• Helen Briggs
  • Correspondente de meio ambiente da BBC News em Montreal

Crédito, BBC/H Briggs

Países do mundo inteiro chegaram a um acordo “histórico” nesta segunda-feira (19/12), em Montreal, no Canadá, para proteger um terço do planeta até 2030, com o objetivo de conservar a biodiversidade.

O acordo — fechado na COP15, conferência da Organização das Nações Unidas (ONU) sobre a biodiversidade realizada entre 7 e 19 de dezembro — também prevê metas para proteger ecossistemas vitais, como florestas tropicais, e os direitos dos povos indígenas.

A China, que presidiu a cúpula apesar de não ter sediado o evento devido à covid-19, bateu o martelo sobre o acordo, apesar de uma objeção de última hora da República Democrática do Congo.

Os principais pontos do acordo incluem:

– Manter, reforçar e restaurar os ecossistemas, incluindo deter a extinção de espécies e manter a diversidade genética;

– “Uso sustentável” da biodiversidade — essencialmente garantir que espécies e habitats possam fornecer os serviços que ofereceram à humanidade, como alimentos e água potável;

– Garantir que os benefícios dos recursos da natureza, como remédios provenientes de plantas, sejam compartilhados de forma justa e igualitária, e que os direitos dos povos indígenas sejam protegidos;

– Investir recursos na biodiversidade: garantir que o dinheiro e os esforços de conservação cheguem onde são necessários.

“É realmente um momento que vai marcar a história, como Paris fez pelo clima”, disse o ministro do Meio Ambiente e Mudanças Climáticas do Canadá, Steven Guilbeault, a jornalistas.

No acordo climático de Paris, estabelecido em 2015, as nações concordaram em manter o aumento da temperatura global abaixo de 2°C.

A conferência em Montreal era considerada como a “última chance” de colocar a natureza em uma trajetória de recuperação. Ao longo das negociações, houve divergências em relação à força dessa ambição e como financiar os planos.

Um grande ponto de impasse foi sobre como financiar os esforços de conservação nas partes do planeta que abrigam algumas das mais notáveis ​​biodiversidades do mundo.

Biodiversidade se refere a todos os seres vivos da Terra e à maneira como estão conectados em uma complexa rede vital que sustenta o planeta.

Crédito, Getty Images

Legenda da foto,

A biodiversidade inclui todos os seres vivos, sejam grandes ou pequenos

Um novo texto do acordo foi divulgado pela China no domingo.

Os organizadores convocaram uma sessão completa da cúpula para a manhã desta segunda-feira (19/12), que aconteceu após horas de atraso — mas eles aprovaram rapidamente o texto.

O presidente da COP15, o ministro do Meio Ambiente chinês, Huang Runqiu, declarou o documento aprovado, apesar das objeções da República Democrática do Congo, que disse não poder apoiar o acordo.

Georgina Chandler, consultora sênior de política internacional da Royal Society for the Protection of Birds, disse que as pessoas e a natureza ficariam melhor graças ao acordo fechado em Montreal.

“Agora está feito, governos, empresas e comunidades precisam descobrir como vão ajudar a tornar esses compromissos uma realidade.”

Sue Lieberman, da Wildlife Conservation Society, afirmou que o acordo era um compromisso e, embora tivesse vários elementos bons e arduamente conquistados, poderia ter ido além “para transformar verdadeiramente nosso relacionamento com a natureza e impedir a destruição de ecossistemas, habitats e espécies”.

O acordo foi aprovado após dias de intensas negociações. No sábado, os ministros fizeram discursos apaixonados sobre a necessidade de chegar a um acordo sobre metas claras para colocar a natureza em uma trajetória de recuperação até o final da década.

“A natureza é o nosso navio. Precisamos garantir que ele permaneça flutuando”, disse o comissário da União Europeia para o Meio Ambiente, Oceanos e Pesca, Virginijus Sinkevicius.

A ministra do Meio Ambiente da Colômbia, Susana Muhamed, foi aplaudida quando pediu ambição na proteção do planeta para o bem de todos.

“A natureza não tem limites”, ela declarou.

Os cientistas alertaram que, com a perda de florestas num ritmo sem precedentes e os oceanos sob pressão da poluição, os seres humanos estão empurrando a Terra para além dos limites seguros.

Isso inclui o aumento do risco de doenças, como as causadas pelos vírus SARs CoV-2, Ebola e HIV, que passam de animais selvagens para populações humanas.

Um ponto de impasse importante foi o financiamento. Nos ecos da COP27, a cúpula do clima realizada no Egito em novembro, alguns países vêm pedindo a criação de um novo fundo para ajudar a preservar a biodiversidade, mas a proposta foi rejeitada por outros.