O ex-atacante Careca, o “melhor” companheiro que Diego Armando Maradona teve dentro de campo, diz que o argentino “deixa saudades” e que faz falta na Copa do Mundo do Catar, a primeira desde sua morte, em novembro de 2020.
“Era um personagem, mesmo não jogando, sempre com a presença dele no estádio, era importante, um gênio, um fenômeno. Deixa saudades“, disse o ex-jogador da Seleção Brasileira à AFP.
Em 1987, Careca e Maradona formaram ao lado de Bruno Giordano o forte trio ofensivo no Napoli conhecido como ‘MaGiCa’, uma junção de seus nomes.
Maradona, que para muitos é o melhor jogador da história, considerava o brasileiro como seu “melhor parceiro” em campo, segundo suas próprias palavras.
A parceria guiou os napolitanos ao título da Copa da Uefa (atual Liga Europa) em 1988/89 e do Campeonato Italiano de 1989/90.
“Fui para o Napoli porque eu queria jogar junto com o Diego, era um sonho jogar e vencer junto com ele. Penso que a minha sintonia com o Diego, e a sintonia de Diego comigo, foi pela minha velocidade e técnica, sincronizamos muito rápido”, afirma o ex-atleta de 62 anos.
Títulos e disfarces
Antônio de Oliveira Filho, seu nome de batismo, tinha tanta vontade de jogar com o argentino que recusou uma proposta de se transferir para o Real Madrid para poder se juntar ao craque.
Os jogadores se aproximaram em Paris em uma cerimônia da Fifa após a Copa do Mundo de 1986, no México, em que Maradona foi premiado como o melhor jogador, depois de levar a seleção argentina ao bicampeonato mundial.
Careca foi convidado por ter sido vice-artilheiro da competição, com cinco gols, na campanha brasileira que parou nas quartas de final com a eliminação para a França. Mas o prêmio da artilharia acabou indo para o inglês Gary Lineker, que marcou seis vezes.
Maradona aproximou-se do brasileiro e perguntou se queria acompanhá-lo a Nápoles, e ele, então no São Paulo, onde marcou 115 gols em 191 jogos, não hesitou.
“Diego era um monstro, um fenômeno”, recorda.
A decisão rendeu frutos e o vínculo entre eles ultrapassou as quatro linhas. Compartilhavam momentos em família e se disfarçavam com chapéus e bigodes falsos para despistar os ‘paparazzi’ em seus passeios pela Itália.
A tentativa, no entanto, nem sempre era bem-sucedida e acabava atraindo uma chuva de admiradores que os cercavam e pediam para tirar fotos e dar autógrafos.
“Amigos dentro do campo, amigos fora. Com a família estávamos sempre juntos”, completa.
Aposta em Neymar
Na Copa do Mundo de 1990, o Brasil foi eliminado pela Argentina nas oitavas de final (1 a 0). A proximidade entre Careca e Maradona era tão grande que, ao final do clássico sul-americano, Diego vestiu o uniforme verde e amarelo número ‘9’. De quem era?
“De Careca, que é meu amigo”, disse o próprio argentino em entrevista à Fifa em 2017.
A parceria dentro de campo teve fim em 24 de março de 1991, quando Maradona jogou sua última partida pelo Napoli, após ter recebido uma suspensão de cinco meses por consumo de cocaína.
O brasileiro, que também estava em campo naquele dia e viu o Napoli perder de 4 a 1 para a Sampdoria, evita falar sobre tais episódios da carreira do “hermano”.
Anos mais tarde, o ex-atacante, que marcou 29 gols em 60 jogos pela Seleção, quis retribuir a homenagem ao ’10’ propondo que seu neto recém-nascido, canhoto como Diego, se chamasse Diego Antonio, mas sua proposta foi derrotada por uma votação em família.
“Jamais vou esquecer tudo aquilo que vivemos juntos”, diz Careca, que continuou próximo do argentino mesmo após a aposentadoria de ambos.
Para o Mundial no Catar, o ex-atleta aposta em Neymar, que considera peça-chave no elenco rumo ao hexa.
“Eu vejo Neymar com talento, com arte, com fantasia espetacular. Pode ser o número ’10’, que faça uma grande Copa do Mundo no Catar, espero que esteja inspirado para que assim o Brasil tenha uma possibilidade maior de chegar à final. Neymar é fantástico com a bola nos pés“, opinou.
No entanto, Careca adverte que, para ser campeã, a equipe de Tite deve ter cuidado com a Argentina de outro ’10’ lendário, Lionel Messi, visto por muitos como melhor que Maradona.
“Messi é um fenômeno, mas Maradona era gênio. Nasceu com essa genialidade, não dá para fazer essa comparação”.
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Fonte: Folha PE