- Author, Jonathan Amos
- Role, Correspondente de Ciência, BBC News
- Twitter, @BBCAmos
Um satélite europeu pioneiro deverá cair na Terra nas próximas horas.
O ERS-2 era uma plataforma de observação com tecnologia de ponta quando foi lançado em 1995 — e ajudou a forjar tecnologias que agora são usadas rotineiramente para monitorar o planeta.
A atividade do aparelho diminuiu gradualmente desde o encerramento das operações dele, em 2011.
Agora, o aparato sofrerá um “mergulho” descontrolado e violento na atmosfera durante a quarta-feira (21/2).
A Agência Espacial Europeia (ESA) afirma que a maior parte do satélite de duas toneladas irá queimar e se desfazer durante a descida.
É possível que algumas peças maiores e robustas possam suportar o intenso aquecimento gerado durante a queda em alta velocidade, mas as chances desses fragmentos atingirem áreas povoadas e causarem danos são mínimas, garantem os especialistas.
Esses pedaços de satélite poderiam pousar em quase qualquer lugar do mundo — mas, com a maior parte da superfície terrestre coberta pelo oceano, quaisquer detritos que sobrevivam ao atrito provavelmente serão perdidos no mar.
“E vale a pena destacar que nenhum dos elementos que podem entrar na atmosfera (e atingir a superfície) é radioativo ou tóxico”, afirmou o cientista Mirko Albani, do Departamento de Observação da Terra da ESA.
A ESA lançou dois satélites de sensoriamento remoto da Terra — conhecidos pela sigla ERS — quase idênticos na década de 1990.
Ambos faziam as observações planetárias mais sofisticadas da época e carregavam um conjunto de instrumentos para acompanhar as mudanças que ocorriam na terra, nos oceanos e no ar.
Os aparelhos monitoraram inundações, mediram as temperaturas continentais e da superfície oceânica, rastrearam o movimento dos campos de gelo e observaram a deformação do solo durante os terremotos.
O ERS-2, especificamente, introduziu uma nova possibilidade de avaliar a camada de ozônio que protege a Terra.
A dupla de satélites foi descrita como os “avôs da observação da Terra na Europa”.
“Em termos de tecnologia, é possível traçar uma linha direta desde o ERS até aos satélites europeus Copernicus/Sentinel que monitoram o planeta hoje”, diz Ralph Cordey, gestor de Desenvolvimento do Setor de Observação da Terra da Airbus.
“O ERS foi onde tudo começou”, complementou ele.
O ERS-2 é o primeiro da dupla a voltar para casa. Ele ficava originalmente a 780 km acima da Terra, e os engenheiros usaram as reservas finais de combustível em 2011 para reduzir a altitude dele para 570 km.
A expectativa era que a camada superior da atmosfera arrastasse a espaçonave até a destruição em cerca de 15 anos.
Segundo os cientistas, é exatamente isso que deve acontecer nesta quarta, 13 anos após a redução da altitude.
O satélite deve colapsar entre o fim da manhã e o período da tarde, no horário de Brasília, desta quarta-feira (21/2).
É difícil de determinar precisamente quando e onde ele vai cair. Isso varia conforme a densidade da alta atmosfera, que por sua vez é influenciada pela atividade solar.
O que se pode afirmar com certeza é que a reentrada ocorrerá entre 82 graus Norte e Sul, pois esta era a extensão da órbita do satélite ao redor da Terra.
Os especialistas em detritos espaciais da ESA calculam que pouco material do ERS-2 resistirá ao atrito e chegará à superfície da Terra.
Os fragmentos que podem chegar à superfície incluem painéis internos e algumas peças metálicas, como tanques de combustível.
O elemento com a maior probabilidade de atravessar a atmosfera de alguma forma é a antena do sistema de radar, que foi construído no Reino Unido.
A antena possui uma construção em fibra de carbono capaz de tolerar altas temperaturas.
Quando o ERS-2 foi lançado, as diretrizes de mitigação sobre detritos espaciais eram muito mais flexíveis. Trazer para casa uma espaçonave 25 anos após o fim das operações era considerado algo aceitável.
A nova Carta Zero Detritos da ESA recomenda que o período de carência para eliminação desses objetos não exceda cinco anos. E os futuros satélites serão lançados com o combustível necessário e a capacidade de saírem de órbita por meio da propulsão num curto espaço de tempo.
A razão é óbvia: com tantos satélites em órbita, o potencial de colisões aumentou consideravelmente.
O ERS-1, por exemplo, falhou repentinamente antes que os engenheiros pudessem diminuir a altitude dele.
Esse aparelho ainda está a mais de 700 km acima da Terra. Nessa altura, pode levar 100 anos até que ele caia de forma natural.
A empresa americana SpaceX, que opera a maior parte dos satélites funcionais atualmente em órbita — são mais de 5,4 mil — anunciou recentemente que iria derrubar 100 deles após descobrir uma falha que “poderia aumentar a probabilidade de falhas no futuro”.
A companhia quer remover os objetos antes que qualquer problema torne a tarefa mais difícil.
Na semana passada, a Secure World Foundation, um grupo de defesa do uso sustentável do espaço, e a LeoLabs, uma empresa norte-americana que rastreia detritos espaciais, emitiram uma declaração urgente sobre a necessidade de remover aparelhos na órbita que não funcionam mais.
“O acúmulo de objetos abandonados na órbita baixa da Terra continua igual; 28% dos atuais objetos massivos de longa vida abandonados foram deixados em órbita desde a virada do século”, diz o texto.
“Esses aglomerados representam o maior potencial de geração de detritos para os milhares de satélites recentemente implantados que alimentam a economia espacial global”, conclui a declaração.
Fonte: BBC
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