- Giulia Granchi
- Da BBC News Brasil em São Paulo
A compositora Rita de Cássia, de 50 anos, morreu horas depois após ser internada na última terça-feira (3/1) em um hospital particular de Fortaleza, no Ceará, onde tratava um quadro de fibrose pulmonar idiopática (ou seja, sem causa conhecida).
Rita interpretou grandes sucessos do forró brasileiro e foi autora de mais de 500 composições. Após a notícia de sua morte, fãs, personalidades da música, como Xand Avião e Lucy Alves, além do governador do Ceará, Elmano Freitas (PT), prestaram homenagens nas redes sociais.
De acordo com a assessoria da artista, Rita será velada e sepultada em sua cidade natal, Alto Santo, no interior cearense. Ainda não foi confirmado se as cerimônias serão abertas ao público.
O que é a fibrose pulmonar e o que ela causa no corpo
A fibrose pulmonar não é uma doença específica, mas sim a consequência de algum dano sofrido pelos pulmões.
No caso de Rita de Cássia, não se sabe o que gerou esse quadro.
“No processo de tentar reparar os danos, que podem ter causas diversas, os pulmões produzem, como resposta, uma proliferação de colágeno [um tipo de proteína] em quantidade que não é natural para a estrutura do órgão”, explica João Marcos Salge, pneumologista do Fleury Medicina e Saúde.
Assim são criadas espécies de cicatrizes que deixam os pulmões mais duros.
“A elasticidade é prejudicada, e as células pulmonares perdem a capacidade de captação do oxigênio e de difundir os gases, passando o ar pelo sangue. Os danos são irreversíveis”, indica Mauro Gomes, chefe de pneumologia do Hospital Samaritano.
Como consequência, a pessoa acometida pela fibrose pulmonar pode sentir, dependendo da extensão do quadro, falta de ar, tosse seca e fadiga.
O que gera a fibrose pulmonar?
Doenças de naturezas bem diversas podem gerar fibrose.
“Entre elas, estão as doenças autoimunes [lúpus e esclerodermia, por exemplo], pelas quais o organismo produz anticorpos que agridem o epitélio [mucosa que reveste o trato respiratório], gerando essa resposta enviesada do pulmão”, diz Salge.
Doenças infecciosas que afetam os pulmões, incluindo a covid-19 em sua forma mais grave, também são possibilidades para o surgimento das cicatrazes.
Há também a possibilidade de o quadro ser causado por pneumonite por hipersensibilidade — ao mofo ou penas de aves, por exemplo — ou inalação de partículas tóxicas como o amianto.
“Alguns remédios para arritmia, quimioterápicos e outros também têm como consequência esse dano aos pulmões.”
Há, por fim, um grupo grande de pacientes, do qual a compositora Rita de Cássia fazia parte, que têm fibrose pulmonar de causa desconhecida, “idiopática”.
Evolução lenta e tratamento
A condição não tem cura e apresenta evolução lenta.
“O pulmão tem milhões de alvéolos que são comprometidos focalmente aos poucos.”
“Para os casos idiopáticos, mais recentemente foram desenvolvidas no mercado duas drogas, chamadas de antifibróticas, que podem ser usadas na redução da progressão da doença”, afirma Gomes.
“Sua função é aumentar a qualidade e o tempo de vida desses pacientes. Infelizmente não existe tratamento que faça a fibrose pulmonar regredir.”
Outra opção, quando a fibrose pulmonar já está em estágio extenso, é o transplante de pulmão.
“Quando examinamos um paciente com fibrose, investigamos para saber se podemos tratar a causa. Em casos de covid-19 por exemplo, o uso de corticoides foi muito útil para estancar os danos. Já se o prejuízo for causado por doenças autoimunes, o acometimento será progressivo, porque o corpo continua a produzir os anticorpos que ferem o pulmão”, explica o pneumologista do Fleury.
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