A presidente da Câmara dos Deputados dos EUA, Nancy Pelosi, visitou Taiwan, contrariando alertas e ameaças da China — e preocupações da Casa Branca. A deputada americana tem um longo histórico de críticas ao governo chinês.
O enfrontamento mais famoso foi em 1991. Pelosi visitou a Praça Tiananmen dois anos após protestos em larga escala em Pequim serem esmagados pelo governo chinês, e exibiu uma faixa em homenagem aos manifestantes falecidos.
Por sua vez, o governo chinês não esconde seu desdém por Pelosi, e chegou a rotulá-la como uma pessoa “cheia de mentiras e desinformação”.
A China vê Taiwan como uma Província separatista e não descarta o uso de força militar para reunificar a ilha. Pequim exerce pressão significativa para dissuadir outros países de reconhecer a independência de Taiwan.
A China havia alertado sobre consequências graves antes da visita de Pelosi a Taiwan.
Ela é a segunda na linha de sucessão da Presidência dos EUA, depois da vice-presidente, Kamala Harris. É também a política americana mais importante a viajar para a ilha desde Newt Gingrich, antigo presidente da Câmara, que o fez em 1997.
A viagem não teve apoio pelo presidente dos EUA, Joe Biden. Com as tensões EUA-China, funcionários da Casa Branca tentaram dissuadi-la. Biden disse recentemente a repórteres que “os militares [americanos] acham que não é uma boa ideia”.
Visita à Praça da Paz Celestial em 1991
Dois anos depois que manifestantes foram duramente reprimidos pelas forças do Partido Comunista na Praça Tiananmen (Praça da Paz Celestial), em Pequim, Pelosi — então deputada na Califórnia — visitou a capital chinesa.
Driblando sua própria escolta oficial, Pelosi e outros dois parlamentares americanos foram para a praça da cidade sem a permissão de seus anfitriões chineses.
Lá, eles exibiram uma pequena faixa pintada à mão que dizia: “Para aqueles que morreram pela democracia na China”.
A polícia reprimiu rapidamente a manifestação, agredindo os repórteres que cobriam o evento e expulsando os parlamentares da praça.
O Ministério das Relações Exteriores da China denunciou o incidente como uma “farsa premeditada”.
Alguns criticaram as ações de Pelosi durante essa visita. O ex-chefe da sucursal da CNN em Pequim, Mike Chinoy, escreveu em um editorial para a revista Foreign Policy que foi preso no local por causa de Pelosi. Chinoy disse que não sabia o que a deputada planejava fazer na praça e foi detido por várias horas.
“Foi minha primeira experiência com a propensão de Pelosi para gestos de alto nível projetados para provocar os governantes comunistas da China — independentemente das consequências”, escreveu ele.
Ao longo dos anos, Pelosi — que também apoiou uma resolução condenando as ações da China em 1989 — sempre falou sobre o “massacre” de manifestantes.
Mais recentemente, ela emitiu uma nota para marcar o 33º aniversário dos protestos deste ano, chamando as manifestações de “um dos maiores atos de coragem política” e criticando o “regime opressor” do Partido Comunista.
Cartas para Hu
Em uma reunião com o então vice-presidente chinês, Hu Jintao, em 2002, Pelosi tentou lhe dar quatro cartas expressando preocupação com a detenção e prisão de ativistas na China e no Tibete, e pedindo sua libertação. Mas Hu recusou-se a aceitar as cartas.
Sete anos depois, Pelosi teria entregue em mãos outra carta a ele — que já virara presidente da China — pedindo a libertação de prisioneiros políticos, incluindo o proeminente dissidente Liu Xiaobo.
Liu foi ganhador do Prêmio Nobel da Paz de 2010, mas não foi autorizado a viajar para a Noruega para receber o prêmio. Ele morreu de câncer em 2017 enquanto ainda estava sob custódia chinesa.
Manobras olímpicas
Pelosi se opunha às candidaturas da China para sediar Jogos Olímpicos desde 1993 com base em supostos abusos de direitos humanos.
Ela foi uma das parlamentares que, sem sucesso, pediu ao então presidente dos EUA, George W. Bush, para boicotar a cerimônia de abertura dos Jogos Olímpicos de 2008 em Pequim.
Este ano, a presidente da Câmara voltou a liderar pedidos de um “boicote diplomático” aos Jogos Olímpicos de Inverno de 2022 em Pequim devido ao tratamento dos muçulmanos uigures na China.
“Para chefes de Estado irem à China diante de um genocídio que está em andamento — enquanto você está aí sentado em seu assento — realmente levanta a questão, sobre que autoridade moral você tem para falar novamente sobre direitos humanos em qualquer lugar do mundo” ela disse.
Em resposta, um porta-voz da embaixada chinesa em Washington disse que os políticos dos EUA não estão em posição de fazer “críticas infundadas e injustificadas” contra a China.
Ao longo dos anos, Pelosi também pressionou para que o status comercial da China fosse vinculado ao seu histórico de direitos humanos e para exigir contrapartidas à entrada da China na Organização Mundial do Comércio (OMC).
A política tem sido controversa: Bush vetou a legislação relacionada a isso várias vezes, enquanto o ex-presidente Bill Clinton inicialmente a apoiou, mas depois a abandonou, dizendo que interesses estratégicos americanos mais amplos justificavam a reversão.
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