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Que bom seria uma sociedade sem crime e sem violência

Seria bom vivermos numa sociedade sem crime e sem violência, mas os anjos e os santos não podem e certamente não querem trocar o endereço celestial, em ambiente etéreo, ecologicamente perfeito, supondo-se que sem favelas, sem poluentes químicos nas águas nem fumaça tóxica no ar; Livres da fome que sucede ao desemprego, do ensurdecer dos bombardeios nas guerras, que chegam faltando conhecimento prévio, a qualquer hora do dia ou da noite, deixando todos sobressaltados em clima de pavor permanente.

Se anjos e santos mudassem para cá, com tanta aflição e atropelo, correriam sério risco de enloquecerem. Já se disse, entretanto, que tudo que a mente humana pode conceber é possível de acontecer. Não que concebamos a terra povoada por entidades divinas, sob o perigo de se desvestirem da pureza e caírem na tentação de pecar. Sabemos que os homens, submetidos à fiscalização próxima dos mentores espirituais, nos inibiríamos de atividades proibidas pela vergonha, virtude que se extingue a olhos vistos na ambiência terrena, ou por temor à reprimenda na vida posterior.

A virtude que se exercita por medo e não por respeito ao valor que representa, deixa a desejar, não é virtude, é indefinição ou covardia. Hipótese de convivência descartada porque seria desastrosa. E então,  ficamos sem alternativa, intuindo que a força da tentação supera a fortaleza da resistência humana? De forma alguma. Podemos perfeitamente imaginar uma sociedade com menos defeito, voltada para Deus. Quem sabe Ele iluminaria os laboratórios científicos, que já andam em velocidade inaudita, e nos desse governantes de capacidade superior a dos existentes, no Brasil e no mundo, que encomendassem aos cientistas, em regime de urgência, a produção de adubo especial para o cultivo de virtudes em grandes plantações.

Quando os cidadãos forem mais virtuosos, renunciarem ao sonho de enriquecimento ilícito, abominarem a luxúria e o consumismo, substituírem as armas pelo crucifixo e a oração, compartilharem os haveres que lhes sobram com quem não os tem, banirem a inveja dos seus pensamentos, derem exemplos de justiça e retidão na sua conduta, a ética, a educação e o respeito aos valores essenciais da sociedade atuarão prevenindo a delinquência e a violência. Lembrando que todo crime violenta bem jurídico protegido pela lei penal, mas que nem toda violência tem magnitude para ser criminosa.

José de Siqueira Silva é Coronel da reserva da PMPE

Mestre em Direito pela UFPE e Professor de Direito Penal

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