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Produtos usados na ceia de Natal estão, em média, 20% mais caros no fim de 2022 do que estavam no fim do ano passado.

É o que aponta levantamento feito por André Braz, economista e pesquisador do FGV IBRE, a pedido da BBC News Brasil, com base nos dados do Índice de Preços ao Consumidor (IPC) da FGV.

A inflação média da cesta de Natal deste ano (taxa acumulada em 12 meses até novembro de 2022) é mais que o dobro da taxa verificada no Natal passado, que foi de 8,55% no acumulado em 12 meses até novembro de 2021.

No Natal de 2020, quando começou a pandemia de coronavírus, a taxa de inflação para essa seleção de produtos tinha sido maior, com um aumento médio de 32,3% em 12 meses até novembro daquele ano.

A cesta considerada neste cálculo inclui dezoito categorias de produtos usados em receitas natalinas: arroz, batata inglesa, cebola, frutas, farinha de trigo, pão de outros tipos (inclui o panetone), leite, frango inteiro (inclui frangos comuns e especiais, como Chester), ovos, carnes bovinas, lombo suíno, pernil suíno, bacalhau, azeite, óleo de soja, maionese, azeitona e vinho.

Braz destaca que, apesar de a taxa estar em dois dígitos e bem mais alta que no ano anterior, esse resultado está em linha com o que foi verificado no comportamento da inflação em 2022.

“O que tem chamado muita atenção na inflação nos últimos meses é exatamente o grupo alimentação. Tem havido aí uma alta recorrente dos itens que compõem esse recorte que nós fizemos para a ceia de Natal – ela é composta por itens que puxaram a inflação em 2022”, diz à BBC News Brasil.

Os preços que mais e menos subiram

As cinco maiores altas de preço – que subiram acima da média da cesta natalina – são de produtos que não são exclusivos do Natal: cebola (167,6%), frutas (38,8%), farinha de trigo (30%), batata inglesa (29,9%) e maionese (29,9%).

Só um produto teve redução na média de preços: o arroz, com -1,63% de variação, que Braz atribui a um aumento na oferta após boas condições de safra na produção nacional no período.

E os produtos que tiveram menores aumentos no preço foram: lombo suíno (0,13%), pernil suíno (0,64%), carnes bovinas (2,39%) e óleo de soja (2,82%).

Apesar dos fortes aumentos em alguns produtos, Braz destaca que os itens de maior valor da cesta – como itens de proteína animal – tiveram aumentos menores.

“A família desembolsa muito mais para comprar as proteínas – frango, lombo, pernil – e elas subiram um pouco. Agora, os itens que são os complementos, como legumes, subiram muito, mas eles têm um nível de preço mais baixo, ou seja, comprometem um pouco menos do que a família gasta com uma ceia de Natal”, diz o economista.

Isso ajuda, na avaliação dele, “a driblar um pouco esse aumento de preços”.

No Natal de 2021, o aumento em 12 meses do frango inteiro tinha sido mais de 24% e do lombo suíno, 4,36%.

Ceia de Natal compartilhada

A ceia de Natal compartilhada entre mais familiares ou amigos neste ano – com menos restrições de contato que nos anteriores devido à situação da pandemia de covid – pode ser uma boa notícia também para os bolsos dos brasileiros, segundo Braz.

“Esse será um Natal em que a família vai poder se reunir e isso faz com que as famílias possam dividir a ceia de Natal. Se cada família providenciar uma parte da ceia, não precisa comprar de tudo.”

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Panetone mais caro

  • 14,6%foi a alta de preços, desde o Natal de 2021, da categoria que inclui panetones

Fonte: IPC/FGV

E como fugir dos preços mais altos no mercado?

Braz diz que uma estratégia pode ser a busca por produtos de boa qualidade, mas com marcas “menos tradicionais”.

“Se você vai ao supermercado e pega dois carrinhos – um com marcas premium, que não saem da cabeça, e outro com produtos de boa qualidade, mas com marcas que têm um marketing mais fraco -, em geral, a cesta montada por marcas menos tradicionais fica entre 30% e 40% mais barata que a ceia de marcas nobres.”

O mesmo levantamento comparou a variação de preços de um grupo de dez produtos natalinos (aves natalinas, azeite, caixa de bombom, espumante, lombo, panetone, pernil, peru, sidra e tender) em relação ao Natal passado e verificou um aumento de 9,8% no valor final. O maior percentual (17%) ocorreu no Sudeste e a menor variação (3,1%) foi no Norte – região que tem, no entanto, o maior valor médio dessa cesta, em R$ 306,34.

O que esperar dos preços de alimentos em 2023

As recentes disparadas nos preços de alimentos ocorreram também devido a fatores externos, como problemas nas cadeias globais de suprimento e a guerra na Ucrânia (que fez o preço da energia disparar, com as sanções impostas à Rússia, além de problemas no fornecimento de cereais produzidos na Ucrânia).

No Brasil, Braz destaca que medidas como pagamento de benefícios e saques no FGTS melhoraram a cesta de consumo das famílias e aumentaram a demanda da família – o que, na avaliação dele, explica parte do aumento de preços no país.

“A outra parte tem a ver com o encarecimento dos insumos para produção de hortaliças e de grãos – para plantar arroz, batata, cebola, você precisa de adubos, fertilizantes, defensivos que ficaram muito mais caros, também acompanhando a dinâmica do preço do barril de petróleo. A mesma coisa aconteceu com o diesel, que é o combustível usado para escoamento da produção agrícola e também pelas máquinas no campo”, diz. “São pontos que ajudam a entender por que a alimentação esse ano pressionou tanto a inflação.”

Braz aponta que os preços dos alimentos devem desacelerar em 2023, mas de forma lenta. Internamente, o alto patamar das taxas de juros e o baixo crescimento esperado para o ano que vem afetam as perspectivas para o emprego e renda – o que, por sua vez, impacta o consumo das famílias.

“Havendo essas restrições à demanda, é provável que o fôlego para novos aumentos de preços dos alimentos no ano que vem fique menor, então é provável que eles comecem a subir menos já nos próximos meses”, diz ele. “Mas para esse Natal a situação está dada, é isso o que o consumidor vai encontrar. Os preços vão ficar, em média, mais altos que no ano passado.”