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Tio de vítima de feminicídio em Campo Grande diz que suspeito do crime usava tornozeleira eletrônica

Comoção e pedidos por justiça marcam o velório de Renata Alves Costa, morta em um apartamento no bairro de Campo Grande, na Zona Norte do Recife. A cerimônia de despedida ocorre na manhã desta terça-feira (9) no Cemitério Morada da Paz, em Paulista, na Região Metropolitana. O sepultamento está marcado para as 13h no mesmo local.

Mãe, pai e irmãos de Renata, emocionalmente abalados, chegaram ao local, mas preferiram não conversar com a imprensa. Tio materno da vítima, o representante comercial José Augusto Alves Filho falou em nome da família.

De acordo com o tio, a família não sabia do relacionamento de Renata com o então namorado, que é paraibano e psicólogo. Ele é o principal suspeito de ser o autor do crime. O casal estaria junto há aproximadamente seis meses, e a vítima apenas mencionava se tratar de um “ficante”, que não duraria muito tempo. 

O tio também informou que o casal se conheceu em um aplicativo de namoro e que o suspeito tem histórico de agressão, fazendo uso, inclusive, de tornozeleira eletrônica, após se envolver em um outro episódio. 


 

“Ficamos sabendo do relato de uma das amigas que ela sofria abuso e que eles brigavam muito. Existe a suspeita de que chegava-se a agressões. […] Se botar o nome dele na internet, você ver que ele tem outros históricos de agressão, tem histórico de dar tiro em pessoas. Ele usava tornozeleira eletrônica e cortou essa tornozeleira no mesmo dia”, relatou. 

Formada em geografia e atuando como administradora, Renata tinha 35 anos e dupla nacionalidade. O pai é português e Renata cursou pós-graduação no país europeu.

José Augusto Alves Filho também comentou o caráter amoroso e solidário de Renata. Ela cuidou do tio quando ele ficou internado em um hospital público. 


 

José Augusto Alves, tio de Renata Alves Costa, assassinada dentro de apartamento na Zona Norte do Recife

A família também pediu que, ao invés de flores ao velório, fossem doados alimentos e cestas básicas. As doações podem ser feitas nas unidades da Hub Plural. 

Segundo o tio, o pedido atende a vontade da própria Renata que, ao participar de velórios, costumava comentar que era melhor ajudar as pessoas com doação de alimentos ao invés de deixar flores no velório. 

De acordo com as investigações, o suspeito, que não teve o nome divulgado pela polícia, deixou o apartamento da vítima por volta das 20h20 do sábado (6). “Ele saiu do WhatsApp, e o número aparece como inexistente. Se ele é inocente, que ele apareça e prove”, disse José Augusto.

O tio também informou que a casa não apresentava sinais de briga. “A polícia arrombou a porta e ela estava assassinada com um tiro na testa, do lado da cama. […] É como se ele tive encostado ela no canto, atirado, e ela tivesse caído lá mesmo”, disse.

Ele também contou que o cachorro da vítima permaneceu ao lado do corpo de Renata até ela ser encontrada sem vida, no último domingo (7).


 

“O cachorro que ela resgatou ficou como um herói na sala, velando e protegendo. Teve que o Corpo de Bombeiros acalmar o animal porque ele não deixava ninguém se aproximar”, informou o tio da vítima.

A Polícia Civil de Pernambuco (PCPE) informou que o caso está sendo investigado pela 2ª Delegacia de Polícia de Homicídios, coordenado pelo delegado Roberto Lobo. “Mais informações não podem ser repassadas no momento para não comprometer as diligências em curso”, informou a PCPE.

A nutricionista Marcela Medeiros, amiga da vítima, fez um apelo, muito emocionada, para que as mulheres não silenciem ao serem vítimas de violência. 


 

“Eu nunca imaginei que isso estaria acontecendo tão perto de mim. Renata era uma pessoa muito doce, muito, muito legal, um coração enorme. Eu queria fazer um apelo para todas as mulheres que estejam em algum relacionamento assim, que vocês falem umas com as outras porque a gente esconde e acabam nos matando. A gente tenta encobrir, a gente tenta proteger quem na verdade quer nos matar. Então, falem, peçam ajuda, falem com suas amigas, com a sua mãe, com a sua terapia. Não sei, mas falem e salvem suas vidas, porque eles não querem salvar nossas vidas”, disse. 

Sócio-diretor da empresa em que Renata trabalhava como gerente-geral, Alfredo Júnior comentou que ela permanecia com excelente aproveitamento profissional, mas que havia diminuído a frequência nos momentos de lazer entre a equipe. “Ela não estava mais nas confraternizações, mas, no dia a dia do trabalho, era o mesmo astral de sempre, não dava para notar uma diferença nesses termos, ela era uma referência para a equipe. Inspirava uma geração de mulheres que estavam galgando posições profissionais. É uma perda muito grande”, disse.


 

“E é importante que fique claro para todo mundo que ela não se foi, ela foi tirada da gente. Ela foi assassinada, foi um feminicídio, foi algo cruel, realmente. E, para uma pessoa como ela, que era uma mulher independente (…) e, se ela caiu numa armadilha dessa, se ela foi vítima de um negócio como esse, é porque eu acho que a gente está subestimando o tamanho do perigo que é isso, sabe? O tamanho da monstruosidade que esses psicopatas são capazes de fazer, de ela sofrer um sequestro emocional antes de ser morta, de ser assassinada”, completou.

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