- Author, Sofia Bettiza
- Role, BBC News
A Itália se despede do ex-primeiro-ministro Silvio Berlusconi com um espetáculo digno da grande novela de sua vida.
O ex-cantor de navios de cruzeiro que governou a Itália sem nenhuma experiência política anterior construiu um império midiático e teve uma série de esposas e namoradas.
O arcebispo de Milão conduziu o funeral de Berlusconi na grande catedral da cidade nesta quarta-feira (14/6).
A Itália celebrou um dia de luto nacional. Todas as bandeiras italianas e europeias em edifícios públicos foram baixadas a meio mastro.
Esse tipo de homenagem é inédito para um ex-primeiro-ministro.
Um funeral de Estado, como o de Berlusconi, é um privilégio geralmente reservado para papas, heróis de guerra e ministros em serviço.
Milão é uma cidade profundamente associada a Berlusconi: onde ele nasceu e começou a sua carreira como vendedor de aspiradores.
Grandes telões foram instalados na praça principal, para que as milhares de pessoas que foram se despedir pudessem acompanhar a cerimônia.
A sucessão
Nos bastidores, no entanto, se desenrolam dúvidas sobre a sucessão de Berlusconi.
Durante a sua vida, ele acumulou um vasto império — abrangendo a mídia, imóveis, finanças, cinema e esportes, bem como um poderoso partido político que faz parte do atual governo da Itália.
Ele era um dos homens mais ricos do país. Segundo a Forbes, os ativos de sua empresa valem cerca de US$ 6,5 bilhões (cerca de R$ 31,5 bilhões).
Mas ele nunca indicou publicamente quem deveria liderar seu império empresarial após a sua morte, e também há grandes dúvidas sobre o futuro do partido que ele criou, o Forza Italia.
Berlusconi tem dois filhos do primeiro casamento e três do segundo. Todos possuem ações da Fininvest, sua holding.
O futuro de seus negócios provavelmente dependerá de como ele escolheu distribuir a participação dos 61% que tinha na Fininvest.
Haverá cotas iguais para todos ou mais para os dois filhos mais velhos, Marina e Pier Silvio, que ocupam cargos de chefia no império desde o início dos anos 1990?
Outros ativos valiosos são, sem dúvida, as muitas vilas de luxo de Berlusconi.
Elas podem ser difíceis de serem passadas para seus filhos de maneira equitativa.
Sua Villa San Martino em Arcore, no nordeste de Milão, tem 3.500 m2 e data do século XVIII.
Ele também tem casas no Lago Maggiore, em Roma, em Cannes, no Caribe e em outros lugares.
O principal destaque entre as propriedades de Berlusconi é a Villa Certosa, uma mansão da Sardenha que ele comprou na década de 1970.
Lá ele recebeu líderes mundiais, de Vladimir Putin a George W. Bush.
Tem 126 quartos e parece um parque temático, incluindo um vulcão falso que entra em erupção de lava.
Seu valor é estimado em US$ 280 milhões (cerca de R$ 1,3 bilhão).
Quem unia a família
Pessoas próximas à família descreveram Berlusconi como “a cola” que mantinha seus filhos unidos.
A grande questão é se essa unidade familiar pode ser mantida agora que Berlusconi se foi e qual impacto isso poderia ter no futuro de seu império empresarial.
Até agora não houve disputas sobre quem assumirá o império.
A expectativa é de que essa responsabilidade caia sobre a filha mais velha, Marina, de 56 anos, considerada a mais próxima dos cinco do pai.
Vida política
A morte de Berlusconi pode ser desastrosa para o futuro de seu partido político.
O Forza Italia pode sobreviver sem seu criador carismático ou desmoronar em questão de meses?
Ele foi o maior líder populista e, sem surpresa, o partido que criou foi construído inteiramente em torno de sua personalidade.
Seu braço direito, o chanceler Antonio Tajani, negou categoricamente que o futuro do partido esteja em jogo: “É impensável que o partido desapareça”.
No entanto, nas eleições gerais de setembro passado, o Forza Italia reduziu seus votos em 8%.
Muitos italianos que apoiaram o partido o fizeram porque eram leais a Berlusconi e será difícil nomear um sucessor que seja aprovado por todo o eleitorado.
Na verdade, os membros do partido provavelmente vão recorrer à família Berlusconi para uma decisão.
Será que os dois mais velhos, Marina e Pier Silvio, vão querer continuar investindo na criação política do pai, ou vão fechar a torneira financeira e cortar os prejuízos?
Sem esse apoio financeiro, o Forza Italia não tem chance de sobreviver. Berlusconi financiou pesadamente seu partido, injetando mais de US$ 100 milhões (cerca de R$ 500 milhões) nele.
Há especulações de que Marina poderia sucedê-lo como líder, mas por enquanto isso é apenas boato. Ela é vista mais como uma operadora de bastidores.
A viúva
Outra incógnita é sobre a última parceira de Berlusconi, Marta Fascina, 53 anos mais nova.
Ela é militante de seu partido e já disse várias vezes que “sua paixão é a política e ela cresceu com o mito de Silvio Berlusconi”.
A filha mais velha de Berlusconi supostamente bloqueou o plano do pai de se casar com a companheira no ano passado.
Portanto, há uma nuvem sobre o futuro papel de Fascina na despedida do líder.
Uma coisa é certa: se o Forza Italia se romper, será um grande problema para os demais integrantes do governo de coalizão da primeira-ministra Giorgia Meloni.
A instabilidade política paira após o dia de luto nacional nesta quarta-feira.
Em um país tão conhecido por suas crises políticas regulares, um colapso do governo desencadeado pela desintegração de um dos parceiros da coalizão não parece um cenário tão improvável.
Até agora, os filhos de Berlusconi evitaram os holofotes.
Mas sua morte pode forçá-los a emergir das sombras para tomar as rédeas de seu império.
Berlusconi teve problemas de saúde durante anos, então é provável que ele e seus filhos tenham pensado em tudo isso.
Eles poderiam optar por uma transição fácil anunciada por sua irmã mais velha, Marina, em vez de entrar em uma batalha de sucessão que poderia acabar mal.
Fonte: BBC
Você precisa fazer login para comentar.