- Author, Greg McKevitt
- Role, Da BBC In History*
Mais de 100 anos depois de o Titanic ter afundado em sua viagem inaugural, em 1912, o testemunho do sobrevivente Frank Prentice continua sendo um relato poderoso e angustiante do terror absoluto sentido por quem estava a bordo.
Frank Prentice tinha 23 anos quando sobreviveu ao naufrágio do Titanic. Quando foi entrevistado pela BBC 67 anos depois, em 1979, ficou claro que ele ainda era assombrado por aquela noite terrível.
- Clique aqui para seguir o canal da BBC News Brasil no Whatsapp, tanto pelo celular quanto pelo Whatsapp Web
- Você também pode nos encontrar se buscar por “BBC News Brasil” na aba “atualizações” do Whatsapp
Prentice trabalhava como comissário assistente, lidando com dinheiro e suprimentos a bordo do navio.
Relembrando os acontecimentos daquela noite na série de documentários da BBC The Great Liners, de 1979, ele relembrou o momento em que percebeu pela primeira vez que algo poderia estar errado.
“Não houve impacto propriamente dito”, disse ele.
“Foi como pisar no freio do carro e pronto – ele parou. Tínhamos uma escotilha aberta, e eu olhei para fora. O céu estava claro, as estrelas brilhavam, o mar estava calmo e eu não conseguia entender.”
Quando Prentice saiu de sua cabine para ir ao convés investigar o que tinha acontecido, ele viu gelo, mas não havia sinal do iceberg ou de qualquer dano acima da linha d’água. O navio já tinha ultrapassado o icebeberg.
Debaixo da superfície, porém, os danos ao navio supostamente inaufragável foram catastróficos.
Chegou a ordem para que mulheres e crianças entrassem nos botes salva-vidas, mas Prentice disse que havia dois motivos pelos quais muitos estavam relutantes a fazer isso: havia uma distância de 21,3 metros da superfície da água e ninguém achava que o navio iria realmente afundar.
“Não se esqueça que tínhamos 16 botes salva-vidas e cada um carregava 50 pessoas. Se estivessem cheios, poderíamos ter salvado 800, enquanto salvamos apenas 500”, disse ele.
Prentice e alguns outros homens receberam ordens de buscar no depósito todos os biscoitos que pudessem carregar. Quando voltaram ao convés, o navio estava inclinado e ele não conseguia chegar aos botes salva-vidas.
Enquanto ele se apressava para colocar o colete salva-vidas, o navio afundava rapidamente e o pânico aumentava à medida que os passageiros da terceira classe lotavam o convés.
E então o Titanic se partiu em dois.
“De repente, ele [o navio] se levantou rapidamente e você podia ouvir tudo”, disse ele.
Prentice estava agarrado a uma prancha enquanto metade do navio atingido subia alto na água. Ele não teve outra opção a não ser se soltar e mergulhar.
“Eu estava com o colete salva-vidas e bati na água com um estalo terrível”, disse ele.
Flutuando no oceano gelado entre “corpos por todos os lados”, ele observou o navio desaparecer sob a água. Ele disse que não queria morrer, mas “não via muitas chances de sobreviver”.
“Eu estava gradualmente ficando congelado e, pela graça de Deus, me deparei com um bote salva-vidas. Me puxaram para dentro”, disse ele.
Ao olhar em volta, viu-se sentado ao lado de Virginia Estelle Clark, que havia conhecido no convés, onde ajudara um jovem casal em lua de mel com os coletes salva-vidas.
Ele convenceu Clark a deixar seu novo marido, Walter, para trás e embarcar em um bote salva-vidas, garantindo-lhe que certamente o marido a seguiria mais tarde.
Clark perguntou a Prentice se ele tinha visto o marido dela. Mais tarde, descobriu-se que ele era uma das vítimas fatais.
Prentice disse que estava quase “congelado” e acreditava que Clark provavelmente salvou sua vida enrolando-o em um cobertor.
“Eu salvei a vida dela – acho que pode ter sido isso, acho que sim, e ela salvou a minha”, disse ele.
O navio RMS Carpathia estava a quase 96,5 km de distância quando captou o pedido de socorro do Titanic. A embarcação mudou imediatamente de direção e levou cerca de 700 sobreviventes para um local seguro em Nova York.
Prentice morreu em 1982, aos 93 anos.
O relógio que ele usou naquela noite permaneceu congelado no tempo, parado às 02h20.
“Estava congelado como eu – acho que ficou cerca de 20 minutos na água”, disse ele.
Questionado se estava incomodado em falar sobre o Titanic novamente, ele contou que ainda tinha pesadelos.
“Provavelmente sonharei com isso esta noite; terei outro pesadelo”, disse ele.
“Podem pensar que estou velho demais para isso, mas você ficaria surpreso. Você deita na cama à noite e a coisa toda volta a acontecer.”
*In History é uma série que usa o arquivo de áudio e vídeo da BBC para explorar eventos históricos impactantes. Ouça a entrevista original (em inglês) no site da BBC Culture.
Fonte: BBC
Você precisa fazer login para comentar.