- Author, Frank Gardner
- Role, BBC News
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Há dias, Israel tem dado sinais de que suas forças estão preparadas para invadir Gaza por terra com o objetivo de eliminar de uma vez por todas o Hamas, após o ataque do grupo extremista palestino ao sul de Israel em 7 de outubro.
Mais de 300 mil reservistas foram convocados para se juntarem às Forças de Defesa de Israel (IDF). As fazendas e os kibutz do lado israelense da fronteira com Gaza estão repletos de tanques Merkava, sistemas de artilharia autopropulsada e milhares de soldados fortemente armados e em traje de combate completo.
A Força Aérea e a Marinha israelenses têm atacado suspeitos esconderijos e depósitos de armas do Hamas e da Jihad Islâmica palestina em Gaza — e, com isso, já feriram e mataram um grande número de civis, bem como alguns comandantes do Hamas.
O enorme número de vítimas causado por uma explosão num hospital central de Gaza na terça-feira (17/10) — cuja autoria foi apontada e negada por ambos os lados — só aumentou a tensão na região.
Com tantas mortes e sinais de uma futura invasão por terra, por que Israel ainda não partiu para essa ofensiva? Há vários fatores envolvidos.
O fator Biden
A visita apressada do presidente Joe Biden a Israel — onde ele chegou na quarta-feira (18/10) — é uma indicação de quão preocupada a Casa Branca está com a deterioração do conflito.
Washington tem duas grandes preocupações: a escalada da crise humanitária e o risco do conflito se espalhar por todo o Oriente Médio.
O presidente dos EUA já deixou clara a sua oposição a qualquer regresso de Israel à ocupação de Gaza, de onde se retirou em 2005. Isto, disse Biden, seria “um grande erro”.
Oficialmente, ele visitou Israel para demonstrar apoio estratégico ao aliado mais próximo dos EUA no Oriente Médio e para ouvir sobre os planos de Israel para Gaza.
Extraoficialmente, é provável que ele esteja apelando por algum freio ao governo linha-dura de Benjamin Netanyahu. Os EUA gostariam de saber, se Israel entrar em Gaza, como e quando planejaria sair.
Qualquer perspectiva de Israel lançar uma invasão militar em grande escala a Gaza enquanto o Air Force One (avião presidencial) estiver estacionado na pista de Tel Aviv não seria uma boa ideia, tanto para os EUA como para Israel.
Numa visita ofuscada pela explosão mortal no hospital Al-Ahli Arab de Gaza, o presidente Biden apoiou publicamente a versão de Israel dos acontecimentos, de que um foguete palestino disparado incorretamente teria causado a explosão.
Autoridades palestinas dizem que um ataque aéreo israelense atingiu o hospital.
A BBC está trabalhando para verificar de forma independente o número de mortos, que se teme ser de centenas, bem como a causa da explosão.
O fator Irã
Nos últimos dias, o Irã emitiu avisos severos de que o ataque de Israel a Gaza não pode ficar sem resposta. O que isso significa na prática?
O Irã financia, treina, arma e, em certa medida, controla várias milícias xiitas no Oriente Médio. De longe, a mais potente delas é o Hezbollah no Líbano, situado logo a norte da fronteira de Israel.
Os dois países travaram uma guerra em 2006, quando os modernos tanques de guerra de Israel foram destruídos por minas escondidas e emboscadas bem planejadas. Desde então, o Hezbollah rearmou-se com ajuda iraniana. Acredita-se que o grupo tenha hoje perto de 150 mil foguetes e mísseis, muitos dos quais são de longo alcance e guiados com precisão.
Há uma ameaça implícita de que se Israel invadir Gaza, o Hezbollah poderá abrir uma nova frente na fronteira norte de Israel, forçando-o a travar uma guerra em duas frentes.
Contudo, não é de forma alguma certo que o Hezbollah queira esta guerra neste momento, especialmente com porta-aviões da Marinha dos EUA navegando perto da costa no Mediterrâneo Oriental, em prontidão para ajudar Israel.
Isto dá a Israel alguma garantia de que qualquer eventual ataque do Hezbollah poderá provocar uma retaliação devastadora, com poder aéreo e naval, dos EUA.
Vale a pena lembrar, porém, que no início da guerra em 2006, os militantes do Hezbollah conseguiram atingir um navio de guerra israelense no mar com um dos seus sofisticados mísseis antinavio.
O fator humanitário
O conceito de crise humanitária do governo israelense tende a ficar atrás do resto do mundo quando se trata de erradicar o Hamas de Gaza.
À medida que o número de mortos entre os civis palestinos aumenta como resultado dos implacáveis ataques aéreos israelenses, grande parte da comoção global por Israel após as ações sanguinárias do Hamas em 7 de outubro foi substituída por um clamor crescente para que os bombardeios cessem e que os cidadãos comuns de Gaza sejam protegidos.
Se e quando as forças terrestres israelenses entrarem em força em Gaza, o número de mortos só aumentará mais.
Militares israelenses também morrerão em emboscadas, armadilhas e por franco-atiradores. Grande parte dos combates poderá ocorrer até abaixo do solo, em quilômetros de túneis em Gaza.
Mas é provável que, mais uma vez, seja a população civil a sofrer o peso do conflito.
Enorme falha de inteligência
O Shin Bet, a agência de inteligência interna israelense, assumiu a responsabilidade pelo fracasso em detectar o ataque mortal do Hamas.
Supõe-se que a agência tivesse uma rede de informantes e espiões dentro de Gaza, monitorando os comandantes do Hamas e da Jihad Islâmica palestina.
No entanto, o que aconteceu naquela horrível manhã de sábado no sul de Israel foi a pior falha de inteligência na história do país desde a guerra do Yom Kippur, em 1973.
A inteligência israelense está tentando freneticamente se redimir nos últimos 10 dias, ajudando as FDI a identificar nomes e localizações de reféns, bem como identificar onde os comandantes do Hamas estão escondidos.
É possível que mais tempo tenha sido pedido para que mais informações sejam recolhidas. Assim, se houver uma invasão por terra, as forças israelenses poderiam se dirigir diretamente para locais estudados anteriormente, em vez de vagas pelas ruínas e escombros no norte de Gaza — sob o risco de caírem em emboscadas e armadilhas preparadas pelo Hamas e pela Jihad Islâmica palestina.
Fonte: BBC
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