Um novo ciclone extratropical se formou na costa do Rio Grande do Sul nos últimos dias e causou preocupação. Mas apesar de registros de inundações na região, ele logo se afastou e seguiu em direção ao oceano.
Pouco mais de uma semana antes, um ciclone já havia causado estragos no Estado e deixado 46 mortos, além de ter afetado milhares de moradores da região.
Foi a maior tragédia natural do Estado nos últimos 40 anos, segundo o governo local. Em junho, um outro ciclone já havia deixado 16 mortos em sua passagem pelo Estado.
As previsões apontam que outros ciclones extratropicais podem afetar o Sul do país nas próximas semanas. Isso não é incomum, dizem especialistas. A diferença, apontam, é que atualmente há maior chance de que esses fenômenos sejam mais intensos.
O aquecimento global e a formação do El Niño, que deve ganhar força nos próximos meses, são os principais fatores apontados por pesquisadores para que esses ciclones possam causar mais estragos neste ano.
“O planeta está mais quente, os oceanos mais quentes e o El Niño está em evolução. Essa combinação faz com que a atmosfera torne os seus eventos meteorológicos mais intensos”, explica o climatologista Francisco Eliseu Aquino, do Departamento de Geografia e Centro Polar e Climático da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).
Aquino frisa que esse cenário de fenômenos mais intensos é sentido em todo o mundo. Ele menciona, por exemplo, as enchentes devastadoras que atingiram a Líbia nesta semana e, segundo autoridades locais, deixaram cerca de 20 mil mortes, além de ter destruído bairros inteiros.
“Com o aquecimento global, temos uma atmosfera e oceanos propícios a desenvolver eventos extremos. Isso se associa ao El Niño em desenvolvimento e se torna uma combinação que, não importa o hemisfério em que esteja, fará com que os eventos meteorológicos ganhem intensidade em cada região”, declara Aquino.
Os ciclones no sul do Brasil
Os ciclones extratropicais costumam se formar no extremo sul do país, entre a costa do Rio Grande do Sul e os países vizinhos Argentina e Uruguai.
Eles são considerados comuns, têm ventos mais fracos e efeitos de menor duração em comparação aos ciclones tropicais.
A climatologista Karina Bruno Lima comenta que eles são mais comuns principalmente no inverno, no outono e na primavera.
“Esses são períodos em que surgem condições favoráveis, no caso o contraste de temperatura entre massas de ar quente e fria”, pontua.
A especialista ressalta que nem sempre é possível sentir os efeitos desses fenômenos, porque eles podem ser menos intensos ou estarem mais distantes da costa.
No entanto, a climatologista explica que diante do cenário de aquecimento global e formação de El Niño, que aumenta a umidade na região sul do país, há mais probabilidade de que um ciclone extratropical cause desastres.
Assim aumentam as chances de alagamentos, deslizamentos, enxurradas e tantos outros impactos que afetam duramente a população local.
Aquino aponta que o inverno deste ano foi considerado atípico em relação aos ciclones.
“Tivemos, em média, ao menos um ciclone se formando por semana no sul do país”, comenta.
“E alguns desses eventos foram extremos, como as inundações de junho ou no início de setembro”, diz Ezequiel.
Segundo o climatologista, os especialistas ainda estudam se o número de ciclones deve aumentar na região ao longo dos próximos anos e os impactos deles.
Medidas de contenção
Mas afinal, quais medidas podem ser tomadas para reduzir os efeitos desses fenômenos extremos?
Para os especialistas, a principal alternativa é buscar formas para enfrentar as mudanças climáticas.
“Para isso são importantes as ações dos indivíduos, mas mais importantes são as decisões dos tomadores de decisões, dos governantes”, pontua Aquino.
O climatologista cita que o governo deve investir cada vez mais em ações para combater o desmatamento e a queimada no país.
“Se o Brasil se empenhar nisso, vai contribuir muito nacionalmente e globalmente para o enfrentamento das mudanças climáticas”, declara.
“É importante entender que a mudança climática é real”, acrescenta.
E o climatologista defende que as autoridades públicas deem mais atenção à Defesa Civil, que tem o objetivo de reduzir os riscos de desastres, além de prevenir e mitigar situações do tipo.
“Cada município tem que ter a sua própria estrutura de Defesa Civil, com coordenação própria e espaço próprio. O Brasil tem uma boa previsão do tempo, que é acertada, mas é importante também que as pessoas sejam alertadas sobre os riscos desses fenômenos, como por meio da Defesa Civil ou de lideranças comunitárias”, diz o climatologista.
Além disso, ele lista situações que podem apoiar nessas situações de desastre, como cuidar das margens dos rios, evitar o assoreamento (acúmulo de terra, lixo e matéria orgânica), proteger as matas ciliares e avaliar profundamente cada via que é alargada em uma determinada região – para mensurar os impactos dessa medida em possíveis desastres ambientais.
Fonte: BBC
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