Líderes africanos viajarão para a Rússia para uma cúpula com o presidente Vladimir Putin em 27 e 28 de julho.
Isso é visto como outro sinal do crescente papel da África no cenário internacional e é o segundo evento desse tipo desde um encontro em Sochi em 2019.
Enquanto a Rússia e seus rivais lutam pela influência no continente africano, os acontecimentos no Mali têm mostrado que agentes pró-Rússia podem estar diminuindo a influência de outros países no continente.
Onde fica o Mali?
O Mali é um país da África Ocidental sem acesso ao mar e é um dos maiores do continente, com área de 1,2 milhão de quilômetros quadrados, se estendendo da África Ocidental tropical até o deserto do Saara.
O sul urbano contrasta com o norte escassamente povoado mas conturbado politicamente, onde uma rebelião secessionista foi interrompida por um acordo de paz de 2015. Nas regiões centrais, agricultores e pastores estão há anos em confronto pelo acesso à terra e à água.
O Mali é um dos países mais pobres do mundo, com 22,5 milhões de habitantes vivendo com uma renda média anual de US$ 833 (quase R$ 4 mil) por pessoa, segundo o Banco Mundial.
A população do Mali é predominantemente muçulmana e a língua oficial do país é o francês. O país fica na região do Sahel, na África.
O que está acontecendo?
O Mali enfrenta uma insurgência jihadista islâmica desde 2012. Também houve dois golpes militares desde agosto de 2020, apesar do apoio da França e da ONU.
Os EUA anunciaram recentemente sanções contra três funcionários de alto escalão do Mali que dizem estar “facilitando o entrincheiramento” dos mercenários russos do Grupo Wagner.
Enquanto isso, o mandato da Missão da ONU de 13 mil homens no Mali (Minusma) terminou em 30 de junho, após uma década de tentativas fracassadas de estabilizar o país.
Desde que as tropas francesas foram embora em agosto de 2022 e a retirada da Minusma, a junta militar do Mali — que tomou o poder em maio de 2021 — aproximou-se cada vez mais do Wagner.
Acredita-se que o grupo russo tenha agora mil soldados no país, embora a junta militar negue sua presença.
O que é o movimento pró-Rússia no Mali?
Yèrèwolo significa “filhos dignos” na língua franca do Mali, a bambara. O grupo foi criado em 2019 pelo ativista incendiário Adama Ben Diarra, também conhecido como Ben, O Cérebro, integrante do Conselho Nacional de Transição (CNT) do Mali.
O grupo radical pan-africanista é supostamente próximo da junta militar no poder. Seu lema “debout sur les remparts” (situado nas muralhas) é uma frase do hino nacional do Mali.
O grupo usou discursos nacionalistas e retórica pró-Rússia para pedir a expulsão das forças francesas e da ONU do Mali, o que acabou acontecendo.
Quem é o líder do grupo?
O líder do Yèrèwolo, Adama Diarra, comanda o sentimento pró-russo e anti-francês do grupo.
Nascido na cidade-guarnição de Kati, 15 km ao norte de Bamako, Diarra trabalhava em uma escola de ensino médio e começou seu ativismo como sindicalista em sua cidade natal, antes de se formar em ciências políticas e jurídicas.
Diarra se considera pan-africanista e um discípulo do primeiro presidente do Mali, Modibo Keïta, que lutou pela independência da França na década de 1960. Diarra se define como uma figura revolucionária que veio para emancipar o povo do Mali da influência estrangeira.
Ele está entre os cinco funcionários do governo de transição sancionados pela União Europeia no ano passado por acusações de ajudar a derrubar o ex-presidente do Mali em 2020. Diarra disse que a sanção era uma honra.
Ele também foi visto no vizinho Burquina Faso apoiando os esforços da administração militar do país para cortar relações com a França e se aproximar di Wagner.
É comum ver símbolos do Wagner e da Rússia nos comícios de Yèrèwolo, assim como a queima de símbolos da ONU e ocidentais, especialmente franceses.
Acredita-se que Diarra tenha apresentado uma petição com supostos nove milhões de assinaturas à embaixada russa no Mali, pedindo uma maior cooperação militar entre seu país e a Rússia.
“Eu venho dizendo isso há anos: minha inspiração, minha bússola, foi o relacionamento que nosso primeiro presidente teve com a União Soviética”, disse Diarra certa vez em um vídeo.
Por que Yèrèwolo é contra a missão da ONU?
O Yèrèwolo lançou uma campanha contra a Minusma, a missão da ONU no Mali, depois que as forças francesas partiram. O grupo criticou um relatório de segurança da ONU em junho de 2002, que dizia que apenas cerca de 21% do país era controlado pelas autoridades.
O grupo também acusa a ONU de retratar o exército negativamente depois que um relatório destacou que soldados do Mali e forças estrangeiras, que se acredita serem russas, teriam matado 500 civis em uma operação de uma semana na cidade central de Moura em 2022.
Como no Mali, a ONU está enfrentando declínio político e de segurança em outras partes da África.
A missão da ONU na República Centro-Africana enfrentou críticas da mídia, enquanto a missão na República Democrática do Congo é alvo de hostilidades.
Fonte: BBC
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