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O prêmio foi apresentado por Roger Moore e Liv Ullman e acabou rejeitado

A organização responsável pela premiação do Oscar pediu desculpas a Sacheen Littlefeather, uma mulher nativa americana vaiada no palco há quase 50 anos.

A atriz e ativista apareceu na TV ao vivo em 1973 para recusar um Oscar que Marlon Brando (1924-2004) acabara de ganhar por sua atuação no filme O Poderoso Chefão.

Brando rejeitou o prêmio de melhor ator como uma forma de protesto contra a deturpação dos povos nativos americanos pela indústria cinematográfica dos Estados Unidos. Na hora de receber a estatueta, ele enviou Littlefeather para representá-lo.

A Academia de Artes e Ciências Cinematográficas disse que Littlefeather sofreu abusos “injustificados” após fazer um breve discurso.

“Nunca pensei que viveria para ver o dia em que ouviria isso [o pedido de desculpas]”, disse ela ao Hollywood Reporter.

Littlefeather, à época com 26 anos, foi hostilizada e ignorada pela indústria do entretenimento após o discurso na premiação de 1973.

A fala da indígena foi, de acordo com os organizadores, a primeira declaração política na cerimônia televisionada — e deu início a uma tendência que segue viva até hoje.

Apresentando-se em nome de Brando — que escreveu “um discurso muito longo”, lembra Littlefeather — ela disse brevemente ao público “que ele lamentavelmente não podia aceitar este prêmio tão generoso”.

“E as razões para isso são o tratamento que os indígenas americanos recebem hoje da indústria cinematográfica e da televisão em reprises de filmes, e também com os recentes acontecimentos em Wounded Knee”, discursou.

Wounded Knee faz em referência a um violento conflito com agentes federais em um local de importância significativa para o povo Sioux, na Dakota do Sul.

A fala foi recebida com vaias — e alguns aplausos — da platéia.

Em 2020, Littlefeather disse à BBC que, logo após o discurso, ela teve que deixar o palco com dois seguranças.

Mas ela acrescentou que a presença dos agentes “foi uma coisa muito boa” já que o ator John Wayne (1907-1979) estava nos bastidores, protegido por seis seguranças, e parecia “furioso com Marlon e comigo” — e queria ele mesmo tirá-la do palco.

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Littlefeather — retratada aqui numa foto de 2010 — confessa que nunca pensou que veria um pedido de desculpas

Algumas pessoas ainda fizeram o “Tomahawk chop” — um gesto com as mãos que é considerado humilhante para os nativos americanos — enquanto ela passava.

Brando havia escrito um discurso muito mais longo, mas Littlefeather foi instruída pela equipe da cerimônia de premiação para falar apenas por 60 segundos.

O acontecimento foi televisionado para 85 milhões de pessoas. Alguns relatos da mídia após o evento alegaram que Littlefeather não era verdadeiramente uma nativa americana, mas que ela havia concordado em fazer o discurso para alavancar a carreira de atriz. Alguns especularam que ela seria amante de Brando.

Ela afirmou à BBC que todas essas alegações eram falsas.

“O abuso que você sofreu foi injustificado”, escreveu David Rubin, ex-presidente da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas, em uma carta a Littlefeather divulgada na segunda-feira (15/8).

Rubin disse que o discurso na 45ª edição do Oscar “continua a nos lembrar da necessidade do respeito e da importância da dignidade humana”.

O Museu de Cinema da Academia sediará um evento em setembro, no qual Littlefeather falará sobre sua aparição no Oscar de 1973 e o futuro da representação indígena nas telas.

Em resposta ao pedido de desculpas, Littlefeather declarou: “Nós, indígenas, somos pessoas muito pacientes — foram apenas 50 anos [de espera]!”

Ela acrescentou que manter o senso de humor é “nosso método de sobrevivência”.

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