Quando o dramaturgo britânico Patrick Hamilton escreveu em 1938 a peça Gas Light (luz a gás, em tradução literal), mal sabia ele quantas vezes o título de sua obra seria empregado no século 21.
A Merriam-Webster, a editora de dicionários mais antiga dos Estados Unidos, acaba de escolher “gaslighting” como a palavra do ano.
As pesquisas pela palavra no site da Merriam-Webster aumentaram 1.740% em 2022, segundo a empresa.
Gaslighting é o ato ou prática de manipular psicologicamente alguém, em que informações são distorcidas ou falsificadas em benefício de quem manipula a outra pessoa.
“Nesta era de desinformação — de notícias falsas, teorias da conspiração, trolls do Twitter e deep fakes — gaslighting surgiu como uma palavra para o nosso tempo”, disse a Merriam-Webster em um comunicado na segunda-feira (28/11).
A palavra é também bastante usada no contexto de situações de abuso em relacionamentos.
Curiosamente, o interesse de pesquisa na palavra não foi impulsionado por nenhum evento específico, disse um editor da Merriam-Webster à agência de notícias Associated Press.
“Foi uma palavra pesquisada com frequência todos os dias do ano”, afirmou Peter Sokolowski.
A peça de Patrick Hamilton é ambientada na Londres da era vitoriana e gira em torno de um casal de classe média alta cujo relacionamento se baseia em mentiras e manipulações.
O personagem principal Jack Manningham tenta convencer a esposa Bella de que ela está ficando louca. O verbo em inglês gaslighting vem de uma das situações da peça.
O marido rebate a constatação de Bella de que a luz a gás da casa está ficando mais fraca — diz que é tudo fruto da imaginação dela.
A peça foi adaptada duas vezes para as telas: no Reino Unido em 1940, depois nos Estados Unidos em 1944. A versão americana, estrelada por Ingrid Bergman, ganhou dois Oscars e é preservada no Registro Nacional de Filmes dos Estados Unidos como uma produção “culturalmente, historicamente ou esteticamente significativa”.
A Merriam-Webster diz que o termo se refere principalmente à manipulação psicológica, mas seu uso moderno é impulsionado pelo “grande aumento de canais e tecnologias usadas para enganar” as pessoas, especialmente em contextos pessoais e políticos.
A empresa apontou outras palavras da língua inglesa que estavam entre as mais procuradas este ano. Veja abaixo:
- oligarch (oligarca);
- omicron (ômicron, variante do coronavírus);
- codify (sistematizar);
- LGBTQIA (sigla que denomina lésbicas, gays, bissexuais, transgêneros, queers, intersexo e assexuais);
- sentient (senciente: ser capaz de vivenciar algo e desenvolver sentimentos específicos);
- loamy (algo como solo argiloso, mas hoje em dia também uma gíria para pessoas atraentes);
- raid (ataque, invasão)
- queen consort (rainha consorte)
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