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Familiares dos sequestrados de uma escola em Kaduna, no noroeste da Nigéria, reuniram-se com o governador do Estado na quinta-feira (7/3)

  • Author, Yusuf Akinpelu
  • Role, De Lagos (Nigéria) para a BBC News

Por duas vezes em uma semana, gangues de homens armados em motocicletas sequestraram centenas de pessoas, vindo de florestas de dois lugares diferentes no norte do país.

No começo do mês, surgiu a notícia de que no Estado de Borno (nordeste do país) supostos militantes islâmicos capturaram mulheres e crianças que haviam saído de um acampamento de pessoas deslocadas para procurar lenha. A notícia levou dias para vir a público porque as torres de telefonia móvel da região haviam sido destruídas.

No dia seguinte, mais de 280 crianças, com idades de oito a 15 anos, e alguns de seus professores foram levados por homens armados de uma escola a centenas de quilômetros de distância, no Estado de Kaduna, no noroeste da Nigéria, para uma floresta próxima.

Segundo relatos locais, este ataque foi conduzido por militantes do grupo Ansaru, ligado à al-Qaeda. O sequestro é o maior ocorrido em uma escola desde 2021.

Nos últimos meses, houve uma trégua neste tipo de ocorrência que assolava a Nigéria desde o famoso sequestro de cerca de 300 meninas de uma escola em Chibok, no nordeste do país, em abril de 2014. O caso chegou às manchetes internacionais.

Mas, agora, as notícias se repetem, às vésperas do décimo aniversário da tragédia.

Qual o motivo desse ressurgimento dos sequestros, que ameaça a vida dos nigerianos mais vulneráveis?

É difícil identificar um padrão entre dois incidentes aparentemente não conectados, verificados em momentos tão próximos. Mas é um lembrete de que a ameaça dos sequestros não desapareceu.

O fato de que eles aconteceram poucos dias antes do Ramadã, o mês sagrado dos muçulmanos, pode ser significativo.

Pessoas que foram sequestradas e libertadas no passado contaram que foram forçadas a cozinhar e a prestar outros serviços domésticos nos acampamentos em meio à floresta.

Mas, de forma geral, o sequestro por resgate na Nigéria é um negócio de baixo risco e alta lucratividade. Os sequestrados costumam ser liberados após a entrega do dinheiro e os perpetradores raramente são presos, mesmo depois que o pagamento de resgate para libertar uma pessoa passou a ser ilegal no país.

Ao todo, mais de 4,7 mil pessoas foram sequestradas desde a posse do presidente Bola Tinubu, no último mês de maio, segundo a empresa de consultoria de risco SBM Intelligence.

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Ativistas exigem que as autoridades tomem medidas para pôr fim à insegurança no país

O sequestro passou a ser uma atividade lucrativa para pessoas que precisam desesperadamente de dinheiro. Além dos sequestros por pagamento, já houve gangues que exigiram alimentos, motocicletas e até gasolina, em troca da libertação de reféns.

“A fraca economia da Nigéria cria as condições para o surgimento dos sequestros”, declarou à BBC William Linder, funcionário aposentado da CIA americana e chefe da 14 North, uma empresa de consultoria de riscos especializada na África.

“No ano passado, o governo não conseguiu resolver o problema da política cambial”, explica ele. “Os preços dos alimentos dispararam, especialmente nos últimos seis meses. A percepção de corrupção continua.”

O diretor do programa africano do think tank (centro de pesquisa e debates) britânico Chatham House, Alex Vines, concorda. Ele afirma que os recentes ataques podem estar relacionados ao mau desempenho da economia nigeriana e à incapacidade das forças de impedir a atividade das gangues de sequestro.

E o aumento dos preços dos alimentos se agravou ainda mais porque os agricultores não cultivaram seus campos, com medo de ataques ou sequestros.

“Em grande parte dessas terras, gangues armadas suplantaram o governo e os chefes tradicionais como as verdadeiras autoridades”, afirma Vines.

As gangues extorquem dinheiro das pessoas com frequência. Mas a impossibilidade de cultivar a terra faz com que haja menos dinheiro disponível, o que pode explicar por que as gangues se voltam para o sequestro.

Da mesma forma, a redução de tamanho do lago Chade e a expansão do deserto do Saara para o sul causaram escassez de água e o desaparecimento de terra arável para produção.

“Estas pressões só aumentam o sofrimento de muitas pessoas, especialmente no norte”, explica Linder. “Isso faz com que as pessoas procurem fontes de renda alternativas. Infelizmente, o sequestro por dinheiro é uma delas.”

As fronteiras da Nigéria são inseguras e permeáveis, o que favorece o trabalho das gangues. E a violência islâmica aumenta a insegurança na região como um todo.

As vastas reservas florestais nas regiões de fronteira foram transformadas em bases operacionais para os criminosos.

“A Nigéria precisa trabalhar com seus vizinhos”, afirma o analista de conflitos Bulama Bukarti, do Instituto Tony Blair de Mudanças Globais. “Sem cooperação transnacional, especialmente com o Níger, Camarões e Chade, incluindo a parte noroeste da fronteira da Nigéria, esses incidentes irão continuar a se repetir.”

Mas apenas isso não ajudaria a Nigéria a vencer as gangues, segundo Bukarti. As autoridades também precisam estar dispostas a trazer os perpetradores à justiça.

“Nunca vimos um líder de gangue ser preso e processado”, prossegue ele. “É lucrativo. Mais pessoas irão se associar e a impunidade irá aumentar.”