- Chelsea Bailey
- Da BBC News em Washington
Mas como uma mulher negra de 65 anos que cresceu no sul americano na época da segregação, Roberts conta que foram as discussões muito francas sobre raça e racismo que mais a tocaram.
Ela afirma que lembrou de algumas de suas próprias experiências na admissão de Meghan de que sentia que precisava constantemente provar a si mesma e que nunca seria boa o suficiente.
“Fui chamada de ‘negra raivosa’ e de todos os xingamentos usados para rebaixar e desumanizar as mulheres negras, então certamente simpatizei e me identifiquei [com a duquesa]”, diz.
A questão racial foi um tema central da série de seis episódios, mas não da maneira que muitos esperavam.
Não houve novas revelações sobre o forte relato de Meghan em sua entrevista a Oprah Winfrey de que um membro da família real havia questionado o quão “escura” seria a pele de seu bebê.
Em vez disso, o casal usou o documentário da Netflix para argumentar que o fato de Meghan ser mestiça (sua mãe é negra e seu pai, branco) foi um fator subjacente ao que eles descreveram como uma campanha implacável dos tablóides contra ela – e, mais obviamente, ao racismo que ela sofreu na internet.
É uma narrativa que Roberts reconhece. Em 2018, Meghan ajudou a popularizar a hashtag #SussexSquad, quando sua linha do tempo foi inundada com comentários racistas sobre ela após o casamento real. A campanha rapidamente ganhou tração com homens e mulheres de todo o mundo – predominantemente pessoas não-brancas – que queriam usar a mídia social para apoiar a duquesa e sua família.
“Uma questão complicada é que se você não teve que lidar com racismo, ou se não foi vítima dele, pode ter dificuldade em reconhecê-lo”, diz Roberts. “
A dor do racismo
Na série, o príncipe Harry revelou que uma das primeiras reações que viu ao anúncio do nascimento de seu filho Archie foi uma postagem de Danny Baker, ex-apresentador da BBC, que publicou no Twitter um foto de um casal de mãos dadas com um chimpanzé.
“No alto estava escrito ‘bebê real saindo do hospital’. Essa foi uma das primeiras coisas que vi”, disse o príncipe Harry. Baker pediu desculpas e mais tarde foi demitido.
O empresário de tecnologia americano Christopher Bouzy disse à BBC que os filhos do casal eram regularmente comparados a macacos em ataques na internet, com um xingamento racista e extremamente ofensivo frequentemente usado contra Meghan.
Bouzy apareceu na série porque sua empresa, Bot Sentinel, descobriu que um pequeno, mas poderoso número de contas anti-Meghan eram responsáveis por grande parte do conteúdo de ódio no Twitter.
“Parecia até uma máquina de conteúdo russa”, disse Bouzy. “Não estou dizendo que não há pessoas por aí que simplesmente não gostam dela por qualquer outro motivo, mas a minha opinião, olhando para cenário mais amplo, é que é impossível ver tudo isso e chegar à conclusão de que não se trata de uma questão racial.”
RS Locke, uma observadora e comentarista americana sobre a família real, afirmou que a perseguição contra Meghan estava enraizada em ódio por uma pessoa simplesmente porque ela é negra e mulher. A série de documentários, ela disse, capturou a mudança dramática no tom da cobertura da mídia que ela testemunhou nos anos após o casamento real.
“O Reino Unido, assim como o resto do mundo, quer se ver aceitando e abraçando esse casal tão diverso e moderno”, disse ela. Mas o racismo que Meghan sofreu desde então mostraram o quanta ainda falta avançar. “É um cabo de guerra entre como nos vemos e quem somos.”
O problema do colorismo
Enquanto muitos negros americanos receberam bem Harry e Meghan falando sobre racismo – incluindo questões difíceis como o legado da escravidão e do colonialismo – a duquesa também foi criticada por dizer que se sentiu surpreendida pela realidade de viver como uma mulher negra.
No segundo episódio da série, Meghan conta como foi crescer sendo birracial na América. A duquesa – que tem a pele parda clara e o cabelo liso – dá a entender que nunca foi discriminada ou “tratada como uma mulher negra” até se mudar para o Reino Unido.
Ao crescer, ela explicou, sua mãe nunca teve a “conversa” com ela – uma discussão franca que muitas famílias são forçadas a ter com os filhos sobre a realidade do racismo, a discriminação e os desafios de ser negro nos Estados Unidos.
Para alguns que assistiram à série, essa admissão foi como um tapa na cara.
“Eu não entendo isso, como ela foi criada por uma mulher totalmente negra na América e diz que seus pais nunca falaram com ela sobre ser negra”, postou um usuário no Twitter. “Deveríamos vê-la como uma mulher negra, mas ela nunca se identificou conosco.”
Outros queriam que a duquesa esclarecesse se ela havia se identificado como uma mulher negra antes de se casar com o príncipe Harry.
Roberts disse que percebeu que a declaração dada por ela mostrou que o colorismo (discriminação maior dos brancos contra pessoas mais retintas e menor contra pessoas pardas) ainda é um problema nos Estados Unidos. A ativista afirma que não quer perpetuar o preconceito culpando a duquesa por ter tido experiências de vida diferentes das que ela teve ao crescer com uma tez mais escura.
Muitas pessoas comentando nas redes sociais concordaram com ela.
“Meghan percebeu que ter permissão não significa necessariamente aceitação. Diversidade não é necessariamente inclusão”, tuitou um usuário. “É um momento pelo qual a maioria dos negros passa. E é hora de escolher se o ‘lugar na mesa’ vale a dor e a humilhação.”
Roberts diz que assistir a Harry e Meghan apresentarem sua versão sobre o que aconteceu – e sobre o que deu errado – foi especialmente emocionante por ter sido uma oportunidade perdida para a família real.
“É simplesmente trágico que a instituição não tenha percebido que joias eles tinham na mão com o príncipe Harry e a duquesa Meghan. É uma pena que eles não tenham percebido que essas duas pessoas podem alcançar membros do público britânico e do mundo que o resto da realeza não pode alcançar”, afirma.
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