- Author, Felipe Souza
- Role, Da BBC News Brasil em São Paulo
- Twitter, @felipe_dess
Dezenas de mortos em confrontos na Bahia, 28 mortos em uma operação da PM no litoral paulista e, mais recentemente, o assassinato de três médicos na orla de uma das praias mais cobiçadas do Rio.
Uma sequência de crimes que chocaram o país e refletem no sentimento de segurança da população.
Uma pesquisa divulgada na noite desta sexta-feira (6/19) pela AtlasIntel revelou que a maior preocupação dos brasileiros deixou de ser a corrupção.
Segundo o levantamento, que ouviu 1.200 pessoas nos dias 5 e 6 de outubro, 62,7% dos entrevistados responderam que a maior preocupação do Brasil hoje é a criminalidade e o tráfico de drogas.
A segunda maior preocupação dos brasileiros é a corrupção, com 54,9% dos entrevistados. Em terceiro, está a preocupação com a degradação do meio ambiente e aquecimento global, com 21,5%.
Andrei Roman, CEO da AtlasIntel, afirma que essa mudança ocorre desde o início do governo Lula, no início de 2023, e tem como estopim a série de crimes que atingiu o Nordeste e o Sudeste, com destaque para o recente ataque contra os médicos no Rio.
Um grupo armado assassinou a tiros três médicos em um quiosque na praia na Barra da Tijuca na madrugada de quinta-feira (5/10).
Entre as vítimas, está Diego Ralf Bonfim, irmão da deputada federal Sâmia Bonfim (Psol-SP) e cunhado do deputado federal Glauber Braga (Psol-RJ), ambos apoiadores do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
Um quarto médico que estava no quiosque ficou ferido e está hospitalizado.
“Vimos um grande aumento das atividades de facções criminosas, excessos em atuações da polícia e um crescimento dos crimes violentos. Mas esse crime no Rio de Janeiro talvez seja o mais chocante”, afirma ele.
Uma pesquisa do Datafolha também apontou que a violência escalou como preocupação dos brasileiros e lidera o ranking de problemas empatado com a saúde: 17% citaram a insegurança como o maior problema do Brasil, contra 6% em dezembro de 2022, o mais recente levantamento com essa pergunta.
O CEO da Atlas Intel afirma que, durante as investigações da operação Lava Jato, a corrupção aparecia na primeira posição desse ranking. Já na pandemia, a maior preocupação era a economia, por conta do desemprego, queda dos salários e a pobreza, mas que a criminalidade aparece no topo das preocupações de maneira inédita.
“Entre os bolsonaristas, a corrupção ainda desponta como o tema mais preocupante, por uma pequena diferença. Isso acontece por causa dos escândalos da Lava Jato que marcaram as gestões petistas anteriores”, afirma.
Roman afirma que as últimas pesquisas apontam uma tendência de alta. Segundo ele, a população deve se preocupar ainda mais com a segurança nos próximos meses. Isso, porém, vai depender de como o governo vai responder a essa escalada de violência no país.
Para Roman, o discurso atual de que a atuação das polícias militares é uma responsabilidade dos governos estaduais não é a melhor saída.
“A pesquisa mostrou que 70% da população diz que a responsabilidade das polícias e da criminalidade é dividida por igual entre governo federal e Estados, enquanto 20% pensa que o país tem mais responsabilidade que os Estados e apenas 6% responderam que o governo do Estado tem mais responsabilidade nesses casos. Então não é fácil delegar a culpa para os governadores.
Ele afirma que isso levou o governo a abordar o problema de uma forma diferente, pois dessa maneira “não convence a população”.
“Parece que há uma mudança do governo e ele passou a falar sobre o tema. Falou que enviará a Força Nacional para atuar no Rio e disse que vai trabalhar com os governadores. Esse conjunto de medidas que estão sendo anunciadas é um sinal de que ele está olhando para o tema”, diz.
A segurança e a violência é um consenso tanto entre lulistas quanto bolsonaristas, explica o CEO da AtlasIntel. Ele afirma que essa preocupação une os dois espectros tanto nas preocupações quanto nas soluções.
“A maioria diz que é um problema. Quando questionados, a intervenção federal é a saída citada por 72,5% dos entrevistados como estratégia para reforçar a segurança pública no Rio”, afirma Andrei Roman.
Fonte: BBC
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