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A mesa e o cinema

Domingo passado (26 de abril) aconteceu a 93ª festa do Oscar. O prêmio de melhor ator foi para Anthony Hopkins, por sua emocionante interpretação em “Meu Pai”. No filme ele é um idoso, com Alzheimer, cujo único prazer é sentar à mesa, com a filha (Olivia Colman), e provar um frango assado preparado por ela. Vale lembrar que gastronomia e cinema sempre andaram juntos. Talvez porque o cinema celebra a própria vida, sendo mesmo natural que nele tenha destaque o ritual da mesa. O diretor Martin Scorsese até disse: “A inspiração que é preciso para cozinhar bem, assim como a criatividade e o poder de improvisar, é muito semelhante ao que se usa para fazer um filme”. É o que vem acontecendo sempre, desde o princípio da Sétima Arte. Não por acaso os irmãos Lumière (Auguste e Louis) escolheram o Salão Indiano do Grande Café, no Boulevard des Capucines (Paris), para exibição da primeira sessão de cinema (em 28 de dezembro de 1895). Nele, 35 pessoas pagaram ingresso para ver uma sequência de imagens em movimento. E não se arrependeram. 

Dia desses reli um livro curioso – Royale com queijo, as mais deliciosas frases sobre gastronomia do cinema, de Mariza Gualano. São mais de 600 frases, ditas nas telas, celebrando comidas e bebidas. Transcrevo algumas:

· “De todos os bares do mundo, ela tinha que entrar logo no meu” – Casablanca (1942).

· “Uma mulher apaixonada e feliz deixa queimar o suflê. Uma mulher apaixonada e infeliz se esquece de ligar o forno” – Sabrina (1954).

· “Depois de comer uma torta de cebolas e toucinho, renunciou a seu nome, Alonso Quixano, e começou a se intitular Don Quixote de la Mancha” – Don Quixote (1957).

· “A vida é um banquete” – A mulher do século (1958).

· “Pouca gente sabe, mas para trinchar o cordeiro é preciso estar de pé” – O discreto charme da burguesia (1972).

· “Um bom cozinheiro é como um bom cirurgião” – A comilança (1973).

· “Moqueca de siri mole era o prato preferido de Vadinho… seus dentes mordiam o siri mole, seus lábios ficavam vermelhos de dendê” – Dona Flor e seus dois maridos (1976).

· “Devíamos ter comprado bife, que não tem pernas nem corre” – o Noivo neurótico, noiva nervosa (1977).

· “Eu não cozinhava. Eu fazia arte” – A festa de Babette (1987).

· “Não se deve fumar antes de comer. Afeta o paladar, queima sua língua e deixa odor na urina” – O cozinheiro, o ladrão, sua mulher e o amante (1989).

· “Dom João morreu tomando sopa de galinha” – Carlota Joaquina (1995).

· “Às vezes o espaguete gosta de ficar sozinho” – A grande noite (1996).

· “Companheira Maria, você atua muito bem, mas a maior prova de amor ao ideal revolucionário é comer a sua comida” – O que é isso, companheiro? (1997).

· “Essa gente não sabe o que é comida. Ponha uma almôndega no prato e vão achar que é bola de boliche” – Uma receita para a Máfia (2000).

· “É bife passado na manteiga pra cachorra e fome pra João Grilo. É demais!” –  O Auto da compadecida (2000).

· “Vocês pretendem me comer vivo? / Não! Primeiro a gente assa bem” – Caramuru (2001).

· “Comida importa mais do que tempo” – O pianista (2002).

· “Tenho medo do medíocre misturado com o complicado. A cozinha não perdoa” – Fuso horário do amor (2002).

· “Não dá para botar um javali nas lentilhas? Ou dois?” – Asterix (2002).

· “A canela faz as pessoas olharem umas nos olhos das outras” – O tempero da vida, (2003).

· “O segredo da vida é a manteiga” – As férias da minha vida (2006).

· “A boa comida é como música que se saboreia” – Ratatouille (2007).

· “Qualquer um pode cozinhar, mas só os destemidos serão notáveis” – Ratatouille, (2007).

· “Assim como Degas usava a tinta, Rodin usava o bronze; Debussy, o piano; Baudelaire, o idioma; Henri Jayer e Philippe de Rothschild usaram a uva. Um grande vinho é uma grande arte, meu amigo” – O julgamento de Paris (2008).

· “Lembre-se de que o caminho para o coração de um homem sempre passa pelo estômago” – Toast (2010).

· “Cada palavra em italiano é como uma trufa, um passe de mágica” – Comer, rezar, amar (2010).

· “Quem nunca chupou cabeça de lagostim não viveu a vida” – Borboletas negras (2011).

· “Isso se chama doce de leite. É a coisa mais deliciosa do mundo. Vocês se esqueceram de inventar” – Um conto chinês (2011).

· “Não confio em pessoas que não bebem” – Trem noturno para Lisboa (2013).

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Fonte: Folha PE
Autor: Letícia Cavalcante

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