- Author, Kateryna Khinkulova e Oleh Chernysh
- Role, Serviço Mundial da BBC
Em meados de maio, a Rússia atacou a Ucrânia pelo nordeste, fazendo uma incursão surpresa na região de Kharkiv e dominando alguns territórios que havia ocupado nas fases iniciais da invasão em grande escala, mas que tinham sido abandonados.
Alguns analistas descreveram a situação como uma ofensiva “enquanto o mundo dormia”.
Combates intensos seguiram-se próximos à cidade de Vovchansk, a 5 km da fronteira entre a Rússia e a Ucrânia.
As previsões sobre o que poderia acontecer em seguida eram sombrias para a Ucrânia: a Rússia parecia no caminho certo para avançar e talvez até capturar a segunda maior cidade da Ucrânia, Kharkiv, que antes da guerra contava com uma população de 1,4 milhão.
Com a demora para chegar ajuda militar ocidental, após um atraso de meses na aprovação do auxílio, a Ucrânia estava com pouca munição.
Parecia que a Rússia tinha aprendido com os erros do passado e a próxima fase da guerra poderia ser uma ofensiva de verão bem-sucedida para os russos.
A mais recente operação russa foi bem-sucedida?
Após quase dois meses, as forças russas estão avançando em partes da linha da frente, mas não conseguiram ocupar completamente as cidades estratégicas de Vovchansk e Chasiv Yar.
Ambas foram palco de alguns dos combates mais intensos das últimas seis semanas.
A captura dessas cidades daria à Rússia uma grande vantagem — cortando as linhas de abastecimento militar da Ucrânia — e permitiria o deslocamento para uma área mais vasta.
A principal razão para essa falta de progresso foi, por um lado, a aparente incapacidade da Rússia em levar reservas suficientes para o lugar certo e no momento certo para prosseguir com a ofensiva.
Por outro lado, novos envios de ajuda militar do Ocidente começaram a chegar à Ucrânia, ajudando o país a manter sua defesa.
“A janela de oportunidade começou a se fechar. O novo pacote de ajuda diminuía a vantagem da Rússia no poder terrestre. É por isso que, embora a Ucrânia ainda estivesse em desvantagem, a diferença também diminuiu.”
Ao final de maio, a ofensiva na região de Kharkiv abrandou.
O blogueiro militar russo Alexander Kots escreveu que a Ucrânia lançou grandes reservas em direção a Vovchansk e “nós (as forças russas) não deveríamos esperar avançar em grande escala em breve. Precisamos fortalecer nossas posições e nos preparar para um contra-ataque.”
Mas embora a ofensiva tenha desacelerado, e as forças ucranianas reagrupadas tenham conseguido manter suas posições, isso não significava que a Rússia estivesse perdendo.
Dois fatores na guerra impactaram o desenrolar dos fatos.
1. Bombas planadoras
Um desses fatores são as bombas planadoras, uma das armas mais eficazes da Rússia até o momento.
Autoridades ucranianas dizem que aviões russos têm largado até cem delas por dia nas últimas semanas.
Elas foram modernizadas com winglets (ou “asas”) e navegação por GPS — o que permite que sejam direcionadas a seus alvos. Aviões russos têm lançado bombas planadoras enquanto voam no espaço aéreo russo.
Relativamente pequenas e emitindo pouco calor, é quase impossível interceptá-las com sistemas de defesa aérea, que muitas vezes conseguem abater mísseis e drones.
O presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, destacou a questão em sua mais recente entrevista a um jornal americano.
Para evitar que a aviação russa lançasse bombas planadoras, a Ucrânia buscou autorização de países ocidentais para atacar o território russo usando kits estrangeiros, visando aeronaves militares.
Segundo o analista Mykola Bieleskov, atacar os aeródromos militares russos era a única forma de “negar a vantagem da bomba planadoras”.
2. Ataques contra a Rússia
Os reveses da Ucrânia na linha da frente, bem como os contínuos ataques russos à infraestrutura energética da Ucrânia, levaram os Estados Unidos a mudar de ideia sobre o uso de armas doadas para atacar o território russo.
Kiev obteve, inicialmente, permissão para lançar armas fornecidas pelos EUA contra alvos militares em território russo próximo à região de Kharkiv.
No final de junho, o conselheiro de segurança nacional dos EUA, Jake Sullivan, disse que o acordo com a Ucrânia sobre o disparo de armas americanas contra a Rússia se estendia “a qualquer lugar onde as forças russas atravessassem a fronteira do lado russo para o lado ucraniano para tentar tomar território ucraniano adicional”.
A permissão não foi concedida de imediato, uma vez que os EUA e o Ocidente tentam evitar uma tensão mais direta com Moscou.
O Kremlin afirmou que permitir que a Ucrânia utilize armas fornecidas pelos EUA contra alvos na Rússia revela o “profundo envolvimento de Washington no conflito”.
Por quanto tempo a guerra continuará?
Embora essa ofensiva russa não tenha trazido grandes avanços territoriais até aqui, a situação é incerta.
O exército ucraniano está em grande desvantagem numérica em relação à Rússia. Segundo um importante general ucraniano, em alguns lugares a vantagem russa chegava a ser de dez para um.
Ao mesmo tempo, a Rússia continua a sofrer grandes perdas. A investigação contínua da BBC Rússia sobre as perdas militares confirmadas revela um aumento nas últimas semanas, que pode ser reflexo da última ofensiva.
Mas a determinação de Moscou em resistir apesar do apoio do Ocidente à Ucrânia continua forte como sempre.
“É claro que venceremos, apesar dos US$ 61 bilhões manchados de sangue. A força e a verdade estão do nosso lado,” escreveu o ex-presidente e ex-primeiro-ministro da Rússia, Dmitry Medvedev, após a aprovação do novo pacote de ajuda militar à Ucrânia pelo Congresso dos EUA.
Sobre quanto tempo a guerra na Ucrânia pode durar, Francis Dearnley, editor do jornal britânico Telegraph e apresentador do podcast Ucrânia: the Latest, diz: “O Ocidente tem sido reativo em vez de pró-ativo, e Washington — o aliado mais vital de Zelensky — tem liberado aos poucos armas e permissões para uso, dando a Kiev o suficiente para sobreviver, mas não para vencer de forma decisiva.”
“A agonia desta guerra, a mais sangrenta da Europa desde a Segunda Guerra Mundial, deve durar muito mais tempo do que o necessário ou previsto.”
No início de julho, o maior hospital infantil da Ucrânia, em Kiev, foi atingido por um míssil, matando dois adultos e ferindo 300 pessoas, incluindo crianças.
A Rússia alegou que a explosão foi causada por um míssil de defesa aérea ucraniano que falhou, mas a ONU disse que era altamente provável que Moscou estivesse por trás do ataque.
Fonte: BBC
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