- Ronald Ávila-Claudio – @ronaldavilapr
- BBC News Mundo
A única coisa 100% previsível em relação aos furacões são suas constantes mudanças.
Esses fenômenos atmosféricos — formados com a energia das águas quentes e dos ventos, e comuns em regiões como o Oceano Atlântico — representam um desafio para os cidadãos e para os meteorologistas devido à sua instabilidade.
É necessário acompanhar sua trajetória minuto a minuto por meio de radares e satélites para antecipar seu comportamento e, assim, se preparar para qualquer eventualidade que represente um risco à vida e ao patrimônio.
E uma das mudanças que mais surpreende meteorologistas e especialistas em clima, porque o motivo ainda não está totalmente claro, é a chamada substituição da parede do olho do furacão.
Este evento, que geralmente ocorre em grandes furacões de categoria 3, 4 e 5, pode mudar o efeito de um ciclone quando atinge terra firme.
Na terça-feira (27/09), o furacão Ian, um poderoso ciclone de categoria 4 com ventos sustentados de mais de 240 km/h, passou pelo processo de substituição da parede do olho.
Ele fez isso logo após atingir a província de Pinar del Río, em Cuba, e antes de chegar ao Estado da Flórida, nos EUA, onde está causando grandes danos devido aos fortes ventos e uma enorme tempestade.
A parede do olho
A primeira coisa que você precisa saber é que, de acordo com o Centro Nacional de Furacões (NHC, na sigla em inglês) dos EUA, estes fenômenos atmosféricos têm uma estrutura que é dividida em três partes: o olho, a parede do olho e as faixas de chuva.
Nas faixas de chuva, há nuvens e fortes trovoadas que se movem em espiral, produzindo ventos e, às vezes, tornados. Já o olho é uma área de relativa calma, um centro em torno do qual giram as faixas de precipitação.
E a parede é justamente a área mais próxima do olho.
“A parede do olho consiste em um anel de altas tempestades elétricas que produzem fortes chuvas e, geralmente, os ventos mais fortes”, diz o NHC sobre essa zona dos furacões.
As mudanças na estrutura do olho ou de sua parede podem tornar os ventos de um ciclone mais fortes ou mais fracos.
“O olho pode crescer ou diminuir de tamanho, e paredes duplas podem se formar”, acrescenta o NHC.
A substituição da parede e seus efeitos
A substituição da parede do olho costuma ocorrer em furacões de maior intensidade, explicou à BBC News Mundo, serviço de notícias em espanhol da BBC, o meteorologista Ernesto Rodríguez, que trabalha no Serviço Nacional de Meteorologia dos Estados Unidos.
Estes ciclones, que vão da categoria 3 a 5 na escala Saffir-Simpson, têm ventos sustentados de mais de 178 km/h.
“O que acontece é que uma parede maior de tempestades elétricas começa a rodear e sufocar o núcleo interno que havia se formado originalmente. O novo anel de tempestades rodeia a parede do olho mais antiga, e esta acaba desaparecendo”, explica o especialista.
Quando passam por esse processo, que geralmente acontece enquanto o furacão está em vias de se fortalecer, as tempestades deixam de ganhar força.
“É que passam por ciclos em que o olho vai mudando de diâmetro. A substituição do olho os mantém [os furacões] estáveis, e depois eles se intensificam novamente”, acrescenta Rodríguez.
O especialista deu como exemplo o furacão Maria, que atingiu Porto Rico em 2017. A tempestade era de categoria 5, com ventos sustentados de 257 km/h, mas durante a substituição da parede do olho, pouco antes de atingir o território, sua força foi reduzida para categoria 4, com ventos de 249 km/h.
Mas quando a substituição da parede do olho termina, essa parte do furacão, que é a mais poderosa e perigosa, acaba com um diâmetro maior.
“Ao expandir o diâmetro do olho, haverá mais áreas que serão impactadas pelos ventos mais fortes”, diz Rodríguez.
Isso significa que as áreas mais destrutivas vão atingir mais terras.
O processo de substituição da parede do olho pode ocorrer mais de uma vez.
No caso do furacão Ian, seu olho original tinha 20 milhas náuticas de diâmetro — e após a substituição da parede do olho, ficou 75% maior, com 35 milhas náuticas.
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