- Author, Aleem Maqbool
- Role, Editor de religião da BBC
- Twitter, @AleemMaqbool
O papa Francisco parece se divertir confundindo e surpreendendo as pessoas. E aqui está ele outra vez.
Ao longo dos anos, ele já pareceu indicar muitas vezes que estaria reduzindo suas atividades. E, em seguida, ele reaparece.
Com quase 88 anos, o papa sofre com dores no joelho que dificultam sua mobilidade. Ele também tem problemas abdominais causados por uma diverticulite e apresenta dificuldades respiratórias, devido à retirada da maior parte de um dos seus pulmões.
No segundo semestre do ano passado, o papa declarou que seus problemas médicos dificultam suas viagens ao exterior. Pouco depois, ele cancelou uma visita aos Emirados Árabes Unidos, aumentando as especulações sobre a gravidade do seu estado de saúde.
Mas isso foi quase um ano atrás.
Em setembro, Francisco enfrenta a mais longa viagem ao exterior dos seus 11 anos e meio de pontificado.
Com uma agenda repleta de compromissos, seu roteiro inclui, além do Timor Leste, três países onde os católicos são minoria: Indonésia, Papua-Nova Guiné e Singapura.
Por que o papa está viajando tanto e para tão longe de casa? Seus apoiadores acreditam que ele seja levado pela sua paixão.
“Obviamente, ele tem imensa energia, que é fruto da total paixão pela sua missão”, explica o padre Anthony Chantry, diretor da organização missionária do papa, Missio, no Reino Unido. Ele foi recentemente nomeado pelo Vaticano para o Dicastério para a Evangelização.
“Ele diz que todos nós temos a incansável missão de nos aproximarmos das pessoas, para dar o exemplo”, afirma Chantry.
Evangelização
A “missão” cristã evoluiu ao longo dos séculos. Seu objetivo ainda é difundir o evangelho, mas, agora, com foco declarado sobre a justiça social e o trabalho beneficente.
A longo da viagem, o papa Francisco irá encontrar missionários, incluindo um grupo argentino que se estabeleceu em Papua-Nova Guiné.
Mas em diversas visitas à Ásia, incluindo a atual, ele também se aproxima da China, um país com profundas suspeitas em relação à Igreja, sua missão e seus propósitos.
O papa enfatiza com frequência a importância da evangelização para todos os católicos. Mas, em muitas partes do mundo, ainda é difícil separar a ideia de “missionários” e “evangelização” do histórico da colonização europeia.
Com a diminuição do número de católicos na Europa, estariam a “missão” e a “evangelização” da Ásia e da África agora relacionadas à expansão da Igreja naquelas partes do mundo?
“Acho que ele está pregando o evangelho de amor que não irá fazer mal a ninguém”, afirma o padre Chantry. “Ele não está tentando obter apoio para a Igreja, não é disso que trata a evangelização.”
“Isso não deve ser chamado de proselitismo, que não é o que fazemos há muito tempo. Não é a agenda do Santo Padre e não é a agenda da Igreja. O que fazemos é compartilhar e ajudar as pessoas de todas as formas possíveis, independentemente da sua fé ou de não terem fé.”
Chantry afirma que ser um missionário cristão nos dias de hoje, que é o exemplo sendo deixado por Francisco, envolve fazer o trabalho do bem e ouvir. Mas, às vezes, também é questionar ideias, “quando necessário”.
“Acreditamos que Deus irá fazer o resto e, se isso levar as pessoas a aceitarem Jesus Cristo, está ótimo”, explica ele. “E, se ajudar as pessoas a apreciar mais a sua própria espiritualidade, sua própria cultura, acho que será mais uma vitória.”
O papa, certamente, fala há muito tempo sobre a harmonia e o respeito entre as religiões. Uma das imagens mais emblemáticas da sua viagem atual foi o momento em que o papa beijou a mão do grande imã da Mesquita Istiqlal em Jacarta, na Indonésia, levando-a até o rosto.
Francisco foi recebido calorosamente pelas pessoas que saíram para vê-lo no mais populoso país de maioria muçulmana do mundo.
A última parada da maratona asiática do papa Francisco será em Singapura, onde cerca de 75% da população são de etnia chinesa – mas a minoria católica do país está fortemente envolvida em trabalhos missionários, nas regiões mais pobres.
Há séculos, Singapura é uma espécie de centro regional estratégico para a Igreja Católica. Tudo o que o papa disser e fizer ali provavelmente será acompanhado de perto na China e pelos católicos que vivem no país.
É difícil ter uma noção concreta dos números, mas estimativas indicam cerca de 12 milhões de pessoas.
A falta de clareza destes números se deve, em parte, ao fato de que os católicos da China estão divididos entre a Igreja Católica chinesa oficial e uma igreja clandestina, leal ao Vaticano, que evoluiu no regime comunista.
Ao tentar unir os dois grupos, o papa Francisco foi acusado de satisfazer o governo de Pequim, desapontando os católicos do movimento clandestino, que não aceitaram a interferência do governo chinês, enfrentando a contínua ameaça de perseguição.
Caminho cauteloso
Os acordos firmados entre a China e o Vaticano nos últimos anos parecem ter deixado uma situação na qual o governo chinês nomeia os bispos católicos e o papa os reconhece.
A China defende que esta é uma questão de soberania, mas o papa Francisco insiste que detém a palavra final, embora não pareça.
“Ele não irá agradar a todos, todo o tempo”, explica o padre Anthony Chantry. “Mas acho que o que o Santo Padre realmente quer é indicar que a Igreja não é uma ameaça ao Estado.”
“Ele está trilhando um caminho muito cauteloso e repleto de dificuldades, mas acho que o que ele está tentando fazer é simplesmente estabelecer uma relação respeitosa com o governo chinês.”
Estando certo ou errado, tudo é feito em nome de trazer mais pessoas para o rebanho.
Alguns dos predecessores de Francisco, de muitas formas, foram mais inflexíveis. Eles pareciam aceitar mais uma comunidade católica menor e “mais pura”, sem fazer concessões nas relações exteriores, nem na visão da Igreja sobre questões como o divórcio e a homossexualidade.
Enquanto alguns papas claramente se sentiam mais à vontade com os estudos e a teologia do que com as viagens e as imensas multidões, outros se dedicaram à política do cargo.
Acompanhando as viagens do papa Francisco, fica muito claro que ele, muitas vezes, pode se sentir cansado e sobrecarregado durante os eventos diplomáticos. Mas ele se rejuvenesce rapidamente com as multidões que surgem para vê-lo. E fica energizado com as pessoas comuns que o encontram, principalmente os jovens.
Este certamente não é um papa que evita os holofotes. Estar entre as pessoas – o que alguns chamam de sua missão – parece ser sua força vital.
Para o padre Anthony Chantry, esta longa viagem papal é apenas mais uma amostra de como Francisco acredita que a Igreja deve se relacionar com os católicos e não católicos.
“Todo o impulso é nos aproximarmos dos demais”, explica ele. “Precisamos fazer com que todos se sintam bem-vindos. Acho que ele [o papa Francisco] faz isso muito bem, mas não acredito que ele esteja tentando ganhar pontos por lá, é simplesmente ele.”
Desde sua eleição em 2013, muitas das ações de Francisco deixaram irritados os católicos tradicionalistas. Eles costumam achar que o pontífice leva seu espírito de proximidade com as pessoas longe demais.
As ações do papa durante sua viagem dificilmente irão reverter as opiniões contrárias, neste mês de setembro.
Fonte: BBC
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