Crédito, EPA-EFE/REX/Shutterstock

  • Author, Simone Machado
  • Role, De São José do Rio Preto (SP) para BBC News Brasil

A professora Simone Aparecida Camargo se preparava para levar os bebês para o pátio da creche Cantinho Bom Pastor, em Blumenau, hoje pela manhã, quando outra professora entrou correndo na sala dizendo que um homem havia roubado o posto de combustíveis do outro lado da rua e invadido a escola para se esconder.

Com medo de o homem invadir a sala de aula onde estavam os bebês, as duas profissionais trancaram a porta da sala e ligaram para a Polícia Militar e Corpo de Bombeiros – nesse momento elas já haviam ouvido os gritos das crianças e outras profissionais.

“Quando eu ouvi os gritos, eu fiquei trancada na minha sala com os bebês menores. Tranquei eles no banheiro e liguei para o socorro. Foi desesperador porque não sabíamos o que estava acontecendo. Quando sai da sala, ele [o suspeito] já não estava mais na escola”, diz a professora à BBC News Brasil.

Ainda muito abalada, Simone conta que o homem pulou o muro atacou com uma machadinha crianças da turma da pré-escola que estavam no pátio da escola fazendo uma atividade. O suspeito estaria ainda com mais de uma arma branca.

“Eu não vi o que estava na mão dele, mas era mais do que uma machadinha, porque uma [das armas] ficou no pátio”, relata Simone.

Ainda segundo a profissional, que atua na área há pouco mais de cinco anos, após o suspeito deixar a escola, a cena que ficou era de terror, com crianças feridas e desespero por toda parte. Todos os alunos foram colocados em salas até a chegada do socorro.

“Aquela cena que você nunca imagina ver um dia na vida, eu vi. Não sei se vou conseguir continuar nessa profissão. Pra que tirar a vida de um inocente? Crianças que não fizeram nada, que só sabiam brincar”, desabafa Simone.

O ataque

O ataque à creche particular Cantinho Bom Pastor, na rua dos Caçadores, no bairro Velha, em Blumenau, no Vale do Itajaí, em Santa Catarina, aconteceu por volta das 8h50 de hoje. Quatro crianças morreram e outras cinco ficaram feridas. Havia cerca de 40 crianças na escola.

“Chegando ao local, nós constatamos o óbito de quatro crianças, sendo três meninos e uma menina, na faixa etária de 5 a 7 anos. E ainda fizemos o socorro de quatro crianças feridas, sendo dois meninos e duas meninas e uma dessas vítimas está em estado grave”, diz o coronel Diogo de Souza, do Corpo de Bombeiros de Santa Catarina. A quinta criança foi socorrida pela própria mãe e levada ao hospital.

Legenda da foto,

Creche Cantinho Bom Pastor emite nota após ataque

Segundo informações da polícia, o assassino, um homem de 25 anos, pulou o muro da creche e iniciou o ataque contra as crianças com uma machadinha. Em seguida, ele se entregou no Batalhão da Polícia Militar e está preso. Ele não teria nenhuma ligação com a creche e as vítimas teriam sido escolhidas aleatoriamente. A motivação do ataque ainda não foi esclarecida.

“Ele chegou de moto ao quartel para se entregar. Ainda não sabemos se há mais gente dando algum tipo de suporte a ele. Ele não falou nada, se manteve calado o tempo todo e tudo será investigado a partir de agora”, afirmou um representante da PM.

O governo do Estado cancelou hoje e amanhã as aulas na cidade de Blumenau e declarou luto oficial de três dias pelo assassinato das crianças. O prefeito, Mário Hildebrandt, decretou luto oficial no município por 30 dias.

Em nota, a creche Cantinho Bom Pastor informou que está “sofrendo terrivelmente e sentindo as dores que afeta cada criança, familiar e amigo. Ainda estamos tentando entender o ocorrido, que atinge o que nos é mais sagrado: a integridade de nossas crianças, que sempre foram aqui recebidas com amor e carinho”.

A gestão diz ainda que se solidariza com “todas as famílias atingidas direta e indiretamente, colaboradores, professores e amigos. Iremos trabalhar incessantemente com as autoridades, com a finalidade de apurar os fatos, a motivação e exigir as mais duras punições legais aos envolvidos. Agradecemos a solidariedade e a assistência prontamente dada pelos serviços de saúde, Corpo de Bombeiros, Polícia Militar e Civil, Governo Municipal e Estadual e a todas as pessoas que de alguma forma estão ajudando ou trabalhando para trazer algum consolo, afeto, carinho e amparo às vítimas e suas famílias.”