- Author, Chelsea Bailey
- Role, Da BBC News em Washington
A orca vivendo há mais tempo em cativeiro deve ser devolvida ao seu habitat natural na região noroeste do oceano Pacífico mais de 50 anos após ter sido capturada.
A orca Lolita tem 56 anos e foi a atração principal do parque aquático Miami Seaquarium, nos Estados Unidos, por décadas. Na natureza, a expectativa de vida de uma orca fica entre 50 e 80 anos, com algumas fêmeas chegando aos 90.
Ativistas por direitos dos animais passaram anos exigindo a libertação de Lolita. O projeto Whale and Dolphin Conservation (Conservação de Baleias e Golfinhos, em inglês) afirma que a estimativa de vida de orcas nascidas em cativeiro é, em média, 4 anos.
Na semana passada o aquário anunciou que iniciará o processo de devolução da orca ao seu habitat natural nos próximos dois anos.
O Miami Seaquarium deve trabalhar em parceria com a ong Friends of Lolita (Amigos da Lolita, em inglês) para reabilitar o animal a voltar para casa.
Quem pagará a conta do processo de mudança de Lolita será Jim Irsay, dono do time de futebol americano Indianapolis Colts.
“Estou animado por fazer parte da jornada de Lolita”, disse Irsay. “Ela é uma criatura forte, é incrível.”
Lolita, também conhecida por seu nome original Tokitae ou Toki, é de um grupo de orcas que vive exclusivamente no norte do Oceano Pacífico e passa vários meses do ano em Puget Sound, no estado de Washington, de acordo com a agência americana NOAA, que atua em assuntos relativos aos oceanos e à atmosfera.
Essa população especial de orcas foi considerada ameaçada de extinção em 2005, em parte devido à captura dos animais durante a década de 1970, quando Lolita foi capturada.
Captura cruel
Em seu livro que documenta a história do fascínio global pelas orcas, o historiador ambiental e professor da Universidade de Victoria, Jason Colby, conta como Lolita foi capturada em agosto de 1970.
Na época, os captores faziam parceria com pescadores locais para levar os filhotes de orca a ficarem presos em redes, separá-los de seus grupos e, por fim, vendê-los para parques aquáticos, como o Seaworld e o Miami Seaquarium.
“Quando Lolita foi capturada, eles acidentalmente acabaram prendendo quase toda a população da região”, diz Colby à BBC.
“Em certo momento, havia cerca de 90 orcas presas nas redes”
Colby diz que ativistas dos direitos dos animais tentaram libertar os animais cortando as redes dos pescadores, mas alguns ficaram presos e quatro filhotes morreram afogados.
Orcas são mamíferos e, embora vivam no mar, precisam subir à superfície para respirar. Oito delas foram capturadas naquele mês, incluindo Lolita.
“Isso foi em agosto de 1970. A Guerra do Vietnã estava acontecendo. Foi o primeiro mandato da presidência de Richard Nixon. Digo isso para você ter uma ideia de quanto tempo ela está em cativeiro”, contextualiza Colby.
40 anos sozinha
Após a captura, Lolita foi vendida para o Miami Seaquarium, onde se apresentaria ao lado de outra orca, chamada Hugo, de acordo com o site do parque.
Hugo morreu em 1980, então ela não teve outra orca para se socializar por mais de 40 anos.
Uma vez libertada, ela será a orca mais velha a ser transportada para um novo habitat, disse Colby.
Nos mais de 50 anos desde então, ela vive em um tanque de 26 por 11 metros no Seaquarium, um espaço que os ativistas dizem ser perigosamente pequeno para um animal de aproximadamente 6 metros de comprimento.
Uma das críticas ao tamanho do tanque veio da filha de Eduardo Albor, CEO da The Dolphin Company, a maior proprietária de parques de diversões da América Latina.
Albor visitou o parque temático com a menina pouco antes de adquiri-lo em 2021.
“Ela me disse: ‘Se algum dia assumirmos a administração deste lugar, você me promete que verá como melhorar isso?’”, lembra Albor.
No ano seguinte, o Seaquarium anunciou a aposentadoria de Lolita após 52 anos de apresentações.
Albor elogiou os ativistas dos direitos dos animais e a equipe do Seaquarium por deixarem de lado as diferenças e trabalharem juntos.
“Temos o mesmo objetivo, e agora o mundo verá que coisas incríveis são possíveis quando ouvimos uns aos outros e trabalhamos juntos”, disse.
Dificuldades
Mas os especialistas alertam que a realocação de Lolita terá grandes obstáculos.
“Temo que, quando virem que ela está sendo levada para casa, as pessoas irão imaginar que será uma espécie de ‘momento Free Willy’, onde ela nadará e se conectará com sua família. Não consigo imaginar isso acontecendo”, avalia Colby.
A idade de Lolita e o fato de ela ter vivido em cativeiro por décadas e ser incapaz de se alimentar sozinha podem complicar sua soltura na natureza, afirma o historiador ambiental.
Em vez de liberar totalmente Lolita de volta ao mar para viver na natureza, Colby acredita que a orca provavelmente viverá seus dias restantes em uma espécie de cercadinho marinho, que permitirá que ela sinta as águas de seu habitat natural e se reconecte acusticamente com o grupo do qual ela foi separada décadas atrás.
Embora triste, esse cenário ainda seria uma “vitória poderosa e simbólica” segundo Colby.
“Se a volta dela fizer com que as pessoas se comprometam a garantir que este grupos de orcas tenha um lugar saudável para viver, será um grande sucesso”, diz.
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