- Author, Matt Schley*
- Role, De Tóquio para a BBC News
How Do You Live estreou nos cinemas japoneses nesta sexta-feira (14/07). É a mais a nova produção do Studio Ghibli — e supostamente o último filme do renomado diretor de animação Hayao Miyazaki.
É difícil exagerar a influência de Miyazaki e do Studio Ghibli, o estúdio de animação que ele fundou em conjunto com o falecido diretor Isao Takahata.
Três dos filmes de Miyazaki — Princesa Mononoke, A Viagem de Chihiro e O Castelo Animado — estão entre os 10 filmes de maior bilheteria do Japão, e ele inspirou gerações de cineastas de animação e live-action no país e em todo o mundo.
A Viagem de Chihiro, de 2001, ganhou o Urso de Ouro no Festival Internacional de Cinema de Berlim e o Oscar de Melhor Animação na 75ª edição da premiação. O próprio Miyazaki recebeu um Oscar Honorário da Academia em 2014.
How Do You Live (Kimitachi wa Do Ikiru ka) leva o título do romance de 1937 de Genzaburo Yoshino, mas sua história é totalmente original, escrita por Miyazaki.
O filme se passa no Japão, durante a Segunda Guerra Mundial, e gira em torno de um menino chamado Mahito, cuja mãe morre em um incêndio.
Pouco depois, seu pai, que trabalha em uma fábrica de aviões de combate, se casa com a irmã mais nova de sua falecida esposa, Natsuko, e se muda com a família para sua enorme casa no campo.
Mahito, que está ressentido com Natsuko por tomar o lugar de sua mãe, começa a explorar a área ao redor da casa e descobre uma torre misteriosa na qual ele é instruído a não entrar.
Ele também encontra uma garça que consegue falar (ela aparece no cartaz do filme, na foto principal desta reportagem) que afirma que a mãe de Mahito está, na verdade, viva e na torre esperando para ser resgatada. Mahito rejeita essa afirmação, mas quando sua nova madrasta desaparece na torre, ele decide resgatá-la.
Assim que ele entra, é transportado para um mundo alternativo cheio de magia, onde sua busca o coloca em contato com novos amigos e inimigos.
O filme está repleto das obsessões, peculiaridades e preocupações temáticas de Miyazaki. Há os deleites visuais habituais, como criaturas fofas, mas misteriosas, comida de ótima aparência e voos da imaginação que desafiam a gravidade — sobretudo desenhados à mão e movendo-se com a fluidez e o senso de peso que marcam o trabalho deste mestre da animação.
Tematicamente, como em filmes como O Serviço de Entregas da Kiki e A Viagem de Chihiro, How Do You Live é um conto de amadurecimento em que uma criança deve superar seu egoísmo e aprender a viver para os outros.
How Do You Live também ecoa a biografia do próprio diretor.
O pai de Miyazaki, como o de Mahito, trabalhava para uma empresa que produzia peças para aviões de combate, e sua própria família também foi retirada da cidade e levada para o campo durante a guerra. Além disso, Miyazaki também tinha um vínculo profundo com a mãe, que teria tido uma grande influência em sua obra e nas fortes personagens femininas de seus filmes.
How Do You Live não contou com o mesmo nível de alvoroço no dia da estreia que se poderia esperar de um novo lançamento de um diretor famoso como Miyazaki. Não foram divulgados trailers ou anúncios promocionais na televisão, e a única dica sobre o que o filme poderia ser vinha de um único cartaz enigmático.
A ausência de campanha publicitária foi uma estratégia deliberada do presidente do Studio Ghibli e produtor de How Do You Live, Toshio Suzuki, que disse a uma importante revista japonesa em junho: “Achei que dar muita informação reduziria o interesse do público”.
Uma análise feita na tarde desta sexta-feira em vários cinemas em Shinjuku, um dos principais distritos de entretenimento de Tóquio, mostrou que as exibições da manhã e do início da noite estavam quase esgotadas. No entanto, havia muitos lugares disponíveis para as sessões na parte da tarde e no fim da noite.
Muitos amigos que consultei informalmente na semana passada não tinham ideia de que o lançamento de um novo filme de Miyazaki estava previsto para esta sexta-feira. Os números de bilheteria divulgados após o fim de semana vão contar uma história mais completa, mas a estratégia pode ser começar devagar e consolidar a audiência nas próximas semanas por meio do boca a boca.
O último filme de Miyazaki — será que desta vez é para valer?
Miyazaki ameaçou se aposentar do cinema várias vezes, sobretudo em 2013, após o lançamento do filme Vidas ao Vento. Não rolou: o diretor começou a trabalhar em How Do You Live em 2016.
Como a produção deste filme levou sete anos, e considerando a idade do diretor (ele completou 82 anos em janeiro), How Do You Live é aparentemente seu último filme.
Enquanto o legado de Miyazaki está garantido, o futuro do Studio Ghibli é menos claro. O estúdio, fundado para produzir filmes de Miyazaki e Takahata, fez várias tentativas de passar o bastão para a próxima geração ao longo dos anos com sucesso relativo.
Um sucessor em potencial, Yoshifumi Kondo, que dirigiu o bem recebido Sussurros do Coração em 1995, morreu pouco depois de completar 47 anos. O filho de Miyazaki, Goro, dirigiu três filmes no estúdio, incluindo a recente produção animada por computador Aya e a Bruxa, mas seus filmes não tiveram o mesmo nível de sucesso financeiro ou de crítica que os do pai dele.
O presidente do Studio Ghibli, Toshio Suzuki, anunciou que eles estão planejando seu próximo filme, e o estúdio recentemente se desdobrou em empreendimentos como o Ghibli Park, um parque temático nitidamente diferente da Disney, em Nagoya, no Japão. (Na sessão de How Do You Live que eu fui, recebi panfletos anunciando o parque ao entrar na sala de cinema.)
Na década após a primeira aposentadoria de Miyazaki, diretores como Makoto Shinkai (Your Name) e Mamoru Hosoda (Belle) tiveram enorme sucesso de bilheteria nacional com seus próprios animes originais, enquanto em 2020 uma adaptação do mangá Demon Slayer desbancou A Viagem de Chihiro, se tornando o filme de maior bilheteria do Japão de todos os tempos.
Independentemente do que aconteça com o próprio Ghibli, o legado supremo de Miyazaki pode ser estar ajudando a consolidar os filmes de animação como a forma de entretenimento mais amada do Japão.
* Matt Schley é um crítico independente de filmes e animes baseado no Japão.
Fonte: BBC
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