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Chineses recorrem ao mercado paralelo em busca de remédios contra a Covid

Com muitas farmácias sem estoque e uma explosão de casos de Covid-19, inúmeras famílias na China estão recorrendo a sites obscuros e muitas vezes fraudulentos para comprar remédios a preços exorbitantes.

O fim da política de “covid zero” da China no mês passado desencadeou uma onda de casos no país, onde muitas farmácias ficaram sem remédios para resfriado e febre.

Com isso, muitos se veem forçados a recorrer a lojas on-line pouco confiáveis, apesar do histórico de escândalos envolvendo medicamentos contaminados, ensaios clínicos falsos e regulamentação negligente por parte da indústria farmacêutica no país.

Desesperada para encontrar remédios para seus parentes doentes, Qiu, de 22 anos, contou à AFP que gastou milhares de iuanes em produtos que nunca chegaram.

Ela entrou em contato com alguém pela Internet que alegava ser representante da empresa farmacêutica de Hong Kong Ghitai e dizia ter estoques do medicamento anticovid Paxlovid.

Depois de ser redirecionada para um site “oficial”, Qiu gastou 12.000 iuanes (US$ 1.740) em seis caixas de Paxlovid, do laboratório americano Pfizer, de acordo com o comprovante de pagamento visto pela AFP.

Os comprimidos nunca chegaram, e o suposto representante cortou todo contato, deixando-a “magoada, desesperada e com muita raiva”.

“É um comportamento nojento”, diz. “Cada segundo conta quando você está tentando salvar a vida de alguém”, desabafou.

– Preços elevados –


Em um comunicado enviado à AFP, a Ghitai declarou estar ciente da existência de uma versão falsa de seu site que afirma enviar tratamentos anticovid e que o tinha denunciado à polícia.

“Ghitai nunca ofereceu medicamentos (…) para a covid-19 e pede aos consumidores que sejam cautelosos para evitar fraudes e perdas financeiras”, afirmou.

As autoridades na China informaram que começaram a distribuir Paxlovid em alguns hospitais e clínicas comunitárias, mas o medicamento continua muito difícil de obter.

Várias clínicas em diferentes cidades, como Pequim e Xangai, disseram à AFP que não estavam oferecendo o tratamento e não sabiam quando poderiam fazê-lo.

Os poucos estoques nas plataformas digitais se esgotaram rapidamente, provocando a entrada de especuladores.

Um fornecedor contatado pela AFP esta semana disse que estava cobrando 18.000 iuanes (US$ 2.610) pela caixa, cerca de nove vezes o preço oficial.

O tratamento seria enviado da cidade de Shenzhen, no sul, mas os compradores “terão que esperar” pela entrega, segundo ele.

O vendedor não detalhou a origem da droga e parou de responder quando o jornalista da AFP se identificou como tal.

– “Desamparo e impotência” –


Na segunda-feira (2), o Ministério chinês de Segurança Pública ordenou uma ação contra “atividades ilegais e criminosas ligadas à produção e à venda de medicamentos falsificados relacionados com a epidemia”.

Apesar do risco, o mercado paralelo continua sendo o último recurso para pessoas como Xiao, cujo avô adoeceu em dezembro.

A gerente de negócios de 25 anos ficou “extremamente chocada”, quando um vendedor cobrou-lhe 18 mil iuanes pelo Paxlovid, uma quantia que ela não podia pagar. Dias depois, seu avô morreu, e ela mergulhou no “desamparo e na impotência”.

“Eu simplesmente não entendo como essas pessoas conseguem tanto remédio”, diz. “Gente como nós não consegue nem uma caixa. Como é que eles têm tantas?”, questiona-se.

Como os medicamentos licenciados estão praticamente indisponíveis, alguns apostam em alternativas genéricas importadas ilegalmente.

Variantes indianas do Paxlovid são mais baratas, mas ainda cobram um preço alto.

Em um bate-papo on-line esta semana, um repórter da AFP encontrou uma pessoa que afirma ser um farmacêutico indiano oferecendo medicamentos genéricos anticovid a 1.500 iuanes (US$ 217) por caixa.

Em seu catálogo, constava um variante do Paxlovid vendido sob o nome comercial Paxista e dois genéricos de um tratamento anticovid da gigante farmacêutica Merck, recentemente aprovado pelas autoridades chinesas.

No chat, muitos usuários questionaram a confiabilidade dos medicamentos genéricos.

“Eu simplesmente não sei em quem acreditar”, disse uma mulher.

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Fonte: Folha PE

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