A cidade fortaleza medieval de Granadilla é uma cidade fantasma. Os visitantes podem perscrutar os quartos vazios, caminhar pelas ruas muradas e ver a cidade do alto do castelo. Mas ninguém mora lá — desde que todos os moradores foram expulsos na década de 1960.
Fundada por muçulmanos no século 9, Granadilla, localizada na província de Cáceres, no oeste de Espanha e na fronteira com Portugal, ocupava uma localização estratégica e permitia aos seus ocupantes vigiar a Ruta de la Plata, uma antiga rota de comércio e viagens que atravessava, desde norte a sul, parte do que são hoje as regiões da Andaluzia, Extremadura, Castilla y León e Astúrias.
Ao longo dos anos, o domínio da cidade mudou de mãos, e hoje é uma das poucas cidades-fortaleza espanholas onde as antigas muralhas ainda estão intactas. Mas a comunidade que lá viveu até bem depois da metade do século 20 não existe mais.
O ocaso de Granadilla começou na década de 1950, durante a ditadura do general Francisco Franco (1936-1975), quando a Espanha embarcou em um grande projeto de construção de barragens como forma de impulsionar a economia durante o período de isolamento.
Um desses esforços foi o reservatório Gabriel y Galán, no rio Alagón. Em 1955, as autoridades decretaram que Granadilla estava na planície que ia ser inundada pela obra; e, portanto, teve de ser evacuada.
Mudança forçada
Ao longo de 10 anos, de 1959 a 1969, os mil moradores foram despejados à força, muitos deles realocados para assentamentos de colonização próximos à cidade.
Quando a água começou a subir em 1963, cobriu todas as vias de acesso à cidade, exceto uma, transformando-a em uma península. Mas isso é até aonde a água chegou: a cidade em si nunca foi inundada. No entanto, os moradores não foram autorizados a retornar.
A experiência foi traumática para eles, muitos dos quais ainda se sentem frustrados. “Foi uma piada”, diz Eugenio Jiménez, presidente da Associação Filhos de Granadilla.
“Eles nos expulsaram alegando que a barragem ia inundar a cidade, o que era impossível, porque a cidade é mais alta que a barragem. Mas era época de ditadura e não tínhamos direitos. Mas o que realmente me frustra é que em tempos democráticos, tenho lutado pela recuperação de Granadilla com a antiga associação infantil e nenhum governo nos ouviu”, lamentou.
Purificación Jiménez, ex-residente, também relembrou a dificuldade daqueles anos. “Lembro que toda vez que uma família saía da cidade, todos saíam para se despedir e chorar”, disse ele.
Ainda hoje, os antigos moradores da cidade não podem recuperar suas casas, porque o governo mantém o decreto de inundação assinado por Franco. No entanto, o local pode ser visitado.
A cidade foi designada Sítio Histórico-Artístico em 1980 e agora funciona como um museu gratuito ao ar livre (supervisionado pelo Organismo Autônomo de Parques Nacionais).
Quanto aos habitantes, eles e seus descendentes se reúnem duas vezes por ano em Granadilla, no Dia de Todos os Santos (1º de novembro) e no dia da Assunção de Maria (15 de agosto).
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