- Author, Louise Gentle
- Role, The Conversation*
Alguns insetos têm pênis destacáveis. Outros produzem espermatozoides 20 vezes maiores que o tamanho do próprio corpo.
Outros evoluíram até ficarem particularmente equipados para dilacerar seus rivais na busca de possíveis parceiros.
Os besouros lucanos machos (o maior besouro da Europa) possuem enormes mandíbulas. Elas são chamadas de chifres e permitem separar pares em acasalamento.
Este comportamento é observado em inúmeros besouros, com chifres de diferentes formatos que evoluíram para diferenciar os machos das fêmeas. O besouro-rinoceronte-japonês, por exemplo, possui um chifre que parece uma forquilha.
Os besouros também usam os chifres em batalhas, para enfrentar outros machos pelo acesso às fêmeas.
Em muitas espécies de besouros, os machos menores não têm possibilidade de vencer uma luta. Por isso, eles evoluíram táticas dissimuladas de acasalamento.
Eles esperam os machos maiores lutarem e, enquanto estão distraídos, eles se aproximam sorrateiramente para copular com a fêmea.
Pequenos besouros-do-esterco se esgueiram entre os machos grandes que protegem as entradas para os túneis onde ficam as fêmeas. Eles então cavam passagens secretas para encontrar as fêmeas nos subterrâneos, enquanto os machos maiores estão de costas.
Concorrência pelo esperma
Além da competição física entre os machos, existe também a concorrência entre o seu esperma para fertilizar os ovos.
No reino animal, as fêmeas raramente são fiéis aos seus machos. Por isso, provavelmente existe esperma de diversos machos no trato reprodutivo da fêmea.
Os machos evoluíram diversas formas de combater esta questão, como a produção de esperma em grande quantidade. O esperma da mosca-das-frutas, por exemplo, tem quase 6 cm de comprimento quando desenrolado — cerca de 20 vezes o tamanho da mosca.
Mas o método mais extraordinário de vencer a concorrência pelo esperma talvez seja o observado entre os machos da ordem Odonata (como as libélulas e donzelinhas).
Eles têm pênis ornamentados — completos, com ganchos e chicotes — para deslocar o esperma dos machos rivais e colocar o próprio esperma nos cantos mais distantes do trato reprodutivo das fêmeas, longe dos pênis de outros machos.
E não são apenas os machos que têm pênis elaborados. As fêmeas de insetos cavernícolas no Brasil também competem pelo acesso aos machos.
A genitália desses insetos é invertida entre os sexos. Os machos têm uma abertura e as fêmeas têm um órgão erétil pontiagudo. A fêmea usa o seu “pênis” para sugar o esperma do macho. Ela consegue até escolher em qual das duas câmaras do seu corpo o esperma será armazenado.
Acredita-se que este comportamento tenha evoluído como forma de adaptação à oferta limitada de alimento, enquanto as fêmeas conseguem energia se alimentando do fluido seminal recebido durante a cópula, que pode durar até 70 horas.
Já as borboletas vivem apenas por algumas semanas. Por isso, se os machos quiserem ser pais, eles não podem perder tempo — mas existem exceções.
Muitas borboletas ficam sexualmente maduras assim que saem da crisálida. Por isso, em algumas espécies, os machos emergem poucos dias antes das fêmeas. Eles então se sentam e esperam para copular com as fêmeas o mais rápido possível.
Outro comportamento perturbador é observado entre os percevejos-de-cama.
Os machos simplesmente perfuram o abdômen da fêmea e injetam o esperma através da ferida, até a sua cavidade abdominal. E, como os insetos têm sistema circulatório aberto — sem veias, nem artérias —, o esperma pode migrar facilmente da cavidade abdominal até os ovários, para fertilização.
Canibalismo sexual
O comportamento sexual mais famoso entre os insetos provavelmente é o do louva-a-deus. A fêmea arranca e come a cabeça do parceiro durante ou após o sexo, para conseguir nutrientes para ela e sua ninhada. Esse comportamento aumenta a quantidade de ovos fertilizada pelo macho.
Recentemente, os cientistas descobriram que os machos também atacam as fêmeas. Eles não se alimentam delas, mas, às vezes, causam graves feridas.
Os machos que vencem o combate com as fêmeas têm mais chance de se acasalar, em vez de serem apenas comidos.
Cintos de castidade
Muitos insetos machos só conseguem acasalar uma vez, mesmo quando não são comidos pelas parceiras. Os zangões, por exemplo, ejaculam com tanta força explosiva que os seres humanos conseguem ouvi-los.
Isso garante a transferência do esperma para a fêmea, mas resulta em paralisia e morte do macho. Por isso, eles precisam dar o máximo das suas explosões.
Uma forma de evitar que outros machos se acasalem com uma fêmea é produzir um tampão copulatório — algo que evite que outro macho insira o seu esperma em uma fêmea para fertilizá-la.
A aranha-anã europeia produz um tampão deste tipo. Ela secreta um líquido durante a cópula que endurece ao longo do tempo.
Pesquisadores descobriram que copulações mais longas resultam em tampões maiores, cuja remoção por outros machos é mais difícil.
Para garantir que ninguém mais se acasale com a sua fêmea depois da sua morte, o macho das aranhas orbitelares evoluiu ao extremo seu tampão copulatório. Ele tem um pênis destacável que permanece dentro da fêmea ao término da cópula.
É comum que a ponta do pênis de uma aranha se quebre dentro da fêmea, evitando a penetração por outros machos. Mas o pênis destacável da aranha orbitelar tem mais uma função: ele continua transferindo sozinho o esperma por mais de 20 minutos, aumentando o sucesso do acasalamento.
Como se pode ver, os artrópodes são animais surpreendentes.
* Louise Gentle é professora de conservação da vida selvagem da Universidade Trent de Nottingham, no Reino Unido.
Fonte: BBC
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