Os quatro primeiros episódios da sexta e última temporada da série The Crown, da Netflix, lançados nesta quinta-feira (16/11), não agradaram críticos e historiadores.
A temporada final tem dez episódios — os seis restantes serão lançados no dia 14 de dezembro. Ela retrata acontecimentos ocorridos no final dos anos 1990, incluindo o relacionamento da princesa Diana com o produtor cinematográfico e empresário egípcio Dodi Fayed e sua morte, num acidente de carro em Paris.
Em uma crítica de uma estrela, o jornal britânico The Guardian diz que a “série obcecada por Diana é a própria definição de um mau texto”.
“Além de todos as falhas em sua forma, a temporada final do The Crown também é incrivelmente prejudicada por acontecer em uma época recente, parte de nossa memória viva. Mesmo que a trama fosse capaz de nos envolver, as recordações e consequentes questionamentos que se aglomeram na mente do espectador em cada cena tornariam isso impossível”, escreveu a crítica do jornal, Lucy Mangan.
“(A série) começou a balançar na terceira temporada, perdeu totalmente o equilíbrio nas duas seguintes e agora está despencando no abismo.”
Na opinião de Mangan, isso aconteceu “apesar das atuações unanimemente brilhantes de todo o elenco”.
Anita Singh, do jornal britânico The Telegraph, fez coro com o Guardian, escrevendo que a “joia da Netflix chega a um beco sem saída”, já que a nova temporada é “assombrada pelo fantasma bizarro da princesa Diana”.
Sua crítica, de duas estrelas, nota que o uso do fantasma de Diana “no avião de volta de Paris para confortar um perturbado príncipe de Gales (Charles), e no sofá de Balmoral (residência da família real britânica na Escócia) para dar à rainha alguns conselhos amigáveis de relações públicas”, acaba por soar “como desespero por parte do escritor Peter Morgan”, que criou a série extremamente popular lançada em 2016.
Singh também criticou a forma como o acidente de carro é abordado.
“O caos do último dia de Diana e Dodi em Paris é transmitido, mas não há cenas dentro do túnel Pont d’Alma: corta-se do som do acidente para o telefone tocando em Balmoral. Todos os diálogos em que alguém dá a notícia da morte de Diana foram dublados; suas bocas se movem em silêncio, e nos concentramos nas reações”, escreveu.
“Por que fazer isso? Se é por razões de gosto, por que a câmera capturou o rosto desnorteado de Harry enquanto ele fala a palavra “não”? Bom gosto significaria deixar essa cena para nossa imaginação”, acrescentou.
Apesar de uma crítica de quatro estrelas, Carol Midgley, do jornal britânico The Times, observou que o fantasma de Diana “não foi o melhor momento da série”, descrevendo-o como “peculiarmente autodestrutivo em uma temporada de quatro episódios de abertura poderosa e comovente”.
No entanto, a crítica elogiou a atuação da australiana Elizabeth Debicki como Diana, chamando-a de “excelente”.
“A empatia com que ela retrata as últimas oito semanas da vida de Diana e a semelhança entre as duas são extraordinárias, aquela inclinação de cabeça sedutora, uma alma um pouco perdida e solitária que termina em vários trajes de banho em glamourosas cenas, dignas da revista Hello!, a bordo do iate de Al Fayed”, opinou.
Em sua crítica, Aramide Tinubu, da revista americana Variety, também abordou o relacionamento de Diana e Dodi.
“Morgan (Peter Morgan, autor da série) não oferece um romance turbulento, mas uma representação de uma amizade reconfortante que apenas começou a florescer e foi exacerbada pela percepção pública e pela obrigação familiar”, escreveu Tinubu.
A crítica acrescenta que a nova temporada ajudou a série a “recuperar seu trono brilhante”.
A temporada final aborda o frenesi da mídia em torno do relacionamento de Diana e Dodi (interpretado por Khalid Abdalla), culminando na perseguição por paparazzi que fez com que o carro em que ambos estavam perdesse o controle e colidisse com um pilar em um túnel em Paris. Ambos morreram em 31 de agosto de 1997.
A série também retrata os eventos que se seguiram ao acidente fatal, incluindo reações e respostas da rainha, do pai de Dodi, o empresário Mohammed Al Fayed, e do príncipe William tentando voltar à escola após a morte de sua mãe.
Em entrevista no festival de TV de Edimburgo, na Escócia, no início deste ano, os produtores do The Crown disseram que a morte de Diana foi tratada “com sensibilidade”.
No entanto, Judy Berman, da revista americana Time, escreveu que a nova temporada é “estranhamente audaciosa”, pois está “explorando o mistério dos últimos dias de Diana — bem como, infelizmente, sua vida após a morte imaginada — para uma pungência fabricada. Como a tragédia em que se fixa, é um desastre em uma escala que a série nunca viu antes”.
A crítica de três estrelas do jornal britânico Financial Times diz que essas cenas são “indicativas de uma série sem inspiração; que se satisfazem em lançar mão de atalhos emotivos que externalizam a complexidade do choque e da dor da realeza”.
Historiadores também criticaram a série pelo que chamaram de “imprecisões históricas”.
Kelly Swaby, historiadora especializada na realeza britânica, disse à BBC: “Como historiadora, às vezes me dá vontade de chorar”.
“Os espectadores geralmente esperam um certo grau de precisão com a série porque a qualidade da produção é muito alta, mas nem sempre isso é possível.”
Em sua visão, a série lançou mão de “licença poética” sobre como os eventos sensíveis são retratados, até porque “ninguém sabe o que aconteceu a portas fechadas” — como quando o príncipe Charles deu a notícia da morte de Diana aos filhos.
A Netflix disse anteriormente que a série “sempre foi apresentada como um drama baseado em eventos históricos”.
Uma crítica de duas estrelas do jornal britânico The Independent observou que a série “rotineiramente privilegia a fofoca em detrimento da ressonância emocional: conversas altamente especulativas entre Diana e Dodi são incluídas — e impulsionam a trama”.
O crítico do jornal, Nick Hilton, acrescentou que o “tom tabloide relega a rainha de Staunton (Imelda Staunton, atriz que interpreta a rainha Elizabeth 2ª) a uma personagem secundária, enquanto a princesa Margaret, de Lesley Manville, passa totalmente despercebida”.
Daniel Feinberg, do site americano The Hollywood Reporter, também criticou a representação de outros personagens.
Em sua visão, o terceiro episódio especificamente “se torna um machado bastante brutal para Dodi, apresentado como um filho varão covarde, e para o pai Mohamed Al-Fayed (interpretado por Salim Daw), que se torna um estereótipo maquiavélico intrigante que não tem nenhuma semelhança com a versão simpática e cheia de nuances do personagem que conhecemos na quinta temporada.”
O The Crown também foi acusado de inventar o papel que Mohamed Al-Fayed desempenhou no romance entre Diana e Dodi.
Michael Cole, ex-porta-voz de Al-Fayed, disse ao site americano Deadline que a insinuação de que o pai de Dodi arquitetou o relacionamento dos dois era um “total absurdo”.
“Mohamed era um homem notável em muitos aspectos. Ele ficou encantado porque seu filho mais velho e a querida amiga de sua família, Diana, estavam juntos. Mas fazer duas pessoas se apaixonarem? Isso estava além de seus grandes talentos”, acrescentou Cole.
A segunda metade da temporada final, lançada em 14 de dezembro, cobrirá eventos como o Jubileu de Ouro da Rainha, o casamento do Príncipe Charles e Camilla e o namoro de William e Kate — agora o Príncipe e a Princesa de Gales — na Universidade de St Andrews.
Os príncipes William e Harry serão interpretados por Ed McVey e Luther Ford, respectivamente, na segunda metade da temporada. Kate Middleton será interpretada por Meg Bellamy.
É o primeiro grande papel dos três jovens atores.
Fonte: BBC
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