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Zawahiri era o porta-voz e ideólogo mais proeminente da Al-Qaeda nos últimos anos

Ayman al-Zawahiri, que foi morto por um ataque de drone dos EUA no Afeganistão, era conhecido como o principal ideólogo da Al-Qaeda.

Um cirurgião oftalmologista que ajudou a fundar o grupo militante Jihad Islâmica Egípcia, ele assumiu a liderança da Al-Qaeda após o assassinato de Osama Bin Laden pelas forças americanas em maio de 2011.

Zawahiri era considerado o braço direito de Bin Laden. Alguns especialistas acreditam que ele foi o “cérebro operacional” por trás dos ataques de 11 de setembro de 2001 nos Estados Unidos.

Zawahiri era o número dois — atrás apenas de Bin Laden — na lista dos 22 “terroristas mais procurados” pelo governo dos EUA em 2001 e tinha uma recompensa de US$ 25 milhões (mais de R$ 100 milhões) por sua cabeça.

Nos anos após os ataques, Zawahiri tornou-se o porta-voz mais proeminente da Al-Qaeda, aparecendo em 16 vídeos e áudios em 2007 — quatro vezes mais que Bin Laden — enquanto o grupo recrutava muçulmanos em todo o mundo.

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Bin Laden e Zawahiri formaram a Frente Islâmica Mundial para a Jihad contra judeus em 1998

Sua morte em um ataque americano em Cabul no final de semana não foi a primeira vez que os americanos tentaram assassinar Zawahiri.

Em janeiro de 2006, ele havia sido alvo de um ataque de mísseis dos EUA perto da fronteira do Paquistão com o Afeganistão.

O ataque matou quatro membros da Al-Qaeda, mas Zawahiri sobreviveu e surgiu em um vídeo duas semanas depois, alertando o então presidente dos EUA, George W. Bush, de que nem ele, nem “todos os poderes da Terra” poderiam matá-lo.

Família nobre

Nascido na capital do Egito, Cairo, em 19 de junho de 1951, Zawahiri vinha de uma respeitável família de médicos e acadêmicos de classe média.

Seu avô, Rabia al-Zawahiri, foi o grande imã de al-Azhar, o centro de aprendizado islâmico sunita no Oriente Médio. Um de seus tios foi o primeiro secretário-geral da Liga Árabe.

Zawahiri envolveu-se com islamismo político ainda na escola e foi preso aos 15 anos por ser integrante da Irmandade Muçulmana — a maior e mais antiga organização islâmica do Egito.

Mas suas atividades políticas não o impediram de estudar medicina na Universidade do Cairo, onde se formou em 1974 e recebeu mestrado em cirurgia quatro anos depois.

Seu pai Mohammed, que morreu em 1995, era professor de farmacologia na mesma faculdade.

Juventude radical

Zawahiri seguiu a tradição familiar, abrindo uma clínica em um subúrbio do Cairo. Mas logo se aproximou de grupos islâmicos radicais que pediam a derrubada do governo egípcio.

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Nos últimos anos, Zawahiri tornou-se uma personalidade obscura

Em 1973, ele juntou-se à recém-formada Jihad Islâmica Egípcia.

Em 1981, ele foi preso com centenas de outras pessoas depois que vários integrantes do grupo, sendo oficiais e soldados do Exército egípcio, assassinaram o presidente Anwar Sadat em um desfile militar no Cairo. Sadat havia despertado a fúria de ativistas islâmicos ao assinar um acordo de paz com Israel e ao prender centenas de críticos.

Durante o julgamento dos diversos suspeitos, Zawahiri surgiu como líder dos réus. Ele foi filmado dizendo ao tribunal: “somos muçulmanos que acreditam em nossa religião. Estamos tentando estabelecer um estado islâmico e uma sociedade islâmica”.

Embora tenha sido inocentado de envolvimento no assassinato de Sadat, Zawahiri foi condenado por posse ilegal de armas e cumpriu uma pena de prisão de três anos.

De acordo com outros prisioneiros islâmicos, Zawahiri foi torturado e espancado pelas autoridades durante seu tempo na prisão no Egito, uma experiência que o transformou em um extremista fanático e violento.

Depois de ser solto, em 1985, Zawahiri partiu para a Arábia Saudita.

Logo depois, ele foi para Peshawar, no Paquistão, e em seguida para o Afeganistão, onde estabeleceu uma facção da Jihad Islâmica Egípcia enquanto trabalhava como médico no país durante a ocupação soviética.

Zawahiri assumiu a liderança da Jihad Islâmica Egípcia depois que ela ressurgiu em 1993, e foi uma figura-chave por trás de uma série de ataques do grupo a ministros do governo do Egito, incluindo o primeiro-ministro Atif Sidqi.

A campanha do grupo para derrubar o governo e estabelecer um estado islâmico no Egito na década de 1990 causou a morte de mais de 1,2 mil pessoas.

Em 1997, o departamento de Estado dos EUA disse que ele era líder do grupo Vanguardas da Conquista — uma facção da Jihad Islâmica que estaria por trás do massacre de turistas estrangeiros em Luxor no mesmo ano.

Dois anos depois, ele foi condenado à morte à revelia por um tribunal militar egípcio por seu papel nos muitos ataques do grupo.

Alvos no Ocidente

Acredita-se que Zawahiri teria viajado para diversos países durante a década de 1990 em busca de abrigo e fontes de financiamento.

Nos anos que se seguiram à retirada soviética do Afeganistão, ele teria vivido na Bulgária, Dinamarca e Suíça — e teria usado um passaporte falso para viajar para os Bálcãs, Áustria, Iêmen, Iraque, Irã e Filipinas.

Em dezembro de 1996, ele teria passado seis meses sob custódia da Rússia depois de ter sido pego sem visto na Chechênia.

De acordo com um relato supostamente escrito por Zawahiri, as autoridades russas não conseguiram traduzir os textos em árabe encontrados em seu computador e ele conseguiu manter sua identidade em segredo.

Em 1997, acredita-se que Zawahiri teria se mudado para a cidade afegã de Jalalabad, onde ficava baseado Osama Bin Laden.

Um ano depois, a Jihad Islâmica Egípcia juntou-se a cinco outros grupos militantes islâmicos radicais, incluindo a Al-Qaeda de Bin Laden, na formação da Frente Islâmica Mundial para a Jihad contra judeus.

A primeira proclamação da frente incluiu uma fatwa, ou édito religioso, permitindo o assassinato de civis americanos. Seis meses depois, dois ataques simultâneos destruíram as embaixadas dos EUA no Quênia e na Tanzânia, matando 223 pessoas.

Conversas telefônicas via satélite de Zawahiri foram usadas como prova de que Bin Laden e a Al-Qaeda estavam por trás do complô.

Duas semanas após os ataques, os EUA bombardearam campos de treinamento do grupo no Afeganistão. No dia seguinte, Zawahiri telefonou para um jornalista paquistanês e disse: “Diga aos EUA que seus bombardeios, ameaças e atos de agressão não nos assustam. A guerra está só começando”.

Nos anos após a morte de Bin Laden, os ataques aéreos dos EUA mataram diversos auxiliares de Zawahiri, enfraquecendo sua capacidade de coordenação global.

E nos últimos anos, Zawahiri se tornou uma figura obscura e marginal, e raramente se pronunciava.

Os EUA tratam sua morte como uma vitória, principalmente após a caótica retirada do Afeganistão no ano passado. Mas Zawahiri teve relativamente pouca influência, já que novos grupos e movimentos como o Estado Islâmico se tornaram mais influentes.

Um novo líder da Al-Qaeda sem dúvida surgirá, mas provavelmente terá ainda menos influência do que seu antecessor.

– Este texto foi publicado em https://www.bbc.com/portuguese/internacional-62390197

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