Ele é considerado o “grande vencedor” das eleições de meio de mandato, realizadas na terça-feira (08/11), nos Estados Unidos. Um Donald Trump 2.0, como alguns dizem, que poderia reconquistar a Casa Branca para os republicanos em 2024.
Embora, para isso, ele talvez precise vencer primeiro o próprio Trump.
Ron DeSantis, o governador da Flórida que ganhou repercussão nacional por sua forte oposição aos controles impostos durante a pandemia de covid-19, foi reeleito na terça-feira por uma ampla margem.
O político de 44 anos, que começou sua carreira em 2012 quando foi eleito para a Câmara dos Representantes, conseguiu consolidar o Estado sulista como o segundo reduto republicano mais populoso dos EUA.
Parece que suas fortes opiniões sobre temas controversos — como gênero, ensino de questões raciais nas escolas e aborto — ecoaram entre seus eleitores, já que ele teria aumentado sua base eleitoral em quase todos os grupos demográficos.
Há apenas quatro anos, DeSantis saiu vitorioso como governador por menos de meio ponto percentual.
Na terça-feira, ele derrotou o adversário democrata Charlie Christ com mais de 59% dos votos contra 40,2% — e conseguiu aumentar seus eleitores entre dois grupos que perdeu na última eleição: mulheres e latinos.
O político conseguiu a façanha de vencer no condado de Miami-Dade, o mais populoso da Flórida, no qual fazia 20 anos que um republicano não ganhava uma eleição.
DeSantis usou sua vitória esmagadora para se autodeclarar um defensor da liberdade e projetar sua imagem como um político de fortes convicções.
“A Flórida foi um refúgio de sanidade quando o mundo enlouqueceu. Fomos a cidadela da liberdade para o povo deste país e, na verdade, do mundo inteiro”, disse ele durante um discurso diante de correligionários enquanto celebrava a vitória na terça-feira.
“Enfrentamos ataques, recebemos golpes. Enfrentamos as tempestades, mas nos mantivemos firmes. Não recuamos. Tivemos a convicção de nos guiar e tivemos a coragem de liderar”, acrescentou.
Agora são muitos os analistas e colegas de partido que o identificam como um potencial candidato à presidência dos EUA. Com o resultado das urnas, essa ideia se reforça, tanto que o próprio ex-presidente Trump, que flerta com o retorno à arena política, decidiu fazer uma advertência.
“Acho que estaria cometendo um erro. Creio que a base de eleitores não gostaria disso”, declarou o ex-presidente em entrevista à Fox News no mesmo dia da eleição, antes da esperada vitória de DeSantis ser anunciada.
Em sua forma particular de se expressar, Trump — que prometeu que em 15 de novembro anunciará uma importante decisão em sua casa em Mar-A-Lago (também na Flórida) — disse que poderia divulgar informações prejudiciais sobre o governador da Flórida.
“Não sei se ele vai se apresentar como candidato. Acho que se ele concorrer, pode se machucar muito. Eu realmente acho que ele pode se machucar muito”, disse Trump à Fox.
“Não acho que seja bom para o partido.”
Trump, que fez um discurso no encerramento da votação, elogiou políticos republicanos da Flórida como Marco Rubio, mas não fez menção à vitória significativa de DeSantis.
Mas quais são as ideias de Ron DeSantis? Por que Trump decidiu atacá-lo? De onde vem esse político sobre o qual provavelmente estaremos falando nos próximos anos?
De Yale a governador
Aos 44 anos, DeSantis ainda é considerado um rosto relativamente novo na política dos EUA.
Ele foi eleito pela primeira vez para a Câmara dos Representantes em 2012. Apenas seis anos depois, em 2018, após uma breve candidatura para senador, se tornou governador.
Nascido em Jacksonville, na Flórida, em 1978, estudou história na Universidade de Yale, onde foi capitão do time de beisebol, e logo depois entrou na faculdade de direito de Harvard.
Durante seu segundo ano na faculdade de direito, ele foi designado para o braço jurídico da Marinha dos EUA, onde trabalhou com detentos na prisão de Guantánamo, e também foi consultor jurídico dos Navy Seals, o grupo de elite da Marinha americana, enviados ao Iraque.
Embora tenha sido dispensado com honras do serviço militar em 2010, ele continua servindo na reserva da Marinha americana.
Foi também nessa época que ele conheceu sua esposa, Casey, uma repórter de TV local que sobreviveu a um câncer e ajudou a arrecadar fundos após a passagem do furacão Ian em 2022.
Em 2018, depois de cinco anos no Capitólio, onde ajudou a fundar o grupo de conservadores de extrema direita “Freedom Caucus”, DeSantis anunciou sua intenção de concorrer a governador com o apoio total do então presidente Donald Trump.
Ele tomou posse como governador em janeiro de 2019.
DeSantis e a pandemia
O primeiro grande desafio de DeSantis como governador veio em 2020, em meio à pandemia de covid-19. Em abril, ele ordenou o fechamento de todo o Estado, estabeleceu centenas de centros de testes e encomendou milhões de máscaras, declarando publicamente que “poderiam evitar infecções para os mais vulneráveis”.
No entanto, em abril de 2021, DeSantis começou a suspender as restrições do Estado e, em julho, apesar do aumento vertiginoso de casos da doença e das críticas ferozes, ele ordenou a reabertura das escolas.
“A pandemia de covid foi realmente quando ele fez seu nome, sendo alguém que desafiou o conhecimento nacional na época”, disse Sarah Longwell, estrategista republicana, à BBC.
As coisas que ele fez desde então fizeram dele uma das figuras republicanas mais reconhecidas do país. Em março de 2022, por exemplo, ele sancionou uma lei que os ativistas chamaram de Don’t Say Gay (“Não diga gay”, em tradução literal), que proíbe discussões sobre orientação sexual ou identidade de gênero nas escolas primárias.
Depois que a Suprema Corte dos Estados Unidos derrubou o direito constitucional ao aborto, DeSantis declarou que “as orações de milhões” haviam sido atendidas.
Desde então, ele tem falado menos sobre o assunto. Alguns especulam que é um cálculo político destinado a equilibrar a pressão de elementos conservadores no Partido Republicano com as opiniões dos eleitores da Flórida, a maioria dos quais é a favor do direito ao aborto.
Recentemente, seus críticos o acusaram de usar os imigrantes como manobra política, quando conseguiu transferir um grupo de solicitantes de asilo, em sua maioria venezuelanos, do Texas para Martha’s Vineyard, uma ilha próspera que é reduto liberal, em Massachusetts,
“Isso [o caso dos imigrantes] foi novamente ele próprio se inserindo de forma muito proativa em uma guerra cultural”, avaliou o ex-porta-voz do Comitê Nacional Republicano Doug Heye.
“Ele está disposto a desempenhar o papel de líder guerreiro cultural”, acrescentou.
Longwell afirma, por sua vez, que os embates de DeSantis com a imprensa sobre suas políticas mais controversas podem ser o que o está levando ao estrelato político.
“A imprensa o acha terrível, e ele adora isso. É outra coisa que ele aprendeu com Trump. Se você enfurece a mídia, eles falam muito sobre você, e isso ajuda a divulgar seu nome, e beneficia você junto a fãs e partidários.”
Por que o consideram herdeiro de Trump?
Até agora, DeSantis não demonstrou intenção de concorrer à presidência em 2024 e disse que está focado apenas em administrar a Flórida.
Ainda assim, algumas pesquisas mostram que DeSantis está agora à frente de Trump, pelo menos na Flórida, em um possível confronto em 2024, e em uma disputa acirrada com ele a nível nacional.
Pouco antes da eleição de terça-feira, a rivalidade entre os dois veio à tona quando Trump esnobou DeSantis ao não convidá-lo para um comício na Flórida para o senador Marco Rubio.
Em outro evento na Pensilvânia, Trump se referiu a ele como “Ron De-Sanctimonious” (um trocadilho com o sobrenome De Santis com a palavra “sanctimonious”, que significa “hipócrita”), o que gerou críticas do partido.
Um dia depois, no entanto, Trump reconheceu que DeSantis provavelmente venceria, mesmo que não o apoiasse explicitamente.
A estrategista republicana Sarah Longwell, que conduz entrevistas de grupo focal com eleitores de Trump, disse que DeSantis é “de longe o primeiro nome que aparece” quando os participantes são perguntados sobre quem gostariam de ter como candidato republicano, se Trump não disputar a Casa Branca.
Embora ela acredite que ele esteja “se posicionando” para ser um oponente de Trump, “não está claro” que ele possa ganhar a indicação dentro do partido.
“Não tenho certeza se DeSantis tem a capacidade de enfrentar Trump cara a cara”, afirma Sarah Longwell.
“Há muitas pessoas falando sobre ele como o futuro do Partido Republicano. Mas é muito cedo para prever isso, nunca o vimos operar em um cenário nacional.”
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