenescer, as cirurgias plásticas encobrindo as rugas, a luta contra os efeitos dos radicais livres, alongar a existência que se supõe vindoura, mascarar o rastro deletério do tempo.
Lutemos para demorarmo-nos mais existindo, todavia, sem desespero. Tenhamos fé e esperança nos desígnios de Deus, mas se o final é chegado, aceitemo-lo com resignação. Ninguém nasce para semente, nem para ser múmia ambulante.
José de Siqueira Silva é Coronel da reserva da PMPE
Mestre em Direito pela UFPE e Professor de Direito Penal
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23/08/2023 às 19:19