- Luis Barrucho – @luisbarrucho
- Da BBC News Brasil em Londres
A árvore mais alta da Amazônia — um angelim-vermelho de aproximadamente 400 anos, 9,9 metros de circunferência e 88,5 metros de altura, o equivalente a um prédio de 30 andares — “corre perigo” por causa da ação ilegal de grileiros e garimpeiros, alertam ambientalistas.
A árvore, que foi descoberta em setembro durante uma expedição apoiada pela ONG Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon), faz parte de um conjunto de árvores gigantes encontradas na Floresta Estadual (Flota) do Paru, na divisa dos Estados do Amapá e do Pará.
Ela é maior, por exemplo, do que alguns dos principais cartões postais do mundo, como a Grande Esfinge de Gizé (20 metros), no Egito, o Cristo Redentor (38 metros), no Rio de Janeiro e a Torre de Pisa (57 metros), na Itália. Por pouco não ultrapassa o Big Ben (96 metros), em Londres, na Inglaterra e a Estátua da Liberdade (93 metros), em Nova York, nos EUA.
A Flota do Paru é a terceira maior unidade de conservação de uso sustentável em floresta tropical do mundo. O bioma tem 36 mil km², cerca de três vezes o tamanho do Catar, que sediou a Copa do Mundo de 2022.
Ou seja, ali é permitida a exploração sustentável de parte dos recursos naturais desde que aliada à conservação da natureza.
No entanto, ambientalistas afirmam que não é isso que vem ocorrendo. Segundo eles, a Flota do Paru, que pertence ao maior bloco de áreas protegidas do mundo, sofre com a ação de grileiros e garimpeiros — em novembro, foi a terceira unidade de conservação mais desmatada de toda a Amazônia.
Dados baseados em imagens de satélite do Sistema de Alerta de Desmatamento (SAD) do Imazon mostram que a floresta já perdeu 46,5 km² de cobertura vegetal desde 2008. Já dados do Projeto de Monitoramento do Desmatamento na Amazônia Legal por Satélite (PRODES) do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), também baseados em imagens de satélite, indicam um número maior em igual período: 74 km².
Ambos apontam um pico de desmatamento em 2019, primeiro ano do governo de Jair Bolsonaro (PL), acusado de beneficiar desmatadores e criticado por sua política ambiental em relação à Amazônia. Desde 2019, o Pará é governado por Helder Barbalho (MDB), reeleito nas eleições de outubro. Ele se manteve neutro nas eleições presidenciais daquele ano e declarou apoio ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) no último pleito.
Na última quinta-feira (15/12), a Imazon e outras nove ONGs lançaram uma campanha online com a hashtag #ProtejaAsArvoresGigantes, com o objetivo de chamar a atenção da sociedade para a necessidade de o governo do Pará fiscalizar e monitorar a área.
Segundo Jakeline Pereira, pesquisadora do Imazon e conselheira da Flota do Paru, as árvores gigantes estão ameaçadas pela grilagem de terras e, sobretudo, pelo garimpo ilegal de ouro.
“No limite sul da unidade de conservação, está havendo uma mudança de ocupação do solo, com arrendamento de terras para a agropecuária e retirada ilegal de madeira”, diz ela à BBC News Brasil.
“Mas são os garimpos ilegais de ouro que estão mais próximos das árvores. Apesar de o desmatamento causados por eles não ser tão grande, uma vez que abrem uma pequena clareira na floresta e usam métodos artesanais, o impacto acaba sendo, pois se usa mercúrio e promove a circulação de pessoas dentro da unidade de conservação. Um levantamento estimou em 2 mil o número de garimpeiros na área em 2009”, acrescenta.
Pereira diz que, para acessar o local onde ficam as árvores gigantes, na última expedição de setembro, os pesquisadores “passaram pelos garimpos”.
“O local é uma região de difícil acesso, com rios encachoeirados. É preciso andar muito tempo na floresta, então o acesso é bem ruim”, diz.
Segundo a especialista, essas árvores gigantes não são comuns na região — o angelim-vermelho é “uma espécie madeireira”, que cresce normalmente “entre 25 e 30 metros”, explica.
Com 88,5 metros, o angelim-vermelho gigante tornou-se a quarta árvore viva mais alta documentada pelo Guinness World Records, o livro dos recordes. A maior do mundo é uma sequoia de 116 metros localizada no Parque Nacional de Redwood, no Estado da Califórnia, nos Estados Unidos.
Segundo Pereira, “além da maior árvore da Amazônia, a Flota do Paru tem várias espécies endêmicas, aquelas que só existem em uma determinada região. É uma área importante para preservar a biodiversidade local, conter as mudanças climáticas e tem enorme potencial para ecoturismo e extrativismo vegetal, que pode gerar renda com a floresta em pé”.
“Portanto, não podemos perder nosso patrimônio para esses infratores, precisamos de fiscalização e efetiva implementação do plano de manejo para impedir a destruição”, conclui.
De janeiro a novembro, 10.286 km² de floresta na Amazônia foram derrubados, o equivalente a mais de 3 mil campos de futebol por dia. É o pior acumulado dos últimos 15 anos, segundo dados do Sistema de Alerta de Desmatamento (SAD) do Imazon. Somente o Pará foi responsável por desmatar 279 km² em novembro, quase a metade do que foi registrado em toda Amazônia.
Outro lado
Em comunicado enviado à BBC News Brasil, o governo do Pará, por meio do Instituto de Desenvolvimento Florestal e da Biodiversidade (IDEFLOR-Bio) informa que “recebeu uma denúncia de invasão de grileiros nas áreas da Unidade de Conservação (UC) da Floresta Estadual do Paru (Flota Paru), que estão sob concessão florestal, na porção sudeste da (UC), especificamente nas Unidades de Manejo Florestal (UMF) 1 e 2, que somam 190 mil hectares e representam 5,3% da FLOTA (3,613 milhões de hectares)”.
“Desde o dia 08 de dezembro uma equipe da Diretoria de Gestão de Floresta Pública do Ideflor-Bio e Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Sustentabilidade (Semas) e Polícia Civil, incluindo a Polícia Científica, estão na área sob concessão florestal averiguando estas denúncias. Informamos também, que por meio da Diretoria de Gestão e Monitoramento das Unidades de Conservação (DGMUC), o Ideflor tem avançado na implementação das Unidades de Conservação, estabelecendo ferramentas importantes de gestão como: a elaboração dos Planos de Manejo das (UCs), utilizando metodologia participativa de todos os setores que representam a sociedade civil organizada; garantia da participação direta como cogestores, nos Conselhos Gestores, discutindo e trazendo soluções para todos os problemas que envolvem as Unidades de Conservação”, conclui a nota.
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