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Dantas Barreto abre espaço para bois, tribos e bonecos

No quinto dia de Carnaval no Recife, as Agremiações voltaram a desfilar na tradicional passarela do centro da cidade. (Foto: Brenda Alcântara/PCR)

Do que são feitas as agremiações tradicionais? Resistência, propósito e família. Resistência ao tempo e aos obstáculos, propósito e paixão pela cultura popular e família, já que a maioria dos componentes são gerações, filhos e netos, dos fundadores, herdeiros naturais do sonho de manter o folguedo popular vivo. Na tarde e noite desta segunda-feira(12), a passarela da Dantas Barreto recebeu no Concurso de Agremiações Carnavalescas – do Grupo 1, sete clubes de bois, cinco tribos indígenas e mais cinco agremiações de bonecos. O público lotou as arquibancadas e o alambrado ao longo da avenida.

O Boi Malabá, é um dos exemplos de resistência e participação da família no folguedo. Ele é dirigido por Sandra Cristina de Sá, que assumiu o lugar do pai doente. Há 20 anos ela tem essa missão. O Boi se apresentou com uma composição tradicional: pastorinhas, animais (ema, burrinha, padre, capitão, Mateus, Catirina o Diabo, o Morto-carregando-o-vivo, a Caipora, anjo, índios, Mané Pequenino. É um cortejo onde todos reverenciam a figura do personagem principal, o boi, que é ricamente adornado, trazendo o nome da agremiação na lateral, bordado com lantejoulas sobre tecido preto, abaixo estão bordados folhas e formas que lembram signos armoriais, na base das laterais até o chão, o animal traja a bandeira de Pernambuco. Na apresentação evolui com rodopios, acompanhando todo o teatro que segue contando a historinha do cortejo.

Acho maravilhoso esse trabalho de cultura popular”, diz Sandra.Os filhos dela não só integram o Malabá como também o projeto social que a agremiação mantém no Alto do Pascoal – Água Fria-. “Nós atuamos socializando crianças e adolescentes da localidade, ensinando dança , música , pintura. Nosso bairro é muito vulnerável e ensinando arte para as crianças e jovens, estamos ocupando o tempo delas e ajudando-as a se desenvolver de forma saudável e segura”, comentou a diretora do brincante.

A dona de casa Ana Paula da Silva estava na plateia com o marido e o filho de 7 anos assistindo o desfile. “Estou achando muito bonito”. Ela disse que gosta de prestigiar o concurso,vindo de Jaboatão para ver o desfile no Recife. A aposentada Vera Lúcia , que mora nos Torrões, estava “achando tudo lindo”. Ela que estava com o neto de meses, o filho e nora, frequenta os desfiles de Carnaval há 14 anos.

Outro que se destacou na passarela foi o Boi de Mainha -, do bairro do Ibura. O cortejo existe há 29 anos e em 2023 foi campeão da categoria. Já tem um total de cinco títulos de vencedor e outros tantos de vice. Este ano se apresentou com 82 componentes, a maioria são familiares dos fundadores. O presidente e mestre do cortejo Libanio da Silva, a esposa ana Cláudia e os dois filhos integram a agremiação junto com amigos da comunidade do Ibura. “O boi é vida, morte e ressurreição. É esse ciclo e a preservação da cultura que me motiva a continuar fazendo o Boi”, explica Silva.

O Boi teve uma apresentação vibrante na passarela,com músicos afinados com as cantoras. Os componentes evoluíram de forma alegre e harmoniosa durante os 20 minutos de apresentação. O grupo saiu confiante que fez um bom trabalho.

O Boi de Mainha também tem um trabalho social importante no bairro. Mantém uma creche para 35 crianças com idades a partir dos seis meses até 5 anos. Os filhos do casal, Tobias Pinheiro, um fisioterapeuta, e Lanis Pinheiro, uma biomédica, participam do boi e são voluntários na creche. Tobias é o mestre da bateria no boi e ensina percussão na creche, além de atender como fisioterapeuta. Lanis é Katarina na agremiação e usa seus conhecimentos profissionais para ajudar no projeto.

Tribos – A segunda categoria que participou do concurso foram as tribos indígenas. Desfilaram Onça Negra, Tupiniquins, Tabajara, Orubá e Ubirajara. A maioria das tribos está intimamente ligada à religiosidade, geralmente, a Jurema, culto que trabalha com entidades, caboclos, índios e encantados das matas e suas oferendas são realizadas próximos às matas e rios.

Onça Negra, da cidade de Goiana, limpou a avenida com um bouquet de ervas composto de: aroeira, vence tudo, pinhão roxo e liamba.

A Onça Negra trouxe guerreiros com ornamentos e cocares nas cores amarelo e preto, também laranja neon e azul marinho e claro. No estandarte, a cor predominante é o verde com a imagem da onça negra ao centro. Outra característica é que grande parte dos integrantes são parentes. A presidente da agremiação Márcia Maria do Nascimento, disse que a principal motivação para levar esse legado adiante é a religiosidade. Ela é juremista (o equivalente a uma sacerdotisa de Jurema) e é estilista do grupo, produtora e faz outras inúmeras atividades para colocar o cortejo na rua.

Depois desfilou a Tribo Tupiniquins com seus guerreiros, personagens como o pajé, espião e um casal de caciques evoluíram a coreografia sem problemas. Em seguida foi a vez da tribo Orubá que apresentou guerreiros com cocares com cores exuberantes e maquiagem bem trabalhada

Por último, aportou no asfalto, a tribo Ubirajara, de Itapissuma, tem como base a família de Laura da Silva, que tem oito filhos e dez netos participando do folguedo, o mais novo Jorge da Silva, com 4 anos fez toda a coreografia e cantou a loa durante todo o trajeto, encantando a plateia e jurados. Laura, que é neta de índios, também é de Jurema e seu marido, presidente e mestre da tribo é o juremeiro. Ela acredita que seus herdeiros darão continuidade ao seu sonho de manter a atividade do folguedo pelos próximos anos.

Bonecos – Seu Malaquias abriu a categoria de bonecos, com um abre alas composto de cinco músicos entoando seus clarins, anunciando a atração. Logo em seguida surgiu a orquestra afinadíssima tocando frevos tradicionais que encantavam qualquer um na avenida. Os passistas vieram acompanhando a orquestra e o boneco evoluindo e girando os braços.

O boneco o Menino do Pátio de São Pedro foi a agremiação seguinte a desfilar. Com o tema Anos Dourados trouxe alas de damas vestidas de verde e preto, cuja a bolsa era formada por metade de um disco de vinil preto. Até Elvys tinha nesse cortejo. Em seguida surgiu na avenida o Clube de Bonecos o Bochechudo, que trouxe o tema homenagem aos bois do Carnaval, e trouxeram em suas alas personagens, adereços, tecidos característicos dos cortejos de boi. Esses brincantes conscientes ou não são guardiões da cultura popular. Ao inserir as novas gerações nos folguedos, eles perpetuam e garantem que a tradição vá adiante e seja preservada.

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