O Brasil amanheceu em luto nesta sexta-feira (30) pela perda do astro que deu reconhecimento internacional e um cunho próprio ao futebol: Edson Arantes do Nascimento, o Pelé, falecido na quinta em decorrência de um câncer de cólon.
O Rei faleceu aos 82 anos de idade no Hospital Albert Einstein, em São Paulo, cercado de seus familiares, que o acompanharam em seus últimos dias.
No Brasil, o presidente Jair Bolsonaro decretou luto oficial de três dias, período em que o considerado melhor jogador da história será velado e sepultado em Santos, cidade na qual se forjou como um fenômeno do futebol.
O caixão de Pelé será exibido em um velório público no estádio do Santos, onde jogou 18 de seus 21 anos como profissional, e terá duração de aproximadamente 24 horas. Já o funeral será reservado apenas aos familiares de Edson. As cerimônias acontecerão entre a próxima segunda e terça-feiras.
O sepultamento será feito de forma privada, embora antes disso haja uma procissão pelas ruas de Santos que passará pela casa da sua mãe, Dona Celeste, de 100 anos.
No estádio Vila Belmiro, Caroline Fornari, uma dona de casa visitando a cidade com sua família prestava suas homenagens a quem considera como o “orgulho” e a “maior bandeira” dos brasileiros.
“Desde pequena ouço o meu pai, que tem a mesma idade, falar muito dele. É muito triste”, disse a mulher de 46 anos que vive no interior do estado de São Paulo.
Na cidade natal de Pelé, Três Corações, Marcelo Cazone mostrava, orgulhoso, uma foto autografada do ídolo quando visitou a cidade no final dos anos 1980.
“Matei aula, o acompanhei o dia todo (…), até que consegui algumas fotos com ele que guardo até agora”, disse à AFP o pintor de 48 anos.
Mas foi apenas em 2012, quando o ex-jogador do Santos visitou a cidade para inaugurar a Casa de Cultura, que Marcelo conseguiu a cobiçada assinatura.
“Eu pulei o muro e tudo. E ele me deu o autógrafo. Foi muito emocionante”, relembra.
Único jogador a conquistar a Copa do Mundo três vezes (1958, 1962, 1970), Pelé foi internado no mês passado para reavaliar seu tratamento contra um câncer de cólon diagnosticado em setembro de 2021.
Seu quadro de saúde piorou com o passar dos dias, coincidindo com a final do Mundial no Catar. Mesmo assim, o ex-jogador conseguiu acompanhar os jogos da Seleção até a eliminação nas quartas de final.
“Um grande legado”
As homenagens ao maior ídolo internacional brasileiro ocorreram tanto dentro quanto fora do país, ultrapassando o mundo do futebol.
Mensagens e homenagens inundaram as redes sociais dos principais nomes do esporte mundial, como Neymar, Lionel Messi, Cristiano Ronaldo, Kylian Mbappé, Franz Beckenbauer e Ronaldo “Fenômeno”, somando também líderes políticos como Joe Biden, o presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva, entre outros.
Em Zurique, na sede da Fifa na Suíça, as bandeiras foram hasteadas a meio mastro em memória ao “rei eterno”, segundo a conta oficial da entidade no Twitter.
A Nasa também não deixou de prestar seu respeito ao criador de três das cinco estrelas do escudo da Seleção e publicou no Instagram a imagem de uma galáxia da constelação “Sculptor” com as cores da bandeira brasileira.
O ato parece ter sido uma resposta ao homem que, em seu tempo, dizia que a única coisa que faltava, após bater vários recordes e balançar centenas de redes (ele fez 1.283 gols em 1.363 jogos), era ter ido à Lua.
“Deixou um grande legado, uma herança muito boa para o Brasil. Foi o rei do futebol brasileiro”, disse Ana Cristina Santos, em Brasília, à AFP.
“Se Pelé jogasse atualmente, ainda seria o melhor, pela forma como eles treinam, pelo condicionamento físico, a medicina”, disse Iracema Pereira Tavares, taxista no centro do Rio de Janeiro.
O Cristo Redentor, cujos braços se estendem sobre o Rio e o Maracanã, onde Pelé marcou seu milésimo gol, foi iluminado na noite de ontem em homenagem ao jogador que imortalizou a camisa 10.
Um povo brasileiro “muito triste”
“Pelé é imortal. O povo brasileiro está muito triste… Pelé é o maior esportista que o mundo teve”, disse o presidente do Santos, Andrés Rueda, à rádio espanhola Cadena Ser.
A cidade de Santos e o estado de São Paulo decretaram luto oficial de sete dias.
A morte do rei, idealizador e principal expoente do “futebol bonito” no Brasil, ocorre em um momento em que os brasileiros comemoram o fim do ano, muitos deles de férias.
Por este motivo, a partida do ex-jogador despertou menos furor popular do que a outros ídolos nacionais, como o saudoso piloto Ayrton Senna, e desperta dúvida se as homenagens serão massivas.
Os tributos ao ex-atacante poderiam se diferenciar dos atos multitudinários realizados há dois anos, no falecimento do argentino Diego Maradona, seu grande adversário no posto de melhor jogador de futebol de todos os tempos, ao qual agora também aspira Messi.
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Fonte: Folha PE